Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Artigos

Artigos

 
  • Degradação da língua portuguesa

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 15/11/2004

    Há sinais de degradação da língua portuguesa, hoje confusa e com limites imprecisos entre a norma culta e a linguagem popular, o que a torna mais difícil de apreensão. Ser moderno não é só se vestir como recomendam os filmes, revistas e programas de televisão, mas também falar algo que se parece com o inglês, hoje primeira língua de 500 milhões de pessoas. Não custa insistir na barbaridade que é o batismo profano de pontos comerciais na Barra da Tijuca, com nomes que nada têm a ver com a nossa cultura.

  • Vamos comemorar!

    O Globo (Rio de Janeiro), em 14/11/2004

    Não é para ficar reclamando outra vez, não, mas a verdade é que, de modo geral, não tenho sentido em torno uma grande disposição para comemorações. Há a notável e exuberante exceção do presidente, que quase sempre se mostra risonho, bem-disposto, com ar festeiro, de bem com o mundo e confiante no futuro. Razões pessoais bem sabemos que ele tem para isso, já que agiríamos do mesmo jeito, se estivéssemos todos com a vida tão garantidinha quanto a dele, além disso ornada por vantagens legal e naturalmente decorrentes da posição a que galgou, sem que sobejos méritos lhe possam ser negados. E tem razões de ordem cívica também porque, embora eu raramente saia, não me inclua no fechado time dos “bem-informados” e seja visto com paciente condescendência por meus colegas que sabem das coisas, já me garantiram que, na sua (dele) opinião, ele está fazendo um excelente governo, tão excelente que há pouco o levou, num justo arroubo de entusiasmo, a proclamar algo que não escutávamos desde os bons tempos: “Ninguém segura este país!” Carecem de fundamento, contudo, os rumores de que o “Ame-o ou deixe-o” vai voltar - até porque dizem que quem pôde já deixou.

  • Castañeda e a linhagem sagrada

    O Globo (Rio de Janeiro), em 14/11/2004

    CARLOS CASTAÑEDA FOI UM FILÓSOFO que teve grande importância para minha geração - e uma vez por ano faço questão de relembrá-lo nesta coluna. Por razões que não me compete julgar, terminou os seus dias fazendo algumas coisas que sempre condenou; mas todos nós temos nossas contradições, e o que fica na história de qualquer homem é o que ele procurou fazer de melhor. No caso de Castañeda, seus textos, alguns dos quais transcrevo (editados) abaixo, deixaram um legado que não pode ser esquecido:

  • Os Estados Unidos Bushianos

    O Globo (Rio de Janeiro), em 13/11/2004

    Oprimeiro disparo verbal de Bush triunfante não deixa dúvidas sobre a voracidade do propósito desses quatro anos, sem concessão, sobre o projeto do sacro império, referendado maciçamente nas urnas da América profunda. Sabe-se ungido para o que vem à frente, sem perder tempo inclusive nas mesuras com o perdedor. O “conservadorismo compassivo” passa à modelização do mundo, segundo os novos artigos de fé da democracia justaposta à cruzada antiterrorista. Entramos num “crê ou morre” do seu modelo de poder - enquanto não descansará, segundo o corão do Salão Oval, em transformar os Estados autoritários à sua imagem. Coube a Kerry, no canto do cisne, lembrar a senda aberta à reconciliação americana e que agora buscará em vão cicatrizar o racha. Desconhece Bush o desagrado da outra América.

  • O herói e o vilão

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 13/11/2004

    Arafat foi um dos heróis do nosso tempo. A afirmação é polêmica, como quase tudo na vida. Foi um terrorista, entrou no plenário da ONU com dois revólveres na cintura, um vilão de faroeste. O regimento daquele organismo internacional proíbe armas no recinto destinado a promover e a garantir a paz no mundo.

  • Sua Excelência, o livro

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 12/11/2004

    Quando se fala nos avanços tecnológicos que vislumbram a morte do livro pelo livro eletrônico e outras mágicas, eu respondo que o livro nunca acabará, porque ele é a maior das descobertas tecnológicas: cai e não quebra, não precisa de energia e, portanto, de ligar ou desligar. Pode ser levado para qualquer lugar, banheiro ou cama, com o que certamente os monitores de televisão não concorrem. O livro tem todos os programas de computadores e mais a diversidade de todos os assuntos guardados pela eternidade da escrita. E, se, por uma desgraça, essa história de mercado um dia tornar o livro dispensável, ainda restará o livro de poesia, pois a poesia não precisa de mercado e salvará o livro.

