Feliz Aniversário, Acadêmicos!
Publicada em 10/01/2008 (atualizada em 11/01/2008)
Conheça os imortais que são os aniversariantes do mês.
Publicada em 10/01/2008 (atualizada em 11/01/2008)
Conheça os imortais que são os aniversariantes do mês.
Publicada em 02/01/2008 (atualizada em 03/01/2008)
As obras "Sargento Getúlio" e "Viva o povo brasileiro", do acadêmico João Ubaldo Ribeiro, serão reeditadas.
Publicada em 18/12/2007 (atualizada em 19/12/2007)
Publicada em 13/12/2007 (atualizada em 14/12/2007)
Publicada em 22/11/2007 (atualizada em 23/11/2007)
Publicada em 22/11/2007 (atualizada em 23/11/2007)
Já escrevi, aqui e em não sei mais lá em quantas publicações, a respeito do Sete de Janeiro, mas receio que bem poucos lembrem qualquer coisa da verdadeira data magna da independência brasileira. Meu avô, o coronel Ubaldo Osório, historiador, patriota e orador cívico, nunca se resignou com tal injustiça e quem o ouvia desdenhar do Sete de Setembro logo se contaminava com sua indignação. Amanhã, é claro, devia ser feriado nacional, pois é a data em que os itaparicanos expulsaram definitivamente o opressor lusitano e a ilha se tornou, no longínquo 1823, quiçá o primeiro solo realmente brasileiro. Bem sei que outras cidades, notadamente no recôncavo baiano, reivindicam a mesma glória, mas advirto aos que assim pensam, em qualquer parte do orbe terrestre, que o fantasma de meu avô, com o sobrolho cerrado e as bochechas panejando de cólera, virá assombrá-los, tão certo quanto o domingo vem depois do sábado.
Não sei se alguém já disse isto, mas tudo neste mundo é relativo. Por exemplo, não escondo ou diminuo minha idade, embora não censure quem o faça, mas tampouco a aumento, como já foi minha prática corriqueira. Ao matutar agora, neste fim de ano que como sempre nos traz um estado de espírito diferente, lembro o tempo comoventemente patético em que, na companhia de amigos corajosos, dispensava a carteira de estudante que, em troca da meia-entrada, me denunciava a idade, para enfrentar com a bravura possível a severidade do porteiro do cinema, quando estava passando "filme impróprio". Entregava meu ingresso e me embarafustava pela passagem, antes que meu rosto imberbe e cheio de espinhas chamasse a atenção do porteiro. A maioria deles era simpática, mas havia um (não esqueço a cara dele, baixinho de bigode, hoje certamente falecido e Deus o tenha, embora eu não faça tanta questão), no antigo Cine Glória em Salvador, que me pegava sempre e que quase me fez perder a cena em que aparecia um peito de Françoise Arnoul, num filme em que ela era amante de Fernandel.
- Você vê como são as coisas. Antigamente, no Natal...
Na quarta-feira passada, sabedor de que, no Senado da República, estaria sendo travada a grande batalha democrática da CPMF, liguei a TV cedo, mandei buscar farto suprimento de pipoca e, juro a vocês, assisti a todo o espetáculo, com exceção dos comparativamente raros momentos em que caí no sono e fui logo despertado por um dos muitos brados retumbantes dados no plenário. Eu não me perdoaria se perdesse aquelas cenas, que, para começar, só podiam acontecer no Brasil mesmo. Imagino que, em qualquer outro país, o espanto seria absoluto e muita gente não ia acreditar nem vendo.
Certas coisas são meio chatas de confessar, e eu não devia contar nada, mas o assunto não me sai da cabeça e, como sempre, se impõe despoticamente, o que significa que vou falar nele. E não posso mentir, não só porque mentir decerto está na moda, mas é feio, como porque, se mentisse, estaria escamoteando justamente o sentimento que agora me acompanha para todo lado. Fiz o possível para escrever sobre outras coisas, chega de reclamar do governo e dos governantes, é domingo, vamos mudar de assunto, vamos nos alienar um pouco, não é pecado tão grave assim. Eu não quero ser como o colega de serviço que chega para a rodada de cerveja da sexta à noite e a primeira coisa em que fala é na previsão de faturamento em dezembro.
