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Antonio Callado: eterna utopia de transformação

 

José Joffily lança DVD sobre o escritor de “Quarup”

Monique Cardoso

"Ninguém tem mais paciência de esperar o futuro do Brasil". A frase do jornalista e escritor Antonio Callado permanece atualíssima. A necessidade que o autor de Quarup e A madona de cedro, morto há 10 anos, tinha de radiografar os problemas do país pode ser revivida no documentário A paixão segundo Callado, dirigido por José Joffily, que será lançado em DVD amanhã, às 11h, no Armazém Digital do Leblon.

- Quis chamar a atenção para a presença permanente da utopia que ele tinha de mudar o mundo e verificar em que medida isso foi transmitido aos seus descendentes - diz Joffily.

O registro traz depoimentos de Ana Arruda Callado, mulher do escritor, de seus filhos e netos e também de críticos literários, escritores e personalidades que conviveram com ele. Também reúne uma série de entrevistas com o jornalista e imagens de arquivo, que tornam Callado o narrador da própria história.

- Não nos preocupamos em esgotar temas. A advertência é dada ao espectador logo no início, pela própria Ana Arruda, ao contar que um amigo do marido chegou à casa dela e disse: "Olha, você se casou com o Callado, mas saiba que jamais o conhecerá completamente".

Em Londres, paixão pelo Brasil

O filme dá um panorama da carreira e da obra do escritor: seus anos no jornal Correio da Manhã e posteriormente na BBC, revelando como a ida para Londres o fez descobrir o Brasil e se apaixonar por ele. Recupera suas memórias da cobertura, pelo Jornal do Brasil, da guerra do Vietnã. Ele preferiu observar o conflito do Norte, comunista, quando toda a imprensa estava no Vietnã do Sul, apoiado pelos Estados Unidos. As reportagens estão no livro Vietnã do Norte - Advertência aos agressores (1967). Até abandonar de vez as redações de jornal, na década de 70, o escritor se valeu da veia de repórter para trabalhar em suas obras de ficção. Foi o caso de Quarup (1967). Callado dizia que não poderia descrever o cenário de um romance sem ver o lugar com os próprios olhos. De um número infindável de cadernos escritos à mão - ele usava uma mesinha com rodinhas para criar em qualquer lugar de sua casa - saíram mais de 20 livros, entre os quais oito peças teatrais.

A idéia de fazer um documentário partiu da atriz Tessy Callado, filha do escritor com a inglesa Jean Watson, e das produtoras do filme, Nina Luz e Cláudia Castelo, da Lumen. Tessy, que começou a ler escondida os livros do pai, aos 9 anos, preparou o discurso para gravar seu depoimento.

- Escolhi o que iria dizer porque me sinto responsável por divulgar as idéias dele para os mais jovens.Quando foi eleito para a ABL, não se tornou imortal? - questiona a atriz.

Tessy saiu da casa dos pais aos 15 anos para estudar em Londres, onde ficou por três anos. Mas diz que só na volta se deu conta da importância política dele. À medida que o tempo passa, ela acha que compreende um pouco mais o pessimismo que ele expressava no fim da vida:

- A impressão que eu tinha era que ele sempre era maior do que eu imaginava quando jovem. É por histórias como a da menina no Pará, que ficou numa cela com 20 homens, que compreendo a mágoa dele com o Brasil.

Nomes como Ferreira Gullar, João Ubaldo Ribeiro e Fernanda Montenegro falam do caráter combativo e ao mesmo tempo elegante de Callado, carinhosamente chamado de "o doce radical". Fernanda lembra dos encontros da intelectualidade carioca, comandados por ele, no Teatro Casa Grande:

- A gente se reunia para discutir correntes de pensamento, a situação política. Somos sobreviventes de uma época cujos acontecimentos têm reflexos até hoje. Callado ainda é um referencial tão quente...

Filme será distribuído em escolas

O longa-metragem será distribuído em escolas, bibliotecas e universidades. Foi rodado em poucas semanas, no início deste ano, e finalizado em outubro. Joffily o dirigiu durante a pré-produção de seu novo longa-metragem, Olhos azuis, que tem como tema a imigração de brasileiros e latinos nos Estados Unidos, cujas filmagens terminam esta semana, no Rio.

- Estou numa fase em que o documentário é hoje um gênero que prefiro fazer. Na ficção você fala mais do que escuta, só ouve perguntas. No documentário, aprende-se muito mais, ouve-se respostas - diz o cineasta.

Jornal do Brasil (RJ) 14/12/2007

13/12/2007 - Atualizada em 13/12/2007