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Artigos

 
  • A alternativa

    Não parece, mas a crônica anterior, publicada na quinta-feira, sobre as Guerras Púnicas, gerou inesperado retorno dos leitores, que se manifestaram em e-mails, todos a favor. Menos um, que preferia assunto mais recente e mais empolgante, como o caso da Receita Federal versus a filha do Zé Serra.

  • A agonia do JB

    O Jornal do Brasil nasceu em 1891, fundado por Rodolfo Dantas, filho do Conselheiro Dantas, lendária figura do Império, para combater a República. Eram os viúvos da Monarquia, como dizia Nabuco, que formavam sua equipe de enfrentamento.

  • Onde estava o povo?

    Mesmo antes da fotografia, cenas importantes da história dos povos eram retratadas por artistas famosos. Que usavam tanto o conhecimento do que havia acontecido como sua própria imaginação. A distorção da realidade era inevitável, mas, de qualquer modo, trata-se de obras importantes. No caso do Brasil, permitem uma sempre oportuna reflexão sobre a relação entre povo e poder. Três quadros são, neste sentido, paradigmáticos, a começar por A primeira missa no Brasil, do catarinense Victor Meirelles de Lima (1832-1903). De origem humilde, Victor Meirelles teve, no entanto, seu talento logo reconhecido, tornou-se aluno da Academia Imperial de Belas Artes, aperfeiçoou-se na Europa, especializou-se em pintura histórica. Seu quadro mostra a primeira missa rezada em nossa terra. Vemos ali, diante de um improvisado altar, um padre, no momento em que eleva no ar o cálice com o vinho. Próximos a ele, frades e os descobridores, alguns com couraça e armas. Na periferia, sentados no chão, ou sobre árvores, os índios, aparentemente espantados com o que estão vendo. O segundo quadro é obra do artista paraibano Pedro Américo, que, como Victor Meirelles estudou em Paris e era um respeitado representante da arte acadêmica no Brasil. Em 1888, e a pedido do governo imperial, pintou uma gigantesca tela, de quase 8 metros de largura por 4 metros de altura, que atualmente está no salão nobre do Museu Paulista da USP. A denominação original era Independência ou Morte, mas a obra ficou conhecida como O grito do Ipiranga. Além de Dom Pedro, os personagens principais são os garbosos cavaleiros da comitiva; formam um semicírculo à direita e à frente do grupo principal. À esquerda, Pedro Américo não colocou cava leiros; mas, e até por questões de simetria, algo, ou alguém, tinha de aparecer ali. O artista então optou por uma solução que, se não chega a ser inusitada, pelo menos chama a atenção. O que temos ali, à esquerda, é um homem do campo, conduzindo uma carreta com toras, um espectador absolutamente casual que olha a comitiva com óbvia curiosidade e até espanto.

  • A vida e a história

    "É o final de um dos romances de Émile Zola, "A Fecundidade". Ao terminar o gigantesco projeto dos Rougon-Macquart ("História Natural e Social de uma Família sob o Segundo Império"), Zola escreveria o que chamou de seus quatro evangelhos: a fecundidade, o trabalho, a justiça e a verdade. O primeiro deles termina com o grito de uma jovem camponesa varando a tarde e o campo: "A vaca pariu um bezerro!"

  • A formação do povo político

    Falar em democracia política é falar do governo do povo. Segue-se que a condição da existência da democracia é a presença de um povo político. Povo político, por sua vez, é aquele que dispõe de todas as condições, materiais e intelectuais, para participar conscientemente e eficazmente da vida pública de maneira direta ou indireta. É aquele que pode votar, aderir a partidos, manifestar-se nas ruas e na mídia, apoiar, protestar, rebelar-se. Povo político é a cidadania ativa.

  • A canoa do corpo

    Remo com força para a direita. A canoa é um pouco mais que o corpo.A canoa é o corpo; o rio, alma. A voz das águas tende a vir pelas narinas do sono.

  • Comer para emagrecer

    A obesidade é uma patologia. Assistíamos de longe aos esforços de países desenvolvidos, como os Estados Unidos, para combater o fenômeno que atinge especialmente a sua juventude. Agora, isso nos toca de perto. Cerca de 30% dos nossos jovens padecem do mal, sobretudo nas regiões desenvolvidas do país, provando que não nos livramos dos contrastes que marcam a nossa história: de um lado, no Norte e Nordeste, ainda há marcas evidentes da desnutrição que causa a fome, como comprovou o cientista Josué de Castro. No Centro-Sul e no Sudeste, produtos industrializados (frituras, doces e refrigerantes), um grande mal.