Menino, a gente se distrai e, quando vê, já é dezembro, fim de ano. Cada ano - e eu sei que os mais velhos notam isso agudamente - passa mais depressa que o anterior, que por sua vez será mais acelerado e por aí nós vamos, uns menos aos trancos e barrancos do que outros, cada um sabendo onde lhe doem os calos e todos procurando em quem botar alguma culpa, como sempre comentou meu querido amigo finado Zé de Honorina. Ele nunca leu Freud, mas não precisava, sabia tudo de nascença.
Já escrevi duas vezes aqui a respeito de como acho que está em andamento um golpe a ser dado pela situação, mais especificamente através do uso do apetite imoderado do presidente da República pelos gozos do poder. Para ele, não há diferença entre parlamentarismo, presidencialismo, socialismo, comunismo, fascismo, democracia, caudilhismo, peronismo, fujimorismo, esquerda, direita, nada disso. Não me refiro à sua dele ignorância teórica, pois que esta é tão vasta que ele jamais lhe vislumbrará os limites e corresponde ao porte de sua esperteza, ausência de escrúpulos (praticante de Realpolitik, dirá um dos membros do seu serralho moral), sinceridade duvidosa e apetite por tudo a que tiver direito, inclusive ao que não tem direito ainda, mas certamente quererá, se lhe for oferecido. E, claro, se chamado a dar uma definição dessas palavras aí em cima, seguramente encontrará dificuldades, até porque é assunto que nunca lhe interessou muito, a não ser numa necessidade prática aqui e ali. Não lhe interessam rótulos e ideologias. Interessa o poder.
Está quase na hora de pegar o avião e, portanto, escrevo ainda de Berlim. Mas, por via das dúvidas, confiro na janela. Sim, lá embaixo estão as boas e velhas Windscheidstrasse e Kantstrasse - é Berlim, sim. Pode parecer maluquice, e talvez seja mesmo, o sujeito não saber bem em que cidade, ou mesmo país, está. Comigo, que sofro de acentuado cretinismo topográfico, é comuníssimo. Fizeram-me circular também por Bruxelas e outros lugares, de maneira que a confusão é natural para mim. Agora tudo me parece um redemoinho de mesas-redondas, palestras, reuniões e entrevistas, nas quais espero não ter envergonhado o Brasil, mas prefiro não procurar opiniões, é mais seguro. De qualquer forma, apresso-me a esclarecer que não viajei às custas do governo ou de qualquer entidade brasileira, fato que não mencionei antes, mas é sempre prudente lembrar. Como à maioria dos leitores, o governo não me dá nada, apesar de todo ano abocanhar uns quatro ou cinco meses dos caraminguás que, nesta vida airada de escritor, ainda consigo catar. E boto as mãos para o céu por não nos cobrarem taxa de respiração, que poderá surgir no futuro e cuja inadimplência talvez venha a ser punida com a instalação de um prendedor de roupas sobre as narinas do infeliz caloteiro, depois de decisão emanada do Ministério da Respiração, a ser criado quando não houver mais empregos para o Nosso Guia dadivar aos companheiros, ou seja, enquanto a vida de todos os componentes da famosa base aliada não estiver arrumada, principal objetivo e finalidade do governo. E a Zelite, por mais que eu reclame, tampouco jamais me deu um vintém furado, é um descalabro.
Aqui estou, em mais um titânico esforço de reportagem deste periódico, depois de uma situação calamitosa, tudo fazendo para proporcionar aos nossos ávidos leitores uma cobertura tão completa quanto possível dos acontecimentos alarmantes que se sucederam vertiginosamente, a ponto de havermos temido o pior. Conferenciei com um vizinho, que é da Europa Oriental e, no primeiro momento, se encontrava trêmulo e pálido. Comunicamo-nos em inglês, já que ele fala uma variante de um dialeto servo-croata-montenegrino, ou algo assim, ou então estava uivando mesmo, nunca saberei.