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2005: As estratégias do combate

 

Lidando com o medo


O GUERREIRO DA LUZ SABE: TODO mundo tem medo de todo mundo.


Este medo se manifesta de duas formas: através da agressividade ou através da submissão. São duas faces do mesmo problema.


Por isso, quando está diante de alguém que lhe inspira temor, o guerreiro se lembra: o outro tem as mesmas inseguranças que ele. Passou por obstáculos parecidos, viveu os mesmos problemas.


Então o guerreiro utiliza o medo como motor, e não como um freio.


Conversando com o Mal


Às vezes o Mal persegue o guerreiro. Então, com tranqüilidade, ele o convida para a sua tenda.


O guerreiro pergunta ao Mal: “Você quer me ferir, ou me usar para ferir os outros?”


O Mal finge não ouvir. Diz que conhece as trevas da alma do guerreiro. Toca em feridas não cicatrizadas, e clama vingança. Lembra que conhece algumas armadilhas e venenos sutis que o ajudarão a destruir seus inimigos.


O guerreiro da luz escuta. Se o Mal se distrai, ele faz com que retome a conversa, e pede detalhes de todos seus projetos.


Depois de ouvir tudo, levanta-se e vai embora. O Mal falou tanto, está tão cansado e tão vazio, que não conseguirá acompanhá-lo.


Prestando atenção


O guerreiro da luz conhece o silêncio que antecipa o combate importante.


E este silêncio parece dizer: “As coisas pararam. É melhor divertir-se um pouco”.


Os combatentes sem experiência largam suas armas neste momento, e queixam-se do tédio.


O guerreiro está atento ao silêncio; em algum lugar, algo está acontecendo. Ele sabe que os terremotos destruidores chegam sem aviso. Já caminhou por florestas durante a noite: quando os animais não fazem qualquer ruído, o perigo está próximo.


Enquanto os outros conversam, o guerreiro se adestra no manejo da espada,e presta atenção no horizonte.


Sabendo esperar


De vez em quando, o combate é interrompido. Não adianta provocar a luta; é necessário ter paciência, esperar que as forças entrem novamente em choque.


No silêncio do campo de batalha, o guerreiro escuta as batidas de seu coração. Repara que está tenso. Que tem medo.


O guerreiro faz um balanço de sua vida; vê se a espada está afiada, o coração satisfeito, a fé incendiando a alma. Sabe que a manutenção é tão importante quanto a ação.


Sempre tem algo faltando. E o guerreiro aproveita os momentos em que o tempo se detém, para equipar-se melhor.


Evitando ameaças


Toda vez que uma espada sai da bainha, precisa ser usada. Pode servir para abrir um caminho, ajudar alguém, ou afastar o perigo - mas uma espada é caprichosa, e não gosta de ver sua lâmina exposta sem razão.


Por isso, um guerreiro jamais faz ameaças. Ele pode atacar, defender-se, ou fugir; qualquer uma destas atitudes faz parte do combate.


O que não faz parte do combate é desperdiçar a força de um golpe, falando sobre ele.


Um guerreiro está sempre atento aos movimentos de sua espada. Mas não pode esquecer que a espada também presta atenção aos seus movimentos.


Ela não foi feita para ser usada com a boca.


 


O Globo (Rio de Janeiro) 09/01/2005

O Globo (Rio de Janeiro), 09/01/2005