O mundo não acabou
"Verdi è morto!" -a saga de Bertolucci "1900" começa com os italianos, apavorados, gritando pelas ruas que o autor de "Aida" tinha morrido. O que seria da Itália sem o seu grande compositor?
"Verdi è morto!" -a saga de Bertolucci "1900" começa com os italianos, apavorados, gritando pelas ruas que o autor de "Aida" tinha morrido. O que seria da Itália sem o seu grande compositor?
A democracia digital entrou definitivamente no foco da sociedade brasileira, e nos últimos dias tenho participado de diversos debates sobre o tema, seja pelo lado da transparência e acesso a documentos públicos como parte fundamental desse processo, seja pela utilização das novas tecnologias na difusão de informações e pelas consequências dessa ampliação do debate como geradora de fatos políticos como a Primavera Árabe ou mobilizações populares nos Estados Unidos e no Brasil.
Fiquei com pena de Tiradentes. De repente está passando à História como sugador da Nação. Tinha tantos privilégios que até hoje transmite a quatro trinetos pensões de dois salários mínimos. Não temos realmente o gosto de fazer justiça. O maior de todos os heróis brasileiros não pode ser alvo de notícias que podem levar a conclusões erradas. Um menino francês, numa enquete sobre a identidade nacional, disse que ser francês era cantar a Marselhesa, belicosa, a convidar os cidadãos às armas. Aqui, tenho medo de perguntar a um estudante quem é Tiradentes e ele me responder que é aquele que tem quatro trinetos recebendo pensão do governo.
As esferas de poder tratam a educação mediante um plano de metas e camadas estatísticas, tão deploráveis quanto duvidosos, submetendo alunos e professores a chantagens numéricas, a um plano de metas em que os gestores (que caem na escola de paraquedas e com planilhas de custeio) decidem a frio os rumos de uma escola eficiente, com resultados imediatos, onde a cidadania é tratada com leviandade. Em paralelo, um menino de dez anos fere a professora na sala de aula e suicida-se logo depois.
Caro amigo, imagino você, o mais célebre dos escritores turcos, poeta e dramaturgo, olhando para o Mediterrâneo, do alto, digamos, de um minarete, como o da antiga catedral de Santa Sofia. Penso no Império Otomano e na parte incerta dessas águas verdes e azuis que correm entre as ilhas gregas e a costa da Turquia.
Do deserto da Síria ouço uma voz inabalável. Contra a violência e a favor da paz. Trata-se do teólogo Paolo dall'Oglio, que "descobriu", há pouco mais de trinta anos, um fortim romano esquecido, à beira de um abismo de pedras, e ali decidiu fundar, em pleno deserto, uma casa aberta aos povos e religiões de múltiplos quadrantes.
Sopram novos ventos em Santiago. Passam pela casa de Pablo Neruda. E seguem ao sul e ao norte do país. Volto de lá fascinado com as manifestações dos estudantes do ensino médio e superior do Chile, em favor de uma educação pública e gratuita, de alta qualidade e acesso universal.
Há que defender em toda a sua extensão a liberdade religiosa. E não apenas pelo viés do esmaecido discurso do politicamente correto, que não passa, muitas vezes, em lábios extremistas, de mal disfarçada intolerância. Vivemos num regime democrático que deve assegurar a liberdade de todas as expressões.
A história da recepção do pensamento político de Maquiavel perfaz uma teia complexa de livros, congressos e debates. Há quem se especialize na recepção da leitura de Maquiavel no século XIX, na aurora da revolução russa ou no crepúsculo da era fascista da Itália. Se pensamos no Brasil, sobretudo com "O príncipe", Maquiavel tem domicílio incerto, na estante da esquerda e da direita, de ateus e religiosos, monarquistas e republicanos.
Uma bela notícia do Senado Federal. Três, das quatro comissões que trabalham no projeto de lei PLC 41/10, aprovaram as normas de acesso geral à informação, desde os procedimentos a serem observados pelos órgãos públicos sobre o acesso da informação, ao conteúdo propriamente dito, de acordo com o grau e o prazo de sigilo.
Uma noite fria no Café Kapşa em Bucareste. O escritor Marin Mincu desenha suas ideias para o centenário de nascimento de Cioran, com algumas cartas do filósofo nas mãos. Um copo de tsúica e Mincu insiste na matriz romena de Cioran e do diálogo deste com Ionescu e Eliade.
A sequência "sendo que", em construção do tipo "Eram três os vizinhos, sendo que um deles acaba de mudar-se para Minas", é tão natural ao nosso saber idiomático, que dificilmente imagínaríamos vê-la apontada como errada ou, no mínimo, como construção que deve ser evitada por desnecessária.
Como são amplos os desafios que cercam a universidade pública no Brasil. E todos fascinantes, oriundos da pressão legítima, democrática e inclusiva da sociedade civil. Traduzem o projeto de um país maior, não do ponto de vista geográfico, mas a partir de um rigoroso imperativo moral. Maiores investimentos. Mais alunos. Professores. E um programa de aceleração do crescimento da pesquisa.
Passei os últimos dias visitando os sites do al-Ahram, al-Jazira, Hezbollah e Fraternidade Muçulmana. Um território vasto e irregular das leituras sobre a praça Tahrir. Os ventos da mudança sopram a oriente e a ocidente do histórico vale do Nilo, considerado um livro de vastas proporções, ao longo do qual os povos antigos escreveram em suas margens.
A obra de Montaigne redefine a descoberta do sujeito moderno, nas grandes rupturas do século XVI. Alarga a visão do indivíduo, que nasceu no coração do cristianismo, na releitura dos clássicos. E trouxe para o centro de seu repertório a observação do eu (ou do nós, como disse Compagnon), do mesmo modo pelo qual Galileu fundamentou o método de observação e ensaio. Uma forma de universo prático, mensurável, ao mesmo tempo relativo e absoluto.