  • Uma primeira auto-estima brasileira

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 12/11/2004

    Vencido o primeiro tempo do mandato petista desenham-se propostas de mobilização e propaganda, no melhor intuito do combate a uma aludida baixo-estima do brasileiro quanto a seu desempenho histórico. A campanha talvez seja apenas compensatória, ao que se entenderia como um desgaste inevitável do governo - independentemente da popularidade do presidente. Mas talvez acolha premissas quanto à visão do país sobre si mesmo, que foram superadas pelo próprio advento de Lula e da mudança profunda que acarretou à percepção sobre nós mesmos, vencendo estereótipos de um Brasil recém-aposentado.

  • O chá das peruas

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 11/11/2004

    Primeira impressão: a de entrar num galinheiro de luxo, ou melhor, num perueiro. As mesas estavam ocupadas por assanhada fauna de peruas, senhoras entre 45 e 65 anos, maquiadas para a ocasião, vestidas e calçadas para a ocasião. Ao contrário do ladrão, que é feito pela ocasião, a perua é que faz a ocasião.

  • A questão Marta

    Diário do Comércio (São Paulo), em 11/11/2004

    Tocou no assunto que vou deixar escrito neste artigo o meu colega José Nêumane. Vou ser, no entanto, diferente dele, nos comentários sobre a derrota de Marta Suplicy. Se Marta fosse socióloga, se tivesse conhecimento sobre a formação da sociedade, saberia o motivo porque perdeu a eleição, embora tenha tido um elevado número de votos. Não há dúvida que o eleitorado, principalmente do PT, a sufragou, sem dar o suficiente volume para a sua vitória.

  • Rio - Bagdá

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 10/11/2004

    O governo dos Estados Unidos, preocupado com a saúde e o bem-estar de suas autoridades e de seus cidadãos em geral, na semana passada iniciou uma campanha humanitária aconselhando os norte-americanos a evitarem o Rio de Janeiro, onde a segurança é problemática. Para consolidar os bons propósitos, divulga cenas do último arrastão no Leblon e publica estatísticas e depoimentos de estrangeiros que aqui sofreram algum tipo de violência ou constrangimento.

  • Para onde caminhamos?

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 10/11/2004

    Os economistas da nova geração se interrogam freqüentemente sobre as causas das baixas taxas de crescimento da economia brasileira no último quarto de século. Os dados são surpreendentes se temos em conta que no quarto de século anterior o país apresentou um dinamismo considerável, colocando-se entre as duas ou três economias de mais rápido crescimento em todo o mundo. Os economistas não parecem ter explicação para essa mutação tão significativa.

  • O fim de Arafat

    Diário do Comércio (São Paulo), em 09/11/2004

    Poucos seres humanos tiveram tanta nomeada no século passado e neste, ainda em começo, do que Yasser Arafat. Todos os dias, sem exceção, o seu nome era estampado em algum ou muitos jornais do mundo, como líder dos palestinos e lutador por um Estado Palestino, que até hoje, mais de cinqüenta anos depois de fundado o Estado de Israel, não se tornou realidade. Arafat chegou a ir à ONU com o fuzil numa das mãos e um ramo de oliveira, símbolo da paz, na outra mão.

  • Termômetro e febre

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 09/11/2004

    Costumo dizer que nada entendo de política. E acrescento: nada entendo de administração e de quase tudo neste mundo. Mas vejo com receio a substituição do ministro da Defesa, ainda no rescaldo da pequena, mas significante, crise com os militares na semana em que foram divulgadas as fotos de um dos torturados do regime de 1964.

  • Mário inédito

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 09/11/2004

    Texto de Mário de Andrade inédito em livro é sempre uma novidade. Como a deste volume chamado "O banquete", que restaura uma série de crônicas musicais por ele escritas semanalmente para a "Folha da Manhã" de São Paulo entre maio de 1943 e sua morte em 1945.

  • Saudades de JK

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 08/11/2004

    Como estudante, combati o presidente JK por causa do aumento de um tostão nos bondes cariocas. O movimento foi fortíssimo, mereceu repreensão da polícia, mas levou as lideranças estudantis a decretar, com muito sucesso, a chamada "greve dos bondes". Na porta do Instituto La-Fayette, impedindo a passagem dos bondes, sentamos nos trilhos e ali jogamos dama e xadrez, diante do sorriso maroto dos motorneiros e condutores, alguns dos quais também sentaram no meio fio defronte à Igreja dos Capuchinhos.