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Artigo

  • Alpiste para os rolinhas

    O Globo (Rio de Janeiro), em 03/07/2005

    Sei que está bastante fora de voga faz algum tempo, mas sou dos que acreditam que, se fizemos uma promessa, devemos procurar cumpri-la. Quem teve o estoicismo, ou que outra razão atraia algum leitor, para ler esta coluna na semana passada deve recordar que prometi descrever o que esperava, com toda a honestidade, ser uma tarde empolgante, jogando alpiste para as rolinhas da Rua Dias Ferreira, aqui no Leblon. Tenho pouquíssima experiência no assunto, mas, depois de décadas numa profissão em que saber observar é indispensável, não vou dizer que sou bom repórter, não sou nem repórter mediano, mas conheço uns dois macetes operosamente aprendidos ao longo do tempo, peruando o trabalho dos craques e fazendo perguntinhas importunas.

  • O eterno feminino num boteco do Leblon

    O cara que aparecer na minha frente pra me dizer que compreende as mulheres, eu primeiro falo que ele é um mentiroso sem-vergonha e, se ele não gostar, eu meto a mão na cara dele, podes crer. Ninguém jamais entendeu, ninguém entende, ninguém jamais entenderá.

  • Pequena entrevista imaginária

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ), em 16/05/2004

    - General McBlaster, muito obrigado por sair de seu descanso na reserva para dar uma opinião sobre a participação do Exército brasileiro na repressão do crime na cidade do Rio de Janeiro. Um homem com sua experiência certamente terá muito a dizer.

  • Tirem suas próprias conclusões

    O Globo (Rio de Janeiro - RJ), em 09/05/2004

    Hoje vou transcrever textos alheios. Não por preguiça ou falta de assunto, mas porque creio serem uma interessante amostra do que vai em muitas cabeças, sobre o escandaloso terror que acossa a cidade do Rio de Janeiro. Escrevi parte do que penso no domingo retrasado. Mas o debate é bem mais variegado. Vejam duas opiniões em cujos textos não meti nem uma vírgula, nem corrigi o que imagino serem descuidos de revisão. A primeira talvez vários de vocês já conheçam, pois circula na internet faz um tempinho, mas não lhe consegui confirmar a autoria, daí não a mencionar, para não correr o risco de endossar uma atribuição falsa. E a segunda me foi enviada por um leitor que prefere não ter a identidade divulgada, porque só quer dizer o que pensa, mas não quer polemizar. Veio encimada por uma citação da governadora, que teria observado que “O usuário financia o tráfico e o estado é que paga o pato.” Seguem elas grifadas, aí embaixo.

  • O programa Fala Zero

    O Globo (Rio de Janeiro), em 08/05/2005

    Como diversos entre vocês (a palavra “como”, no caso, não é verbo, faço questão de esclarecer), fiquei um pouco surpreendido com a iniciativa do governo em orientar o uso da língua para o politicamente correto. Digo “um pouco” porque espero patadas desse governo com regularidade e os brasileiros estão acostumados a ele meter o bedelho em tudo. Mas, se a surpresa foi pouca, a reação não pode ser, porque, demonstra a História, é assim que começa. Vão tomando um dedinho, a gente deixa, aí tomam a mão, tomam o braço, tomam o tronco e quando a gente (aliás, “gente”, assim como “pessoa”, não devia ser palavra feminina, porque há o risco de ofender homens extremadamente ciosos de sua masculinidade; tentemos empregar, por exemplo, “gento” e “pessôo” ao nos referirmos ao sexo masculino e “genta” ao feminino) se dá conta, já tomaram o corpo todo.

  • Vão aproveitando aí

    O Globo (Rio de Janeiro - RJ), em 02/05/2004

    Claro, já estava por acontecer há muito tempo, só não via quem não queria. E olhem que as novidades mal começaram. Como sempre, asseguram-nos que o alcance delas é cientificamente limitado e, mesmo que não fosse, haverá leis severas para coibir abusos. Tudo conversa fiada, claro, assim como era conversa fiada (embora os americanos não soubessem disso, porque acreditam nos filmes que eles mesmos fazem sobre como são sempre os mocinhos) a noção de que a invasão do Iraque seria uma espécie de passeio, um piquenique animado a fogos de salão. Já tínhamos visto um outro tipo de filme, como observei modestamente na ocasião, continuamos a vê-lo e conviveremos com ele, ai de todos, ainda por muito tempo.

  • E onde fica a incompetência?

