
Pais e filhas num boteco do Leblon
- E o Messias, que tem quatro? Tu manja o Messias, um que só vem aqui de vez em quando, mas é freguês antigo. Um magrelo, de bigodinho igual àqueles bigodinhos de antigamente, um que usa camisa do América.
- E o Messias, que tem quatro? Tu manja o Messias, um que só vem aqui de vez em quando, mas é freguês antigo. Um magrelo, de bigodinho igual àqueles bigodinhos de antigamente, um que usa camisa do América.
Há muitas nuvens. São formações pesadas que fazem a meteorologia ter previsão de chuvas, ventos e granizo.
Deve ser mania de perseguição: sempre que estou sozinho, disposto a ficar num canto, pensando em nada, há sempre um sujeito fanho por perto, falando demais, e ecleticamente, sobre os mais variados assuntos. Para purgar meus pecados, não por curiosidade ou deleite, presto atenção ao que ele diz, metade por masoquismo, metade por penitência mesmo.
Não é de hoje a preocupação nacional com o destino do ensino médio. O Brasil costuma dar saltos (às vezes no escuro) quando se trata do que se chamou ensino secundário, depois segundo grau e hoje é o ensino médio. Não foi à toa que Anísio Teixeira, há pelo menos 40 anos, batizou de órfão o ensino médio. É preciso dar-lhe um tapa de modernidade.
No começo era a palavra. Tendo sido a base do entendimento, nela pousamos todo e qualquer avanço. No livro de Alberto Magno, que mergulha na magia da palavra e na feitiçaria dos arranjos verbais com que nos lançamos contra o desconhecido, o autor parte de uma identificação de si mesmo com o Santo que, também chamado Alberto Magno, dizem haver andado próximo a magia. O Alberto Magno de hoje fez pesquisas sobre o "Grimório" que Santo Alberto Magno teria escrito e onde estariam antigos exemplares desse tratado que, às vezes, aparece com o nome de "Grimorium Verum", isto é, "O verdadeiro Grimório", para o distinguir dos falsos.
Todo santo dia, os meios de comunicação publicam matérias sobre a decadência do nosso futebol. O futebol carioca, então, nem se fala, porque os grandes times do Rio estão em situação ainda pior do que a de outros Estados. E, de fato, mesmo os maníacos, que têm tevê a cabo, pay per view e parabólica e não perdem um jogo, ou os mais fanáticos, que ainda enfrentam os perigos que ameaçam os grandes estádios em dias de jogo, não podem negar que, atualmente, assistir a um jogo de futebol não é mais a mesma coisa e às vezes fica mais chato do que a exibição das fitas de vídeo que um casal de amigos fez de sua excursão pela Europa, onde os narradores são ela e ele discutindo e falando ao mesmo tempo e ele confundindo Bruxelas com Barcelona - "não sei por quê, deve ser por causa dos nomes, Barcelona, Bruxelas, para mim o som é parecido, só pode ser isso".
A prudência, sucessivamente identificada com a sapiência e a sabedoria, veio aos poucos se enriquecendo de novos valores, até se tornar a mais importante das virtudes que compõem a ética, condição primordial que é de uma solução justa para solução dos conflitos humanos.Na antiguidade greco-romana foi ela vista, primeiro, como sapiência ou ciência para, depois, ser equiparada à sabedoria, conforme ocorreu na ética de Aristóteles e dos estóicos, sendo esse o entendimento predominante para a maioria dos pensadores medievais. Mesmo na Idade Moderna prevaleceu a compreensão da prudência como sabedoria, ou seja, como virtude que rege a vida prática.
Rui Barbosa criou a máxima de que ''fora da lei não há salvação''. Hoje, que outros temas e outras aspirações circulam na cabeça e na esperança de todos nós, a palavra desenvolvimento passou a ter status de magia. É que sem ela não só não existe salvação, como não existem emprego, renda, bem-estar, paz, segurança, tranqüilidade pública e futuro. Daí a necessidade de crescer. Enfim, desenvolvimento, progresso e crescimento são farinhas do mesmo saco.
Até os brasileiros mais desligados sonham com um país mais forte e desenvolvido. Sem as desigualdades sociais e culturais que marcam a nossa grande sociedade. Daí a consciência da realidade é uma outra coisa.
Os jornais vivem dando notícias de opiniões estrangeiras sobre o Brasil. Conferimos enorme relevância a essas opiniões e muita gente costuma mudar as suas próprias, ou as absorvidas antes, em favor das últimas importadas. Não passa dia sem que os jornais publiquem pelo menos umas quatro matérias sobre opiniões estrangeiras a nosso respeito, não contando as das áreas financeiras, que, adicionadas às outras, deixam qualquer um maluco. Fogem-me exemplos agora, mas todo mundo já viu, a não ser que tenha prudência suficiente para não ler páginas econômicas. Ocupamos o segundo lugar no mundo em enfiar o dedo no nariz em público, precedidos somente pelo Gabão. Em compensação, somos um honroso 34 numa lista dos que coçam os fundilhos também em público, superando a própria Dinamarca, onde oito em cada dez cidadãos se entregam à reprovável prática, principalmente no inverno, pois banho não é um costume assim muito arraigado na Europa. E por aí vamos, em perpétua avaliação do nosso comportamento, acompanhando com atenção o que diz o famoso Primeiro Mundo sobre o nosso país e sobre nós mesmos.
Conta o famoso poeta persa Rumi que certo dia, em uma aldeia do norte do atual Irã, apareceu um homem contando histórias maravilhosas sobre uma árvore cujos frutos davam imortalidade a quem os comesse.
Pena que o Paulo Coelho esteja viajando, deixando-me longe de seus conselhos. Ele é entendido em sinais, sabe interpretá-los tal como José que explicou o sonho do Faraó e falou nas sete vacas magras e nas sete vacas gordas.
Tivemos, desde o começo, movimentos que podem ser chamados de tentativas de "pensar o Brasil". Povoávamos o País, queríamos conhecê-lo naquilo em que, depois da Europa, ele era novo. Antes de o pensar, precisávamos "lê-lo". Pois a terra estava aí, com sua estranheza, como continua estando, pronta para ser lida. De Anchieta em diante, começamos a fazer essa "leitura", queríamos conhecê-lo, incorporá-lo a nós.
Por motivos não muito claros, nosso povo constituiu-se com um apreço relativo pelo passado. Nem feitos, nem personalidades. Poucos resistem à erosão do tempo. A memória brasileira parece guardada por neurônios enfraquecidos.
Antigamente, não havia qualidade de vida. Quer dizer, não se falava em qualidade de vida. Agora só se fala em qualidade de vida e, em matéria de qualidade de vida, sou um dos sujeitos mais ameaçados que conheço. Na verdade, me dizem que venho experimentando uma considerável melhora de qualidade de vida, mas tenho algumas dúvidas. Minha qualidade de vida, na minha modesta opinião pessoal, não tem melhorado essas coisas todas, com as providências que me fazem tomar e as violências que sou obrigado a cometer contra mim mesmo. Geralmente suporto bem conversas sobre qualidade de vida, mas tendo cada vez mais a retirar-me do círculo ou recinto onde me encontro, quando começam a falar nela.