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Artigos

 
  • E o futuro?

    Quando as eleições estão a 75 dias, falar do futuro parece ingenuidade. Todos pedem que se fale sobre o presente. Mas o presente, diz Eliot, é uma soma do passado e do futuro.

  • Lula no G-8, mas não tanto

    A Conferência de São Petersburgo levou Lula ao novo rondó do G-8 com as periferias. Convidados, dois a dois, os países da Ásia, África e América Latina, para ninguém pôr defeito, nos cerimoniais de um novo consenso, de até onde podem ir os donos do mundo, na crescente consonância entre os Estados Unidos e o Velho Continente. Não há que se sublinhar a efetiva satelitização por Washington de todo o bloco oriental, já com pé nas decisões de Bruxelas e Estrasburgo. Na seqüência do encontro de há semanas na Áustria, reconheceu-se a prioridade do problema do terrorismo internacional e o fato consumado do intervencionismo americano para debelá-lo, a partir do Oriente Médio. O veto contundente de Bush, no Conselho de Segurança à contenção de Israel no Líbano, mostra o quanto essas novas lógicas da dita estabilização internacional afastam as Nações Unidas de um multi esforço coordenado para superar-se o 11 de setembro. O cenário de São Petersburgo apresentou todas as características da pasteurização democrática para o espetáculo desta nova Rússia, como a espera o Salão Oval. Protestos nas ruas, dissidências aplaudidas, perigo de vaia, na boa claque em que o protesto minoritário e estridente faz parte das regras do jogo e da boa consciência da presente ordem global. Neste quadro dissiparam-se, também, as reivindicações ditas periféricas, a que o governo Lula deu a maior ênfase de sua presença internacional. Não prospera nosso projeto inicial, de pacto com Pretória e Nova Deli. A ascendência americana, subseqüente às novas eleições hindus, eliminou a primeira proposta brasileira, de retomada de um jogo possível de barganhas e de reequilíbrios, frente à efetiva concentração do poder econômico global. Mais ainda, a Índia se beneficia, hoje, de todas as bênçãos americanas, para a expansão da sua energia nuclear para fins pacíficos, em contraste com o veto acirrado e crescente ao vizinho Irã. Ao mesmo tempo, o novo rumo dos pactos continentais africanos recentra a política de M"Becki, para, ainda, mediatizar a política de doações internacionais nascidas da devastação social e econômica da mais desvalida das periferias. Ao lado do presidente do México, Lula foi ao Palácio dos Tzares, mão na mão, debutantes do novo luxo político. Mas dentro de um contraste prospectivo, quanto à solidez política e econômica dos dois maiores países da América Latina. Se é tranqüila a reeleição brasileira, a vitória do sucessor de Fox se dá por um fio de cabelo e a força, nas ruas, do eleitorado de Obrador mostra um país dramaticamente partido quanto as opções do desenvolvimento. Juntando a África do Sul ao Congo, o G-8 reduziu o convite a uma nova exigência protocolar. O segundo parceiro africano preencheu a vaga para tão só evidenciar a solidão hoje do governo de Pretória como, de fato, a economia a sobreviver no Continente, pela legítima expressão política e econômica nacional. Na parceria asiática, Washington demonstrava o sucesso da conquista de Nova Deli e a certeza de que a presença chinesa não faria verão, ou agregaria os países de população bilionária do século.  O clima de segurança que irradia nestes dias o Salão Oval pôde permitir a declaração grotesca votada, por bancada mínima, no Congresso americano, da denúncia do polvo terrorista, como hoje visto pelos neo-conservadores dos Estados Unidos. O Brasil torna-se suspeito por esses parlamentares, de ceder à conspirata internacional de Zarkawi, e permitir, a partir da tenebrosa área das três fronteiras, em Iguaçu, a entrada na América Latina da subversão para chegar ao México, e atravessar a fronteira "para cometer ato de terror". Grave não é o delírio da perspectiva, mas o quanto ela pode evidenciar, pelo seu próprio desvario, a fragilidade da opinião pública americana, ao receio da agressão externa, e o apoio sem mais discussão do empenho da sua ação militar preventiva em todo o mundo. A quebra da estabilidade libanesa pode ser o primeiro passo de descarte dos governos legítimos, na abertura dada a Israel como gendarme do status quo, como pax americana. De toda forma, a exasperação das condições de segurança urbi et orbe revoga por contraste a temática básica do velho clamor periférico, em que cresceu, nestes anos, a liderança brasileira e a voz de Lula nos cenários internacionais. E a possível discrepância da Rússia, no imo do G-8, aquietou-se de vez, diante do novo surto terrorista da Chechênia, e o primeiro reflexo de São Petersburgo será a sucessão de Kofi Annan em setembro próximo. Na questão de fundo o que fica claro é o quanto os Estados Unidos vão ao garrote terrorista, independentemente do que pensem ou digam as Nações Unidas. Bush e Blair podem até repetir como palavrão o que vem como empecilho à sua visão da paz mundial. E até onde a escolha do novo homem-chave, na sucessão do ganês, pode levar à saída dos Estados Unidos e à repetição do colapso da velha Liga das Nações em Genebra. Quem ainda se lembra dela?