    O Globo (Rio de Janeiro - RJ), em 25/04/2004

    Às vezes a gente tem a impressão de que o Brasil é o país mais explicado do mundo. Talvez seja mesmo, até porque se trata de um hábito nacional buscar entender como uma terra tão extensa e rica parece hoje sem esperanças a tantos de nós. A colonização portuguesa, no momento um pouco esquecida, já serviu de explicação principal durante muito tempo. E não relacionada a fatores históricos pouco levados em consideração, ou mesmo ignorados, mas a noções que, de tão primárias, somente denunciam o preconceito ou a desinformação de quem as perfilha. Portugal, um país minúsculo e de população pequena, chegou, durante muito tempo, a ser uma das potências mundiais mais importantes e, no entanto, seu povo seria congenitamente incapaz. Desde pequeno, ouço como teria sido tão melhor se houvéssemos sido colonizados pelos holandeses, pelos ingleses, pelos franceses e assim por diante. Aí, sim, seria sangue bom, herança genética superior, que nos teria assegurado o desenvolvimento que jamais tivemos e talvez jamais venhamos a ter.

  • Eu sou leal

    O Globo (Rio de Janeiro - RJ) em, em 18/04/2004

    Estava demorando um pouco, mas acabou aparecendo neste governo também. Como se sabe, a imprensa é culpada de tudo o que acontece de ruim. Tem sempre sido assim e não vai mudar. Volta e meia alguém se lembra de que o jornalismo é uma profissão perigosa, mas pouca gente de fato se preocupa com isso, até porque o perigo só é visível para a maioria quando os jornalistas estão cumprindo missões como a cobertura de guerras. Mas o perigo é bem mais amplo e, nesta minha já não tão curta vida, tenho sabido de jornalistas assassinados, agredidos, presos e até obrigados a um tipo de gastronomia peculiar à øprofissão: comer o jornal em que se escreveu alguma coisa que causou o problema denunciado. Comer jornais pode até não ser tão usual hoje em dia, a não ser que o Fome Zero tenha feito mais progressos do que os divulgados, mas, quando comecei a carreira, na Bahia, era corriqueiro, principalmente no interior. Acredito que, com a crescente desvalorização da vida, esse costume vem sendo substituído pelo assassinato mesmo. Sai mais prático e sem tantos problemas, eis que matar ou mandar matar alguém está muito fácil hoje em dia e, segundo me contam, a concorrência é tal que o serviço pode sair por algumas poucas centenas de reais, talvez pagos com cheques pré-datados ou vales-transporte.

  • Então fica combinado assim

    O Globo (Rio de Janeiro), em 01/05/2005

    Acho que já passou a época em que não se podia aludir à ignorância do presidente da República ou ao conteúdo asneirento, desastrado ou grosseiro de inúmeras afirmações contidas em seus famosos improvisos ou ao óbvio deslumbramento com a fruição do poder, a ponto de ele haver cedido ao impulso, quiçá compreensível, mas injustificável, cafona e atrasadinho, de “branquificar-se” durante sua ascensão. Em vez do cabelo encarapinhado que lhe atestava a mestiçagem, passou a ostentar melenas sedosas. Foi saudado, enquanto dizia novas besteiras em sua visita à África, como o “primeiro presidente negro” do Brasil, o que, aliás, não é verdade, se se adotar o estranho critério segundo o qual uma pessoa pode ser filha de uma sueca com um zulu, ou seja, exatamente metade branca e metade negra, mas é negra. Acredito que muitos outros presidentes brasileiros foram semelhantemente negros, a começar pelo dr. Fernando Henrique, que dizia isso de si, embora nem sempre em termos muito elegantes. Mas Lula pediu as desculpas lá dele como branco. Enquanto isso, por acaso, eu recebia correspondência de um amigo que faz parte da comissão da ONU que trata da escravidão e ele mencionou a possível existência de 200 milhões (isto mesmo) de cativos no mundo de hoje e o problema recente, há uns dez anos, da escravização de pigmeus da República dos Camarões por bantus, estes, por ironia, muito numerosos entre os escravos que vieram para o Brasil - nada como um dia depois do outro.

