
Natureza como inspiração
[2]O HOMEM RESOLVEU PARTIR EM busca de Deus. E foi atrás dos mestres, que diziam conhecer profundamente as razões pelas quais o Universo havia sido criado, e prometiam explicar o que Deus queria da humanidade.
O HOMEM RESOLVEU PARTIR EM busca de Deus. E foi atrás dos mestres, que diziam conhecer profundamente as razões pelas quais o Universo havia sido criado, e prometiam explicar o que Deus queria da humanidade.
Não tivemos, desde a "cristianização" do candidato governamental contra Vargas, eleição mais rebelde aos donos do poder e ao Brasil de todo o sempre, que a do próximo 6 de outubro. Domina a cena a proeza decisiva do primeiro partido moderno do País, ensejando ao PT a vitória com o sucesso pertinaz, de disciplina, consulta às bases e, sobretudo, capacidade de aglutinação de Lula. O que mais ressalta é o profundo amadurecimento, mais que do candidato, da própria consciência política brasileira. Alastrou-se, nesses dias sísmicos do País diante da telinha e do noticiário jornalístico, derrubando, de vez, o comício das turbas despejadas dos ônibus-monstro e dos candidatos-pretexto, para o sucesso das duplas sertanejas.
Tanto a CPI como a mídia em geral estão cometendo um erro tático (ou conveniente) na tentativa de apurar o esquema de corrupção que traumatiza a nação. Mídia e CPI caminham juntas, uma alimentando a outra e ambas se perdendo na dimensão horizontal do escândalo, esquecendo a sua verticalidade.
Parece que Saddam Hussein compreendeu qe sua situação é frágil e optou, com prudência, por fazer ir a Bagdá e outras localidades de seu país, os fiscais da ONU, para verem in loco que não há preparação de armas mortíferas, a fim de serem usadas se os Estados Unidos invadirem o que resta de livre para o ditador. Saddam Hussein só quer fazer guerra, mas essa pretensão tem um limite, e este já foi alcançado, tendo que ser o paradeiro último de uma tentação, que começou com o assassínio do rei.
Em parecer que escrevi para o editor Peter Owen, de Londres, sobre livros brasileiros cuja tradução para o inglês recomendo, comecei pelo romance "O tronco", de Bernardo Elis, pois nele vejo a mais vigorosa marca daquilo que chamo de "ocupação de território literário" no Brasil. A história de nossa formação como povo e como nação emerge, em traços fortes, dos relatos feitos como ficção, mas com uma realidade que supera as minúcias da historiografia.
Há mais de três décadas tanto no exercício de mandatos legislativos, de funções nos órgãos de direção partidária, quanto no desempenho de cargos no Executivo - estadual e federal - venho me dedicando ao cumprimento de agenda que concorra para o aggionarmento de nosso modelo institucional. A persistência com que tenho abordado as questões dessa natureza se quadra na convicção de que a reforma política - sempre preconizada, nunca priorizada - é a mais relevante das transformações de que necessita o país, posto que indispensável à governabilidade, de que depende, em última análise, o sucesso de todas as demais.
É o próprio presidente Fernando Henrique, de longe o mais preparado dos nossos governantes, trunfo internacional reconhecido da nossa ciência social, que derruba toda pretensão de que se deva exigir diploma superior para chegar ao Planalto. A frase veio peremptória, deitando água fria na ofensiva da propaganda tucana, fiel ao exemplo que FH quer dar ao país, de uma transição absolutamente democrática e que remate o seu papel no avanço das instituições brasileiras.
Nunca tinha ouvido falar em Artur de Oliveira (1851-1882). Pelas datas de seu nascimento e de sua morte, fica difícil incluí-lo entre os suspeitos de pagar ou receber o "mensalão". Seria espantoso se fosse convocado a depor em qualquer das CPIs existentes.
É difícil chegar a uma conclusão sobre a influência das pesquisas no processo eleitoral. Há opiniões conflitantes mas todos concordam que é fato novo, benéfico ou nocivo, mas realmente novo. Honestas ou manipuladas, elas adicionam um "plus" na hora do cidadão votar. E antes da hora decisiva, elas promovem um vendaval na campanha, ora prejudicando, ora ajudando os candidatos.
