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Artigos

 
  • Grave crise existencial

    Peço desculpas por repetir observações que já fiz aqui há tempos, mas arrisco achar que a maioria dos leitores não vai lembrar e os poucos que lembrarem não se aborrecerão. É a respeito do peru. Não o peru que pode ter ocorrido aos maliciosos entre vocês e, sim, a injustiçada ave que leva esse nome, segundo muitos prima do faisão pelo lado pobre da família, ou seja plebeia, discriminada de nascença e com certeza recalcada. Mas isto está longe de resumir seu drama e creio conhecer o suficiente dele para expô-lo com a compaixão adequada.

  • Deus seja louvado

    Querem tirar das cédulas do nosso real a breve citação carregada de ironia machadiana: "Deus seja louvado". O argumento é pífio: o Brasil é um Estado laico, qualquer alusão a divindade é uma afronta, o país tem diversas religiões e, inclusive, tem razoável porcentagem de ateus ou agnósticos de carteirinha, entre os quais o cronista se inclui, apesar de sua formação ter sido feita com valores de determinado credo.

  • Dana e Eliza

    Colega de ofício, Leandro Mazzini sempre estranhou a insistência com que lembro os ossos de Dana de Teffé. Não tenho bordões, mas o Leandro tem razão. Sempre que posso e mesmo quando não posso, atribuo as mazelas do Brasil ao fato de Dana ter sumido ou sido assassinada, mas até hoje, ela própria e seus ossos não foram encontrados.

  • Manobra abortada

    Atuando como relator e presidente do STF, o ministro Joaquim Barbosa teve que se desdobrar na última sessão do julgamento do mensalão para não deixar que todo o esforço despendido tivesse um anticlímax com a redução da pena do ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, por uma manobra regimental comandada pelos ministros Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio Mello, que tentaram impedir que os cinco ministros que condenaram João Paulo Cunha pudessem fazer a dosimetria da sua pena com relação à lavagem de dinheiro, sob a alegação de que o número mínimo para deliberação é de seis ministros.

  • George Bacóvia: Uma Agenda de Tradução

    Sintonizo a rádio Bacóvia e ouço uma sonata de Mozart, movida por conflitos e dissonâncias. Como se um DJ misturasse notas, ritmos, pulverizando um larghetto numa profusão de síncopes. A poesia de Bacóvia (1881-1957) cresce justamente no vazio em que se inscreve. Não posso perder na tradução a série de staccati, reticências, mudanças de  registroi.

  • A grande era do cupim

    Pouco antes de morrer, Antonio Callado foi entrevistado pela Folha, da qual era um dos mais conceituados colunistas. Foram declarações amargas de um profissional respeitado pela sua trajetória na imprensa e na literatura. Ao fazer a análise do seu tempo, Callado disse que faltava à sociedade brasileira, incluindo todos os seus setores - política, economia, justiça, mídia etc., uma "âncora moral".

  • Seguremos as pedras

    Os prejudicados pelo julgamento do mensalão não têm conseguido armar boas defesas, perante a chamada opinião pública. É muito natural que protestem e argumentem, no que, além disso, exercem direito indiscutível. E mais natural ainda é que se eximam de qualquer culpa e procurem outros responsáveis pela trapalhada que aprontaram. Sei, sem ironia, que comparo mal, mas, quando eu era estudante de Direito, a gente visitava penitenciárias e quase todos os detentos nos contavam histórias, às vezes mais tristes que “Tornei-me um ébrio”, sobre sua inocência. Na verdade, acredito que alguns dos condenados, como alguns daqueles detentos, se achem honestamente inocentes ou, no máximo, vítimas da conjunção maligna de circunstâncias adversas.

  • O Sudeste Asiático e a democracia moderada

    A presença de Obama em Phnom Penh, capital do Camboja, para a reunião da Associação de Nações do Sudeste Asiático, sua primeira viagem após a vitória, indica os nortes emergentes da globalização não hegemônica. E é toda essa região que avulta num cenário suscetível, até, de criar uma diferença com os Brics, em área, hoje, consciente de seu novo protagonismo. Ali, a Malásia evidencia um paradoxo, quase vertiginoso, de transformações, no avanço da modernidade democrática. Combina a tradição política com uma monarquia rotativa, de mandato de cinco anos, outorgado a cada rei, de par com a mais intransigente federação de poderes, e é, talvez, o único caso deste regime político, dotado de primeiro-ministro parlamentarista.

  • Triste piada

    A constatação do que o que o ministro Guido Mantega considerava em junho “uma piada” é simplesmente triste realidade, o crescimento do PIB brasileiro este ano por volta de 1%, talvez menos até, dá a dimensão da crise em que estamos metidos, sem aparentemente haver luz no fim do túnel.

  • Ano Perdido

    Mesmo com sinais importantes de que a política adotada não está dando certo, como o crescimento pífio do PIB do terceiro trimestre sinalizando um ano praticamente perdido em termos econômicos, o Ministério da Fazenda parece disposto a persistir no mesmo caminho, insistindo em ampliar o papel do BNDES de indutor de investimentos no país e em estímulos setoriais.

  • Tudo junto e misturado

    Dos fatos dos últimos dias, podemos selecionar vários que retratam à perfeição nossos tempos que, na definição de Eduardo Portella, são de “baixa modernidade”. Dois são exemplares, não apenas pelos protagonistas, mas pela maneira ligeira com que assuntos de Estado são tratados. Não por acaso, o modo petista de governar está na origem dos dois acontecimentos.

  • A cidadania reage

    Temos visto, uns após outros, casos de corrupção que mostram não apenas que o patrimonialismo continua sendo o cupim de nossa democracia como também que estamos vivendo uma época de desestruturação de valores da cidadania. Essa politização exacerbada na escolha dos componentes da máquina do Estado, que leva o aparelhamento político a níveis os mais profundos, pode chegar até ao Supremo Tribunal Federal como revela a recente entrevista do ministro Luiz Fux à “Folha de S. Paulo”.

  • A irresistível mídia eletrônica

    A discussão em torno da sobrevivência (e por quanto tempo) da mídia impressa tornou-se secundária. Isso porque os estudiosos confiam que, ao longo de muitos anos, haverá uma convivência harmônica das mídias impressa e eletrônica. A reforma recente do jornal O Globo, por exemplo, é muito sintomática. Foram gastos milhões na versão impressa, sinal de confiança no futuro.

  • Retrocesso evitado

    As questões conceituais mais polêmicas suscitadas pelo julgamento do mensalão foram passadas a limpo ontem na 50ª sessão, que deveria ser a penúltima. Não é possível, no entanto, apostar que hoje os ministros consigam encerrar temas também decisivos, como a perda de mandato dos deputados condenados, e por isso o presidente Joaquim Barbosa já convocou preventivamente uma sessão extra para segunda-feira.