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Artigos

 
  • Fernando Sabino

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 13/10/2004

    Sempre que lhe perguntavam o que queria ser quando crescesse, Fernando Sabino respondia: "Quero ser criança". Uma boa resposta, que ele não conseguiu realizar ao longo da vida. Pois nunca deixou de ser um rapaz, um bom rapaz. E, como bom rapaz, foi campeão de natação no Minas Atlético Clube, casou, teve filhos, escreveu livros, tocou bateria, viajou muito, estava sempre pronto para um papo inteligente e divertido.

  • A singularidade de ser plural

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 13/10/2004

    Numa sociedade desigual como a nossa, as chamadas ações afirmativas podem ser fundamentais para garantir oportunidade para quem sempre ficou de fora. É claro, porém, que num sistema em que há o vestibular, a simples importação de uma política de cotas gera distorções sérias e precisa ser discutida. Já está sendo e não é isso o que vou fazer aqui. 

  • Salim Ribbentrop e Molotov da Silva

    Jornal do Brasil (RJ), em 13/10/2004

    As comemorações dos 40 anos da morte de Santiago Dantas tiveram o tom de um novo percutir na memória nacional de nossas personalidades canônicas ou exemplares. Não se trata só de quem exprimiu o sentido do seu tempo, ou mesmo o antecipou. Sentem os seus contemporâneos que o sinete de um exercício limite, da inteligência sem concessões, nem desculpas, nem arrogância. O desempenho tornava-se uma proeza, por si mesmo, para o ator, desengastado de platéia. Deparamos, talvez, um desses casos extremos de uma moral de performance a ter, no fundo, um único e exatíssimo expectador. Não calha o lugar comum, de ver a biografia de Santiago como a obra de arte, dos clássicos chavões em que falamos, com licença quase promíscua, da aparição entre nós, de figuras Renascentistas.

  • A verdade da ficção

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 12/10/2004

    No contexto dos 80 anos de Lêdo Ivo e do lançamento de sua poesia completa, reunida num só volume, apresentado há pouco na Academia Brasileira de Letras, desejo falar hoje do romance do mesmo autor traduzido na Inglaterra.

  • A questão do Prata

    Diário do Comércio (São Paulo), em 12/10/2004

    Tenho escrito várias vezes sobre a Questão do Prata, mas como sua solução parece longe de ficar paralisada, no enlace de uma entente cordiale dos dois países, volto ao meu ritornelo , acentuando que o faço por admirar a Argentina, suas instituições culturais, seus costumes, a beleza de suas cidades, principalmente da mais bela capital da América, Buenos Aires. Sou, portanto, insuspeito de patriotismo exagerado, contra um vizinho da altura da Argentina.

  • Se eu fosse Maluf

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 12/10/2004

    Não sou Paulo Maluf, nem paulista, nem paulistano. Mas gostaria de ser, pelo menos até a véspera do segundo turno, quando se conhecerá o prefeito da capital. Poucos seres humanos, ao longo da história, estarão vivendo um estado de graça absoluto como ele.

  • O embaixador do livro

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 11/10/2004

    Quando se tem mais idade, é natural que decepções sejam muitas, mas elas perdem de longe quando comparadas com as alegrias que a vida nos proporciona. Seja pela família, seja pelos amigos. Entre estes, pude fazer um de que jamais esqueço. Alfredo Machado. Mais velho do que eu, mais importante, amigo íntimo do então governador Carlos Lacerda, exerceu forte influência na cultura da então Guanabara, que ele amava muito. Foi um bom amigo e a retribuição que encontrei para homenageá-lo aconteceu quando criamos a Biblioteca Pública de São Cristóvão, a primeira de toda a vida do bairro imperial. Ganhou o nome de Alfredo Machado.

