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A longa caminhada

 

No mesmo ano em que Wilson Martins conquista o maior prêmio literário do País - o Machado de Assis, para conjunto de obra, da Academia Brasileira de Letras - a mesma Academia lança um livro definitivo sobre o modernismo brasileiro, do próprio Wilson Martins, chamado "A idéia modernista", depois do qual não mais se poderá falar do movimento de 22 e de sua profunda influência no pensamento do país sem que se vá às suas páginas.


Quais foram às datas e personagens fundamentais da "idéia modernista?". Para Wilson Martins, foram os anos em que os revolucionários estrearam na literatura: Graça Aranha (1902), Jorge de Lima (1914), Manoel Bandeira, Menoti Del Picchia e Guilherme de Almeida (1917) Ronald de Carvalho (1919), Oliveira Viana (1920), Mário de Andrade e Oswald de Andrade (1922), Plínio Salgado (1923), Alcântara Machado (1927), José Américo de Almeida e Augusto Frederico Schmidt (1928), Carlos Drummond de Andrade (1930), José Lins do Rego e Jorge Amado (1932), Gilberto Freyre, Graciliano Ramos e Érico Veríssimo (1933).


Quanto às tendências firmes do modernismo, fixaram-se elas em 1924, ano decisivo na escolha de um rumo. Então, o modernismo opta pelo nacionalismo contra o cosmopolitismo, o primitivo contra o artifício, o sociológico contra o psicológico, o folcolórico contra o literário e o político contra o gratuito. A imagem mais consagrada do primitivo seria "Macunaíma" de Mário de Andrade, em 1928.


O modernismo atingiria o resto do Brasil: em Minas, Emílio Moura, Carlos Drummond de Andrade, João Alphonsus, Martins de Andrade, Caio de Freitas, Rosário Fusco e seus companheiros do "verde" de Cataguases. No Sul: Augusto Meyer, Raul Bopp, Rui Cirne Lima, Pedro Vergara, Roque Calage, Paulo Arinos, João Pinto da Silva, Carlos Dantes de Morais. Em Pernambuco, Joaquim Inojosa, Ascenso Ferreira, Gilberto Freyre. Até o fim dos 30, a "Idéia Modernista" conquistara o Brasil.


Pergunta-se: foi o Modernismo uma arte pura? Vários depoimentos do começo dos 40 negam essa direção. E Mário de Andrade dizia a Francisco de Assis Barbosa, numa entrevista de 1944: "Nunca faço arte pura. Nunca fiz. Neste particular, sinto estar em desacordo com amigos e camaradas queridos, amigos e camaradas que tenho em conta de mestres. Sempre fui contra a arte desinteressada. Para mim, a arte tem de servir".


A II Grande Guerra (1939-1945) mudaria aspectos do movimento literário que, na linha do Modernismo, fizera, dos anos 30, um dos mais fecundos da literatura brasileira. Inclusive os caminhos da política e do poder se cruzaram com as iniciativas dos componentes de uma cultura que, depois da semana, jamais seria a mesma, com o movimento Verde e Amarelo prenunciando o Integralismo para o qual já caminhavam Plínio Salgado, Cassiano Ricardo, Cândido Motta Filho e Menotti Del Pichia. E chegou um tempo em se podia situar a inteligência brasileira nestas conclusões:


1) Que as novas gerações, com forte consciência social e política, repudiavam o esteticismo gratuito de 22.


2) Que as diversas possibilidades políticas do modernismo já se haviam cristalizado em:


a) Direita

b) Católicos

c) Esquerda


No meio tudo, tinham os modernistas dois postulados essenciais de sua configuração espiritual: o Nacionalismo e o Regionalismo que adquiriam também, em alguns casos, a forma de "caboclismo". Tanto Catulo da Paixão Cearense como o Jeca Tatu de Monteiro Lobato, representavam o "caboclismo", tendo aparecido, ainda, a versão nordestina do Jeca Tatu que se chamou Mané Xiquexique.


Os editores entravam também no espírito do Nacionalismo. Depois da "Brasiliana", da Companhia Editorial Nacional, surgiram as coleções "Documentos Brasileiros", de José

Olympio, "Depoimentos Históricos", dos Irmãos Pongetti-Zélio Valverde Editora e a "Biblioteca Histórica Brasileira", da Livraria Martins, de São Paulo.


Chegando-se a um novo século e a um novo milênio, diz Wilson Martins: "Concluía-se, afinal, e longa caminhada que, desde 1922, havia conduzido a literatura brasileira do Modernismo para o moderno, isto é, do circunstancial para o atual; mas, ao mesmo tempo, num processo caracteristicamente dialético, abriam-se as portas para os Ismos ainda desconhecidos que se escondiam no futuro".


"A idéia modernista", que sai sob a égide da Academia Brasileira de Letras, situa com precisão o fenômeno da Semana de Arte Moderna no âmbito maior da cultura brasileira. É livro de leitura obrigatória para o entendimento do Brasil nos últimos oitenta anos.


 


Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro - RJ) em 25/09/2002

Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro - RJ) em, 25/09/2002