
Diferencial Lula
Político com estrada na vida pública, o mais experimentado na selva do poder, costuma dizer que nada resiste a uma foto, nenhum fato deve ser levado a sério se não for documentado por uma fotografia.
Político com estrada na vida pública, o mais experimentado na selva do poder, costuma dizer que nada resiste a uma foto, nenhum fato deve ser levado a sério se não for documentado por uma fotografia.
Em "Considerações sobre a Nostalgia", Joaquim Manuel de Macedo, de "A Moreninha", mistura ficção e medicina de modo surpreendente
Desde Homero que o mar é cantado em prosa e verso. Dorival Caymmi, sem experiência própria no assunto, garantiu que é doce morrer no mar. Pulando de Homero e Caymmi para o tsunami que devastou terras e ilhas, matou sem doçura gente pobre e gente rica, lembremos a mais famosa crônica de Rubem Braga, "Ai de ti, Copacabana".
Por vício, defeito de formação, incompetência ou o que lá quiserem, tenho o hábito de começar o que escrevo pelo título. Sei de gente que também faz isso, mas estou seguro de que é minoria. Creio que o mais sensato é ter no máximo um título provisório, escrever e depois buscar o título definitivo. Mas sempre comecei pelo título e só sei trabalhar assim. E, ao ler esse que está aí em cima, vi que não é dos mais felizes, devia mudá-lo. Não mudo - desta vez a razão é incompetência mesmo - porque não sei. Contudo esteja o paciente leitor à vontade, não há de ser tarefa muito difícil. Minha aprovação não é necessária, vá em frente numa boa.
Num dia da semana que está acabando, contei as páginas que os jornais dedicaram ao futuro presidente da Câmara dos Deputados. Uns pelos outros, deram cerca de três páginas compactas ao emocionante evento, com fotos dos personagens envolvidos e do onipresente Zé Genoino coordenando os trabalhos, boxes, previsões de "cenários" e retrospectos explicativos, na base do "entenda melhor o caso".
A área de comunicação do Planalto, a meio mandato, lança-se à tarefa de mobilização política visando a promoção da nossa auto-estima. Há que se perguntar, entretanto, se o enfoque da campanha vai ao fundo do sentimento do País dos excluídos que ganhou as eleições e se percebe em outra e emergente sintonia nacional. Existe, de fato, para esses setores uma baixa valorização do Pindorama? Ou se está apenas importando a perspectiva do Brasil de salão, gasto pelo eterno recomeço das mesmas promessas? Não há como transferir para o País transfigurado pelo sucesso eleitoral de 2002, esta visão tradicional, frente a uma tomada de consciência que começa com a organização do PT e que vai, degrau a degrau, nas sucessivas campanhas, forjando uma identidade fundadora. Foi a Palácio com Lula, e seu impacto continua ainda a exigir ampla análise.
O balanço da última semana de 2004 foi de arrepiar os cabelos e pedir proteção aos terreiros da Bahia. E as más notícias continuam. A tragédia tsumani ainda não acabou. Os dramas humanos desvendados fazem corações ganhar um instante de compulsão.
A impressão que dão os governos da América Latina é a de que estão perdidos num quarto escuro do qual não podem sair, por não encontrarem, no escuro, a porta que os libertará. Do México à Argentina, de um lado e, de outro, o Chile no sul do continente latino-americano, o que temos é não acertarem, com exceção, sem dúvida do citado Chile, com uma política econômico-financeira que corresponda às necessidades nacionais de cada país.
Hoje é dia dos Reis Magos - história ou lenda que foi absorvida no calendário cristão, mencionada nos textos evangélicos, mas comum a diversas culturas e tradições. Pelo que se sabe, não chegavam a ser reis de qualquer reino da Terra, mas reis de um território sem fronteiras nem donos, o da magia. Ao contrário dos sábios pagãos que olhavam as tripas de aves e répteis, eles olhavam o céu e viam sinais -tal como o Paulo Coelho, que também é mago e vê sinais nas areias de Copacabana.
Escrevi nesta coluna que, num de seus discursos, Rui Barbosa, que era dono de um dos mais belos estilos da língua portuguesa, detestava tanto a palavra privada - e tinha ele razão para isso que nunca a usou, segundo afirmou quando discursava. Mas, com a palavra Parceria Público Privada, temos uma organização para estabelecer ou fortalecer a infra-estrutura - palavra também detestável - do país, com vistas ao desenvolvimento, que está atrasado, sobretudo o do Nordeste, sempre abandonado.
Não há como estranhar a repercussão de qualquer trabalho, literário ou não, que seja feito a respeito da vida e da obra do padre AntônioVieira. Mesmo não tendo nascido no Brasil, ele aqui desenvolveu ações tão intensas - e por muitos anos - que se tornou uma das figuras estelares da nossa cultura.
Sempre fomos caudatários dos Estados Unidos, a começar pelo decreto número 1 do governo provisório, responsável pela proclamação da República. Obra de Rui Barbosa, denominou o Brasil unitário da época pela denominação adequada na origem dos Estados Unidos. Um erro do grande Rui Barbosa, que desejava para o Brasil um sistema semelhante ao dos Estados Unidos, prova de que o grande homem não conhecia suficientemente o Brasil, para nos comparar com a República do norte.
Semana passada, cheguei ao Galeão, vindo de Roma. Antes, havia enfrentado o Leonardo da Vinci, o aeroporto romano. Fizera escala em Frankfurt e São Paulo. A impressão que tive, ao olhar pela janelinha do MD-11, foi a de chegar a uma cidade fantasma. Nada parecia existir além da imensa estrutura de concreto armado. Nem mesmo uma vila, um aglomerado de casas e vidas.
Hoje é a primeira terça-feira do terceiro ano de Lula no poder. O que foi feito, o que não foi feito, o que poderá ainda ser feito, o que com toda a certeza não se fará mais - tudo aparece nos muitos estudos sobre o assunto publicados recentemente em livros, jornais e revistas. Entre as análises de maior profundidade, atente-se para o livro de Cândido Mendes, "Lula entre a impaciência e a esperança".