
Panzen Cardinal
Antes da morte de João Paulo II, o cardeal Josef Ratzinger era conhecido como panzen cardinal , por sua ação vigorosa na defesa da doutrina católica, em um mundo que dá poucos ouvidos às doutrinas.
Antes da morte de João Paulo II, o cardeal Josef Ratzinger era conhecido como panzen cardinal , por sua ação vigorosa na defesa da doutrina católica, em um mundo que dá poucos ouvidos às doutrinas.
Não adianta falar mais, o assunto já é velho e interessa a relativamente poucos leitores. Como tudo em nosso tempo, durou pouco e foi esgotado pelos consumidores de informação que nos tornamos. Transferimos para a informação e mesmo para a denúncia os hábitos de consumo contemporâneos. Tudo é objeto de consumo ávido, cansa e fica obsoleto às vezes em minutos, o que se exemplifica pela lembrança, apenas um pouco exagerada, de que, ao tirarmos um computador novíssimo da embalagem, ele já está superado por novo lançamento. Da mesma forma - e o comentário está virando lugar-comum - a maioria dos que hoje são chamados de “celebridades” permanece nessa condição durante alguns dias ou meses, para depois sumir.
Mania nova que está sendo adotada sobretudo por juízes de primeira instância: dar palpites que nada têm com os autos, fazendo discursos paralelos e até panfletos a pretexto de julgarem ações que entram na Justiça por supostos ou por provados crimes eleitorais.
Quando ouço um homem ou uma mulher com idade de aposentadoria, fico pensando como irão eles e milhões de outros viverem com a migalha que recebem do INSS.
Lá fora a cidade de Estocolmo preparando-se para o inverno. No bar, converso com uma popularíssima cantora européia. Discutimos sobre fama, sucesso e, em dado momento, ela me pergunta se tenho algo importante a ensinar-lhe.
O desaguisado de Kirchner, no desfecho da nossa cúpula de maior amplitude intercontinental, não perturbou o ambicioso desígnio de Lula. Nem retornaremos ao poço sem fundo das nossas relações com o Prata. Ou ao desgaste do Mercosul, tanto se vá ao cerne da pauta comercial do empresariado brasileiro com o portenho, e se o liberte da condição de refém da nossa persistência protecionista. O arrufo presidencial é de um script que persevera, desde o ano passado, mas passou ao destempero, frente à escala de nosso protagonismo emergente.
Em meados de 2004 a hipótese de reeleição de Marta Suplicy em São Paulo emparelha com o sucesso possível de Serra na cidade-chave do país. É como se se antecipasse já um plebiscito sobre o futuro imediato do PT, com reflexo na renovação da confiança em Lula em 2006. Impensável esse prognóstico ainda há três meses, no apoio nacional à eleição diferente e à confiança visceral num Brasil da mudança. Esta inédita densidade de suporte começou na posse, como uma verdadeira festa no céu para o país do outro lado. A clássica trégua da lua de mel oferecida pelas oposições desenrolou-se num tapete sem fim ao êxito do governo entrante.
Que fazer com Machado de Assis neste começo de milênio? Como enfrentá-lo? Temos de responder a estas perguntas entre agora e 2008. Parece longe? Está perto. É que, em 2008, estaremos comemorando o centenário da morte de Machado. Elevado pelo país que foi dele e é nosso ao comando mesmo da cultura de uma nação, Machado de Assis inventou o Brasil tal como Dante inventara a Itália e Shakespeare determinara a invenção da Inglaterra. Machado criou cada um de nós, formou-nos, plasmou-nos. Com todas as diferenças de nossa heterogeneidade, somos o que Machado de Assis fez de nós.
O livro, tão esquecido, teve seus momentos de visibilidade na última semana, quando os holofotes da mídia se dirigiram para o roubo de velhos "in folio", preciosidades raras que, tranqüilas, viviam o sono eterno das estantes silenciosas das bibliotecas e museus.
Nunca li nem perdi tempo pensando em Tom Wolfe, que andou por aqui durante a Bienal do Livro, da qual não fiz parte por motivos de saúde. Mas, num jantar no bonito apartamento do Paulo Rocco, presidente do Sindicato Nacional dos Editores e Livreiros, o encontrei com seu elegante terno claro, contrastando com a roupa escura dos demais convidados. É magro e tem o rosto bastante enrugado, do contrário poderia parecer o Robert Redford quando faz filme baseado em romance de Scott Fitzgerald.
O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional vão se reunir no Brasil com as autoridades da área econômica, para discutir como excluir investimentos em infra-estrutura do cálculo do déficit público e o impacto fiscal das parcerias público privadas, a última novidade dos doutores em economia pelas universidades americanas, de preferência. É uma novidade, se não for uma das fórmulas que esses organismos cultuam para embromar a opinião pública do país em questão, o Brasil.
Não conheço pessoalmente o banqueiro Henrique Meirelles. Meu território é outro, e, como não tenho mais contas em vários bancos, como nos velhos tempo do Correio Paulistano , não freqüento bancos para descontar títulos, entre as duas fases de pagamento do pessoal.
No vocabulário dos comunistas de antanho, após o insulto de chamar alguém de "policial", vinha um outro, quase equivalente em carga pejorativa: "agente provocador". Frequentemente eram a mesma pessoa, mas, enquanto o policial entregava companheiros na delegacia mais próxima, o agente provocador criava condições para isso. Dava no mesmo.
O poema brasileiro por excelência, o poema que fala por nós, que nos representa e que nos fixa para sempre como País que tem alguma coisa de novo para dizer ao mundo - "Invenção de Orfeu", de Jorge de Lima - sai agora em nova edição. Para que chegássemos a essa "Invenção", foram necessários, ao Brasil, mais de quatro séculos de caminho percorrido, de idioma revivido, recriado, recapturado, de experiências dirigidas em várias profundidades, à espera de uma nova seiva de palavras e de sons fornecidos pela terra que é nossa. E o poeta que atingiu esse ponto de desbravamento, Jorge de Lima, teve de percorrer sua própria trilha, durante um bom tempo, em versos de boa feitura, mas ainda não enquadrados no espírito de todo um povo.
Se a arte literária é sempre um desafio público, ser poeta é desafiar a opinião e a razão muitas vezes do próprio poeta. Em Castro Alves, os poemas mais fortes, muitas vezes herméticos, transmitem beleza e mistério, deixam no espírito do leitor estudioso a dúvida em relação a sua profundidade, a sua causa primeira e a sua amplitude.