Vai sair uma reforma
O Globo (Rio de Janeiro), em 19/09/2004
Abem da verdade, a palavra “reforma” já não me dizia muita coisa. Desde que me entendo, ouço falar em reformas. Algumas gozam de status especial, como a agrária, cuja menção sempre esculpe semblantes graves nos que a ouvem e gestos de desalento de etiologia diversificada, conforme as convicções do autor dos gestos. Ela é certamente a decana, vê-se logo que não é uma qualquer, tem aquele quê (lembrei agora do tempo em que se falava em “it”; alguém aí ainda manja o “it”? Tudo bem, esqueçam) dos aristocratas, do dinheiro velho e das tradições. Acho que, se chamada a complementar rapidamente o substantivo “reforma”, a grande maioria dos brasileiros, exceção feita a dois ou três dos que me lêem que dirão “do banheiro”, proferirá automaticamente “agrária”. Todo mundo ouve isso desde pequenininho, é uma coisa meio pavloviana, embora Pavlov se tenha celebrizado por pesquisas com cães, não carneiros - mas isto já é outra história.