  • Alegria, alegria

    O Globo (Rio de Janeiro - RJ) em, em 14/12/2003

    Recebi reclamações sobre o domingo passado. Fui, principalmente, acusado de estar de mau humor. Vejo-me obrigado a concluir, como era costumeiro antigamente, que o freguês tem sempre razão. Que história é essa de fazer comentários desalentados sobre o mundo em que vivemos, quando basta mudar os filtros com que observamos a realidade? Grande verdade, que se incute em minha mente de maneira irrefutável, enquanto saio mais uma vez de uma sessão com um dos conceituados membros de minha malha médico-odontológica, onde apenas uma horinha de tortura me aguardava, como, aparentemente, me aguardarão muitas e muitas outras dessas ocasiões educativas, numa quadra da existência em que cada vez mais tempo é dedicado à manutenção. É, egoísta e autocentrado é o que sou. Fico chateado porque, seguindo a ordem natural das coisas, tudo em mim começa a despencar e, entre muitas outras medidas de contenção de encostas, atacam minha mandíbula com uma Black & Decker e aí desconto em cima dos leitores, que não têm nada a ver com isso.

  • Já não está mais aqui quem falou

    O Globo (Rio de Janeiro), em 26/06/2005

    Jorge Amado, de quem pelo resto da vida me sentirei órfão, sempre me ensinava alguma coisa, às vezes obliquamente, com uma ironiazinha amistosa e divertida (agora me questiono, desculpem estes parênteses mal colocados, sei que abuso: pensei em escrever “amorosa” e aí usei “amistosa”, mas mandam a honestidade e a vergonha confessar que foi porque não quis me expor a piadinhas que na verdade refletiriam grossura ou má vontade da parte de seu autor e que, por que não dizer, eu estava agindo preconceituosamente, pois posso perfeitamente descrever meu relacionamento com ele como de amor fraterno, que eu tinha por ele e sabia que ele tinha por mim e portanto refaço o que ia fazer): Jorge Amado às vezes me passava ensinamentos com uma ironiazinha amorosa e divertida, volta e meia expressa apenas em gestos, mas quase sempre com histórias que eram meio parábolas. Ou então, sabedor de que meninos como eu e muitos outros o viam como sábio, exemplo de grande artista e a encarnação da generosidade, dava lições mesmo. Tenho-as bem estocadas na cabeça e consigo fazer uso de algumas, porquanto para outras careço da necessária categoria.

  • Vamos a essa limonada

    O Globo (Rio de Janeiro - RJ) em, em 04/04/2004

    Reza a venerável sabedoria popular que, quando o destino nos traz um limão, devemos, em vez de reclamar, fazer uma doce limonada. Venho pensando nisso há tempos e creio que já estamos produzindo diversas limonadas, mas sem planejamento e coordenação adequados. É natural: certas coisas ficam tão patentemente à vista que não as notamos. Apegamo-nos, como está mais ou menos na moda dizer, a velhos paradigmas. Mas é necessário mudar, é preciso que removamos os véus antigos que nos toldam a vista, ou não chegaremos nem perto da prosperidade sempre almejada e perenemente adiada. Abandonemos pudores descabidos, que só fazem atrapalhar. O mundo de hoje, regido pelo mercado, impõe a revisão de valores anacrônicos, irrelevantes e aliados do atraso a que parecemos condenados.

  • A tecnologia facilita muito a vida

    O Globo (Rio de Janeiro -RJ) em, em 30/11/2003

    O astro-rei esparge seus raios dourados pela fímbria do horizonte e amanhece um novo e estimulante dia de trabalho. Diligentemente, o escritor se posta com orgulho diante de seu possante computador, dotado de moderníssimos recursos tecnológicos. Sim, o escritor usa a também moderníssima banda larga em sua máquina e, portanto, pode trabalhar conectado permanentemente à internet, o que lhe possibilita acesso quase instantâneo ao oceano de dados lá disponíveis para pronta consulta e garante que sua nobre missão não falhará, no momento em que necessitar fornecer alguma preciosa informação a um vasto público sequioso de conhecimento.

  • Quem nasceu ontem?

    O Globo (Rio de Janeiro), em 19/06/2005

    Não sei em que vai dar todo o fuzuê da semana passada. É bem possível que não dê em nada e os punidos por acusações eventualmente provadas venham a ser o boy que comprou as malas do suposto dinheiro do mensalão (tenho que usar “suposto”, “alegado” etc., senão pode dar processo em cima de mim; mas, como é meio chato ficar repetindo esses adjetivos o tempo todo, peço que os subentendam daqui por diante) e talvez os caixas dos bancos que entregaram o dinheiro aos sacadores. E certamente vai sobrar para mim, pois deverei incorporar a condição de preposto do deputado Roberto Jefferson à minha condição de porta-voz de quem quer que achem que no momento estou portavozeando. Mas é isso mesmo, já estamos e já estou acostumado.