
Uma festa perfeita
RIO DE JANEIRO - Na minha infância havia um ditado que todos repetiam: "Araruta tem seu dia de mingau". Para falar a verdade, nem sei direito o que é araruta, deve ser um cereal menos nobre que, em determinadas circunstâncias, é promovido à nobreza de produzir um mingau.
O novo ministro
A escolha de Nelson Jobim para o Ministério da Defesa, no lugar de Waldir Pires, deve ter levado em consideração o seu passado. Nelson Jobim foi deputado, ministro da Justiça, do Supremo Tribunal Federal e agora foi chamado - numa hora crítica para Aeronáutica - para assumir a Defesa.
Tradição do circo
RIO DE JANEIRO - Foi estimulante para a nação a cerimônia de posse do novo ministro da Defesa. O astral da pátria andava por baixo com a sucessão de problemas e tragédias. Em aparição anterior, Lula declarou pateticamente que estava com o coração sangrando, desobedecendo ao conselho de sua ministra do Turismo, que sugeria relaxamento e gozo a todos nós.
Esculhambação
Tive de enfrentar um certo trauma de infância, para conseguir usar o título acima. Sou do tempo em que essa palavra era chula mesmo e, como diz o Houaiss, tabuísmo. Menino que a pronunciasse na frente de senhoras estava arriscado a ter a boca lavada com sabão. Agora se escreve e se publica em jornal praticamente qualquer coisa e ela já faz parte do vocabulário cotidiano. Assim mesmo, sou obrigado a evitar os olhares de reprovação dos fantasmas de meu pai e de meu avô, ambos eméritos xingadores de jornal, mas xingadores finos, que raspavam palavrões polissilábicos em textos barrocos e nunca escreveriam nada com o título que escolhi hoje.
A vergonha do trabalho infantil
O Brasil exibe aos olhos do mundo uma das faces mais perversas da sua ostensiva injustiça social: o trabalho infantil. Outro dia, na TV, chegamos ao constrangimento, na presença de visitas estrangeiras, quando o noticiário mostrou, de forma eloqüente, quantas crianças viviam do lixo, catando objetos, sujando as mãos, respirando o ar impuro desses locais. Quando o repórter perguntou a algumas delas se estavam satisfeitas, com os resultados, mesmo de forma tímida foram capazes de balbuciar que “preferiam estar na escola”.
Rochas e rotina
Os monges zen, quando meditam, costumam sentar diante de uma rocha e dizer: “Agora vou esperar esta rocha crescer um pouco”. Tudo o que está a nossa volta muda sempre. Aquilo que nós costumamos chamar de rotina está sempre cheio de novas propostas e oportunidades. Nada é aborrecido, porque tudo sempre está em constante mutação. O tédio não está no mundo em que nós vivemos, mas na maneira como o enxergamos. Como dizia o poeta T. S. Eliott, “é preciso percorrer muitas estradas, voltar para casa e olhar tudo como se fosse pela primeira vez”.
Amor na hora certa
Um padre da Igreja de Copacabana aguardava seu momento de comprar carne em um supermercado, quando uma mulher tentou “furar” a fila. Começou, então, um festival de agressões verbais dos outros fregueses. A mulher, é claro, passou a responder com igual veemência. Quando o clima estava insuportável, alguém gritou: “Ei, madame. Deus te ama”. E todos ficaram calados. “Foi impressionante”, conta o padre. E continuou: “Num momento em que todos pensavam em ódio, alguém falou de amor. Na mesma hora, a agitação desapareceu por encanto”.
Velho ditado
Fiz um velho ditado mágico: quando o discípulo está pronto, o mestre aparece. Pensando nisso, muita gente passa a vida inteira se preparando para tal encontro. Quando cruzam com o mestre, se entregam completamente. Mas, terminam descobrindo que o mestre não é o ser perfeito que imaginaram, mas um home igual a todos, cuja única função é dividir aquilo que aprendeu. Ao se ver diante de uma pessoa com seus defeitos, o discípulo se sente roubado. Vem o desespero e o desejo de abandonar a busca - quando, na verdadwe, é assim que a coisa funciona. É isso que nos deixa livre para criarmos nosso caminho. Edenilton Lampião deu uma versão muito melhor para o tal ditado mágico: quando o discípulo está pronto, o mestre desaparece.
Piora tudo
Ocorreu de tudo contra a administração pública, a técnica e o livre trânsito dos passageiros.
O poema além do poema
Durante alguns anos, na segunda metade do século XIX, no ambiente de efervescência intelectual da Universidade de Oxford, foi Gerard Manley Hopkins considerado uma espécie de herói e tido como capaz de vir a ser a mais certa glória literária de sua geração. Isto de fato aconteceria, mas de maneira diversa da que todos imaginavam porque, em 1866, Hopkins se converteria ao catolicismo para ingressar na Sociedade de Jesus.
A glória do esporte
Podemos afirmar que somos grandes no esporte em geral, como grandes temos sido no futebol.
Caro é o atraso
Como sempre acontece, quando a pauta se refere ao magistério, houve um debate apaixonado na cidade fluminense de Campos dos Goitacazes, sendo o tema avaliação. A louvável iniciativa foi da Câmara de Vereadores. O leit-motiv, a nota 2,9 alcançada no Ideb (índice de desenvolvimento da educação básica), em que o município da cana de açúcar ficou em último lugar, no Estado do Rio de Janeiro.
A flauta de Mozart
O filme “Amadeus” mostra que, massacrado pela crítica musical de sua época, que o acusava de superficial, Wolfgang Amadeus Mozart se consolava sabendo que o público gostava de sua arte. Sua última ópera, “A flauta mágica”, mostra um Mozart de uma leveza extraordinária, ignorando a filosofia sinistra que complica a vida. Para um amigo, ele explicou: “A vida é permanente. Ela não precisa de significados ocultos para mostrar sua beleza. Deus não está na tortura da alma, mas na capacidade que o homem tem de olhar as estrelas e ficar comovido”.