  • O melhor índice de instrução do País

    O Rio de Janeiro, antes da fusão, orgulhava-se de deter o melhor índice médio de instrução do País. O fato era elogiado pelos maiores educadores brasileiros, muitos dos quais viviam aqui mesmo, na Cidade Maravilhosa. Entre eles, Anísio Teixeira, Almeida Jr., Lourenço Filho e Fernando de Azevedo.

  • Saudades de Josué Montello

    Recordo-me de Josué Montello e recuso-me a aceitar sua morte, no dia 15 de março deste ano, aos 89 anos incompletos. Diante do inevitável e de tanto sofrimento, a sua entrada na terra desconhecida ainda parece incompreensível para nós, os seus companheiros.

  • Presença de Adonias

    Os símbolos da arte ficcional de Adonias Filho foram o sangue, o rifle, o punhal, a mulher, a montanha, a floresta, os arruados, a fogueira, o caminho, as andanças - tudo o que provém do nomadismo de um período da história do homem e da violência primitiva implícita nesse nomadismo. Por isto, seus romances não têm um ritmo cadenciado que se destine a proporcionar repouso ao leitor. Não. Para ele não havia descanso. Seus livros costumavam ser feitos num só hausto.

  • Uma festa em Purilândia

    Seria refinado primarismo comparar e tirar conclusões sobre a educação que se pratica no interior do País e aquela que é própria dos grandes centros urbanos. As necessidades são distintas, o mesmo podendo ser dito a respeito do tempo destinado ao lazer. É claro que, nas cidades interioranas, com menos atrações como a praia, os shows, os cinemas, etc., sobra mais tempo para a leitura e a dedicação aos estudos. Isso exerce uma influência altamente positiva, sobretudo nas séries iniciais do ensino fundamental.Veja-se o resultado do "Prova Brasil", do MEC, em que escolas públicas de quarta série, no sistema estadual, ganharam os primeiros lugares, nas cidades serranas de Trajano de Moraes e São Sebastião do Alto. As matérias foram Matemática e Língua Portuguesa. Os alunos, questionados, atribuíram o sucesso à dedicação deles e dos mestres, aos quais têm acesso dentro e fora da escola. É a vantagem de uma cidade pequena, em que todos são família ou amigos de longa data.Tivemos o privilégio de sentir esse clima na visita ao distrito fluminense de Purilândia, em Porciúncula. O objetivo era inaugurar as benfeitorias da Escola Estadual Geraldino Silva. Depois de um investimento de perto de 1 milhão de reais, o estabelecimento de ensino ganhou biblioteca, cozinha, refeitório para 80 pessoas, sala de informática, banheiro para portadores de necessidades especiais, vestiários e uma bonita quadra coberta poliesportiva. A diretora Neusa Luquetti, feliz da vida, disse que "a escola nem parecia a mesma. Tudo novo, como merecem os nossos mais de 200 alunos."Na confraternização com a comunidade, o deputado Jorge Picciani elogiou a banda de música, que acompanhou a solenidade com uma cadência muito própria. Não deixou de fazer uma justa referência ao patrono da escola Geraldino Silva, que doou o terreno para a construção do estabelecimento de ensino, existente desde o ano de 1952. É a única escola estadual da cidade, daí o carinho muito especial que merece da população local. Isso foi muito bem ressaltado em nosso discurso.Antes da era do computador, naturalmente, havia maior isolamento. A distância dos grandes centros era um sério entrave, até mesmo para o necessário aperfeiçoamento de professores e especialistas. Hoje em dia, é comum encontrar laboratórios de informática nessas regiões, atraindo para a escola uma sucessão de conhecimentos outrora exclusivos de metrópoles renomadas.Quem tem olhos de ver, numa visita dessas, embora por poucas horas, percebe a elevação da auto-estima da população. Abandona-se o sentimento de que o povo do interior é esquecido ou só é lembrado em época de eleições. O atendimento se faz de modo constante, de acordo com um bem elaborado plano de obras, que depende sobretudo da necessária liberação de recursos financeiros, o que se faz ao longo do ano.O Noroeste fluminense é uma região rica, hoje valorizada por uma série de atividades agroindustriais. Esse movimento não prescinde de recursos humanos competentes, daí a nova vida que se abre para as escolas públicas municipais e estaduais. É tempo de transformação.