Se me pedissem uma definição do voto, eu diria que o voto é o selo da cidadania; ou que é o atestado do cidadão. Então, como é que se concilia a idéia de dar um diploma de cidadão ao jovem que completa 16 anos, quando esse mesmo jovem se mantém na condição de irresponsável perante a lei, sob a alegação de que até aos 18 anos ele ainda é menor - ou "de menor", como diz o povo? Se o jovem cidadão ou (cidadã) tem discernimento suficiente para votar no presidente da República, como não o terá para distinguir o bem do mal, o crime da inocência - que são conceitos muito menos complexos do que as avaliações políticas que levam ao voto consciente? Criancinha ainda, antes mesmo de saber o que é um presidente, um governador, um deputado - essa criança já sabe que é proibido roubar, ferir os outros, e, acima de tudo, matar. Então, depois da onda ecológica, as crianças cedo aprendem a respeitar a vida, até a dos bichos - ou principalmente dos bichos. Quanto mais a vida das pessoas.
A crise do Planalto se vê dominada pelo enfoque ético e as reparações cobradas ao situacionismo brasileiro para retorno à normalidade do Governo Lula. O que, para tal, logo sai de cena é a ribalta petista da Paulicéia, onde parecia jogar-se sempre o futuro do regime, e o rondó de seus nomes favoritos. Seria mesmo de perguntar-se se o vaivém destas lideranças - culminado no impasse da eleição de Severino para presidente da Câmara - não refletia as primeiras escaramuças para saber-se qual o delfim ao governo de São Paulo, na pugna entre Mercadante, Dirceu, Genoíno ou João Paulo Cunha. A nova Presidência do PT, entregue a Tarso Genro, reflete uma estratégia de poder, que retorna a uma visão de projeto, arraigada na defesa do partido diferente, e vai até o real questionamento dos modelos de mudança a partir de um verdadeiro escrutínio das alternativas à globalização.
Na reta final, os corredores precisam correr mais rápido. O ditado é do tempo dos romanos mas continua atual. Tão atual que os candidatos à Presidência assumiram uma espécie de vale-tudo eleitoral, há equipes especializadas em fuçar todos os detritos, em busca de um escândalo que defenestre um deles da disputa.
"Cinco balas em nossos corações" era a faixa que estava na estação de Stockwell, em Londres, onde tinha sido executado, por engano e pela Scotland Yard, o brasileiro Jean Charles, um mineiro de Gonzaga, seduzido pelo paraíso da emigração.
No mesmo ano em que Wilson Martins conquista o maior prêmio literário do País - o Machado de Assis, para conjunto de obra, da Academia Brasileira de Letras - a mesma Academia lança um livro definitivo sobre o modernismo brasileiro, do próprio Wilson Martins, chamado "A idéia modernista", depois do qual não mais se poderá falar do movimento de 22 e de sua profunda influência no pensamento do país sem que se vá às suas páginas.
Estamos perto das eleições presidenciáveis de 2002. Quatro candidatos disputam a honra de dirigir o País, ainda às voltas com problemas de inquestionável importância, como a segurança, o modelo econômico, a saúde, os transportes e - sobretudo - a educação.
Links
[1] https://www.academia.org.br/academicos/paulo-coelho
[2] https://www.academia.org.br/artigos/natureza-como-inspiracao
[3] https://www.academia.org.br/academicos/candido-mendes-de-almeida
[4] https://www.academia.org.br/artigos/o-inevitavel-bom-senso-civico
[5] https://www.academia.org.br/academicos/carlos-heitor-cony
[6] https://www.academia.org.br/artigos/planicie-e-o-planalto
[7] https://www.academia.org.br/academicos/joao-de-scantimburgo
[8] https://www.academia.org.br/artigos/nao-guerra
[9] https://www.academia.org.br/academicos/antonio-olinto
[10] https://www.academia.org.br/artigos/o-nosso-faroeste
[11] https://www.academia.org.br/academicos/marco-maciel
[12] https://www.academia.org.br/artigos/reforma-politica-3
[13] https://www.academia.org.br/artigos/o-diplomata-e-o-presidente
[14] https://www.academia.org.br/artigos/saco-de-espantos
[15] https://www.academia.org.br/artigos/o-merito-e-o-credito
[16] https://www.academia.org.br/academicos/rachel-de-queiroz
[17] https://www.academia.org.br/artigos/pega-leve-o-cidadao-e-de-menor
[18] https://www.academia.org.br/artigos/o-brasil-de-lula-e-o-pais-da-crise
[19] https://www.academia.org.br/artigos/o-fato-novo-1
[20] https://www.academia.org.br/academicos/jose-sarney
[21] https://www.academia.org.br/artigos/im-sorry-desculpe
[22] https://www.academia.org.br/artigos/longa-caminhada
[23] https://www.academia.org.br/academicos/arnaldo-niskier
[24] https://www.academia.org.br/artigos/um-bom-produto-politico
[25] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2164
[26] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2161
[27] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2162
[28] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2163
[29] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2166
[30] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2167
[31] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2168
[32] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2169