  • Sabedoria de Athayde

    Até hoje, o nome de Austregésilo de Athayde é pronunciado com muito respeito na seara cultural. Foi um belíssimo orador, valorizando a arte de falar, que dominou como poucos. Tinha um poder especial sobre as plateias que o ouviam, com um certo embevecimento, pois construía frases de efeito utilizando, em geral, o seu vasto conhecimento sobre a Grécia e os seus mitos. De uma feita, homenageado em São Paulo, pediu a palavra antes do jantar e se prolongou muito, para desespero da dona da casa. Com delicadeza, chamei sua atenção. A resposta foi dada para que todos pudessem ouvir: “Não vim aqui para comer. Podem começar a servir que eu vou continuar falando até cansar...” Praticamente, perdeu o delicioso jantar. Um dos privilégios da minha vida foi ter convivido, por muitos anos, com o grande presidente da Academia Brasileira de Letras, jornalista Austregésilo de Athayde. Dele recebi admiráveis lições, que não saem da minha memória. Uma delas foi a tolerância com os detratores da instituição, muitos deles escritores frustrados. Quando lhe perguntei a causa dessas críticas, ele me olhou com a complacência dos mais velhos, e disparou: “Não se preocupe com isso, meu filho. Assim que eles entram para a Academia, mudam de opinião.”

  • Maquiavel,Serra e a oposição

    A aguda crítica de Demétrio Magnoli à campanha de Serra é também antológica quanto ao equívoco que marca a próxima ida às urnas. Não se trata mais de uma escolha entre situação e oposição, em nome de um metafísico direito de voto. O “berro da realidade”, a que se refere o analista, é de uma tomada de consciência nacional quanto ao nosso rumo político: ratificar, ou não, a continuidade do que está aí, como o único e desejável caminho do desenvolvimento sustentado.

  • Que cargo...

    Depois que a evolução política da humanidade criou o presidencialismo como uma das mais altas conquistas da democracia, a eleição presidencial passou a ser o mais importante evento do exercício democrático. O voto é a síntese de toda construção que se processa no sistema político. Uma eleição presidencial é uma soma de ambições, que vão das mais legítimas até à do poder partidário, que se resume no direito de proporcionar mandos menores.

  • Guerra e sigilo

    Clausewitz, o maior filósofo da guerra, afirmou ser ela uma continuação da política por outros meios. No Brasil Colônia (séc. 16 e 17), no enfrentamento com os índios, até os padres falavam em guerra justa, destinada a salvar as almas dos indígenas do diabo. Anchieta foi um encabulado adepto dessa linha.

  • Arte, loucura, terapia

    A ideia segundo a qual os artistas são meio malucos é antiga. Para os gregos, o impulso artístico resultava de uma possessão, verdade que pelas gentis Musas, mas possessão. E de possessão a loucura vai um passo, o que explica o comentário do poeta inglês Lord Byron: “We, of the craft, we are all crazy”, nós, desse ofício, somos todos loucos. O diagnóstico vale não só para a poesia, mas para todas as artes. Na pintura não foram poucos os casos de franca doença mental. Num ataque de loucura, Vincent Van Gogh cortou uma orelha. O norueguês Edvard Munch, de O Grito, era alcoólatra, sofria de alucinações e foi internado numa clínica psiquiátrica. Andy Warhol tinha um grau moderado de autismo.

  • Cabral e a Oração aos moços

    Bernardo Cabral, ele também um grande orador e jurista de renome, relator dos trabalhos da Constituinte de 1988, fez uma apreciada conferência no Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Recordou, com muita propriedade, o que Rui Barbosa representou para o Brasil, nas várias atividades nacionais e internacionais em que se envolveu. Sem dúvida, uma figura estelar, como o jornalista e acadêmico Murilo Melo Filho demonstrou de forma competente no livro “O brasileiro Rui Barbosa”, há pouco editado pelo jornal “A União”.

  • Qual independência?

    O brado de dom Pedro I no 7 de setembro sintetiza um desafio que também aparece em lemas, em canções, em hinos, em poemas: ou a liberdade ou a luta, luta encarniçada, mortal. É algo universal: se vocês entrarem no Google e digitarem a (aproximada) versão em inglês desta expressão, “freedom or death”, aparecerão nada menos de 68 milhões de referências, que incluem o título de um livro do grego Nikos Kazantzakis (autor de Zorba, o Grego), o nome de uma banda, e a inscrição de uma camiseta apreendida no aeroporto de Londres sob a alegação de que incitava ao terrorismo. “Independência ou morte” expressa o indignado desejo coletivo de um país, de um grupo humano; no caso de dom Pedro havia também o drama pessoal, desencadeado pela carta recebida junto ao Ipiranga, em que o pai lhe ordena que retorne a Portugal. O príncipe era muito jovem e tinha emoções à flor da pele – suas paixões eram célebres. Certamente, e quem sabe movido por um sentimento edipiano, tomou a determinação paterna como medida opressora, tirânica. E, aí, sacou a espada e soltou seu brado, aclamado entusiasticamente pela comitiva; o povo, como de costume, não estava presente.

  • Arte e enxaqueca

    Enxaqueca, todo mundo sabe, é um tipo de dor de cabeça que, em geral, é sentido em um lado só do crânio; daí o termo “hemicrânia”, criado pelo famoso médico Galeno de Pergamon há quase dois milênios – o problema, portanto, é muito antigo. De hemicrânia surgiu o vocábulo migraine, em inglês e francês, uma das palavras mais empregadas na linguagem médica, o que não é de admirar: cerca de 10% das pessoas têm esse problema.