  • A festança continua

    O Globo (Rio de Janeiro), em 10/10/2004

    Em cidades como o Rio, em que não vai haver segundo turno e os dias têm sido úmidos, frios e quase penumbrosos, é compreensível uma certa melancolia, por parte do famoso cidadão comum. Clima de festa acabada. A campanha já não tinha sido grande coisa, com generalizada broxura eleitoral. Mas não deu praia no dia da eleição e não se proibiu a bebida, de maneira que votar virou um programa. Não se dirá um programaço, mas sempre um programa, com uns chopinhos no boteco em frente à seção, azaração cívica etc. E a participação nessa brincadeira gozativa (o brasileiro é um gozador nato, não sei se já lhes falaram isto), que é dizer que quem manda somos nós, quando nunca mandamos em coisa nenhuma e até o sapo barbudo que a maioria de nós achou que ia fazer com que “eles” engolissem está se revelando um fino escargot . E à moda deles, claro. Mas a gente fica ouvindo que estamos numa democracia, que o poder do voto isso e aquilo e coisa e tal e anima a pasmaceira. Às vezes, é melhor do que jogar palitinho, embora nem sempre.

  • De livros e bibliotecas

    O Globo (Rio de Janeiro), em 10/10/2004

    NA SEMANA PASSADA, COMENTEI sobre meus livros sublinhados. Na verdade, não tenho muitos livros: há alguns anos, fiz certas escolhas na vida, guiado pela idéia de procurar ter um máximo de qualidade, com o mínimo de coisas. Não quer dizer que tenha optado por uma vida monástica; muito pelo contrário, quando não somos obrigados a possuir uma infinidade de objetos, temos uma liberdade imensa. Alguns de meus amigos (e amigas) reclamam que, por causa do excesso de roupas, perdem horas de suas vidas tentando escolher o que vestir. Como resumi meu guarda-roupa a um “preto básico”, não preciso enfrentar este problema.

  • Déficit político

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 10/10/2004

    Mais uma eleição com tudo o que ela, em si mesma, contém de significativo. E isso deve ser levado em consideração. Não se pode dizer que venha a constituir substancial avanço qualitativo da vida democrática. De modo nenhum. O que se observa, sem muito esforço, é antes a impugnação do trabalho político em favor dos respectivos arranjos eleitorais. A prometida reforma política continua sendo adiada, os partidos de aluguel prosperam, os baixos níveis de legitimidade nunca se alteram. Uma unanimidade contudo se mantém de pé, nacional e internacionalmente: somos medalha de ouro na olimpíada da desigualdade social. Sem levar muito em conta que jamais haverá redistribuição de renda sem distribuição equânime do poder político.

  • Ainda as greves selvagens

    O Estado de São Paulo (São Paulo), em 09/10/2004

    No seio da c o m i s - são incumbida, em 1986, de elaborar um anteprojeto de Constituição, em virtude de iniciativa do presidente José Sarney, houve longos debates sobre a permissão do direito de greve nos serviços considerados essenciais à coletividade, tanto na esfera pública quanto na privada.

  • A moça e a viagem

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 09/10/2004

    Não faz tanto tempo assim. A moça me telefonou, convidou-me para almoçar numa cantina do Leme, disse que o assunto era urgente e importante. Como morava perto, fui ao almoço e me surpreendi: a moça existia mesmo, estava bem vestida e era muito, muito bonita.

  • Quem é o pai da criança

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 08/10/2004

    Os jornais noticiam a morte do cientista Maurice Wilkins, um dos envolvidos na descoberta do DNA e Prêmio Nobel de Medicina de 1962.

  • Direito da direita

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 07/10/2004

    A polarização entre o PT e o PSDB, indicada pelas eleições do último domingo, desmente o princípio básico da democracia, ou seja, que o poder emana do povo. A expressão da vontade popular, que elege seus dirigentes mais próximos, deveria estabelecer a cadeia do mando público a partir dos vereadores e prefeitos, uma vez que, antes de habitar um país ou um Estado, todos habitamos uma cidade.

  • A admiração do tirano

    Diário Comércio (São Paulo), em 06/10/2004

    Uma fração, a meu ver pequena, da juventude de nossos dias, pretende ver nos governos fortes, ou ditatoriais, a solução para as crises políticas, os parlamentos integrados por membros corruptos, por clientes fisiológicos dos aplicadores de propinismo, em benefício de negócios escusos e outras finalidades inconfessáveis. Esse desejo, que é de um número não apurado por pesquisas, está se acentuando, refletindo no prestígio de Lula, que já manifestou sua propensão para os governos fortes, quando elogiou o presidente do Gabão, não se sabe se por piada ou seriamente.