  • A Fidel o que é dele

    A metade do século passado foi marcada na América Latina pela Revolução Cubana. Cuba foi o pivô da maior crise ocorrida durante Guerra Fria. A firmeza de Kennedy e a sensatez daquele camponês esperto Nikita Kruschev conjuraram o conflito nuclear. Como hipotecas ficaram a retirada de armas nucleares da Turquia e o compromisso dos Estados Unidos de não invadirem Cuba.

  • O fascínio de Quincas

    Tenho para mim que três narrativas mais ou menos curtas serão, daqui a alguns séculos, consideradas típicas do clímax que a ficção mundial em prosa alcançou, como sucessora do poema-que-conta-história, no período que veio de Tolstoi aos dias de agora. São "A morte de Ivan Ilyich", do próprio Tolstoi, "O velho e o mar", de Ernest Hemingway, e "A morte e a morte de Quincas Berro D'água", de Jorge Amado.

  • O polemista Merquior

    Lamentemos inicialmente que a morte tão cedo tenha levado o acadêmico José Guilherme Merquior, quando ele estava na plenitude do seu talento e muito poderíamos esperar da sua inteligência fulgurante. Trata-se do meu antecessor direto na cadeira nº 36 da ABL. Mas não o conheci pessoalmente.

  • A solidariedade de Jorge Amado

    A obra de Jorge Amado remonta àquele tempo de “gestação de cidades”, tão precisamente reconstituído em O menino Grapiúna, até chegar ao impasse urbano, quando “a liberdade, a invenção e o sonho”, antigas legendas plebiscitárias, parecem agonizar, enredadas no cortejo dissoluto da modernidade.

  • Lula no país de Clodovil

    O segundo turno nos beneficia de um duplo salto na maturidade cívica do país. Voltou-se ao debate para a definição de razões de decidir no pleito, abandonando a presunção das avalanches fatais como se anunciava a da eleição de Lula. De outra parte tornou-se nítida a consciência da mudança, no novo avanço de votos do petista. Muito da ameaça a Lula não teria passado do pito, sem, de fato, nos ameaçar da torna ao país de sempre.

  • A busca da transcendência

    As palavras são do Papa Bento XVI: "Na educação das novas gerações, a questão da verdade certamente não pode ser evitada: ao contrário, deve ocupar um espaço fundamental." Como responsáveis pela condução do sistema de ensino do Rio de Janeiro, hoje com mais de 1,6 milhão de estudantes, temos procurado levar isso em conta, como pode testemunhar a coordenadora de Educação Religiosa, professora Valéria Gomes. As escolas não podem ser objeto de uma espécie de "negociação da fé", como se isso fosse possível.

  • Os caminhos do mal

    Não sei se foi Santo Agostinho ou São Tomás de Aquino que disse ser o Bem uma via única e o Mal uma encruzilhada de caminhos. Pensei nisso ao saber que o dinheiro que comprou o tal dossiê passou por muitos intermediários e chegou a um bicheiro.

  • Educação nos tempos de violência

    As formas de violência, na sociedade dos nossos dias, apresentam aspectos múltiplos. Lembramos os fatos do cotidiano – e a comprovação é mais que evidente. Por exemplo, o alto índice de abandono das escolas de nível médio pela troca por um possível emprego, mesmo que seja precário. Estudos da PUC e da UFRJ comprovam que o atraso escolar no morro é 34% maior do que no asfalto. Uma das razões mais plausíveis pode estar na economia interna da favela (1,8 milhão de habitantes do Rio), que favorece a absorção de mão-de-obra em atividades de menor exigência educacional. Reclama-se também da pouca participação dos pais no processo ensino-aprendizagem.