
Uma doença mundial
Não adianta se queixar ao bispo; ele está tentando livrar a própria pele. Ninguém mais está a salvo da violência, nem as instâncias abençoadas por Deus.
Não adianta se queixar ao bispo; ele está tentando livrar a própria pele. Ninguém mais está a salvo da violência, nem as instâncias abençoadas por Deus.
Em uma das gravações clandestinas do ex-senador Sérgio Machado, ele afirma que depois que o STF decidiu que é possível decretar a prisão com condenação em segunda instância, todo mundo resolveu fazer delação premiada para escapar da cadeia. O fim dessa jurisprudência, que vigorava até 2009 e foi retomada este ano, seria um dos alvos de suposta conspiração política contra as investigações do Lava Jato.
Fazer um mau governo não é condição aceitável para um pedido de impeachment numa democracia representativa, a não ser que exista a previsão do recall na Constituição, instrumento que permite aos eleitores voltarem às urnas para tirar do posto aquele governante que não estiver agradando à maioria. Uma espécie de voto de desconfiança parlamentarista no presidencialismo.
Na rua do Ouvidor, entre a avenida Rio Branco e a rua da Quitanda, ficava naquela época a Livraria José Olympio, onde, certa tarde, deparei com Graciliano Ramos, sentado numa cadeira e fumando cigarro.
Amigo meu, grande editor da fase moderna da literatura brasileira, fazia tudo para que pudesse entrar no partido comunista. A duras penas, conseguiu ser admitido e recebeu de presente uma ida à então União Soviética. Foi animado, mas voltou decepcionado pelos princípios ideológicos adotados pelo partido oficial e gestor do comunismo internacional.
Se a casa está pegando fogo, há que combater logo o incêndio, sem discutir quais bombeiros vieram na viatura.
Impeachment é para impedir mandatos, não a civilidade. Uma lição a ser aprendida pelos iracundos dos dois lados.
Os Procuradores da República estão em pé de guerra contra o que identificam ser uma movimentação orquestrada dos políticos contra a Operação Lava-Jato. A afirmação do coordenador da força-tarefa Deltan Dallagnol de que há um "ataque incisivo" ao combate à corrupção por "alguns políticos específicos", numa referência clara aos líderes do PMDB flagrados em gravações clandestinas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, é a explicitação desse sentimento, e explica muito porque o Procurador-Geral da República Rodrigo Janot pediu a prisão deles, criando um conflito com o Poder Legislativo que agora o Supremo Tribunal Federal vai ter que mediar.
Só se acentua, nos últimos dias, o crescimento da reação internacional contra o impeachment de Dilma, no protesto formal em organizações latino-americanas, e, já agora, atingindo as Nações Unidas. Vem de par com a perplexidade diante da alegação de crime, por Dilma, quando as ditas “pedaladas” já se registravam como rotina nas apropriações orçamentárias do governo Fernando Henrique Cardoso.
A decisão do juiz Sérgio Moro de transformar em ré a jornalista Claudia Cruz, mulher de Eduardo Cunha, acatando a denúncia da força-tarefa da Lava-Jato que a acusa de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, vem acompanhada de teoria jurídica relativamente nova em nosso sistema, a da “cegueira deliberada”, e pode ter conseqüências graves, como já aconteceu com outros réus da Lava-Jato que tiveram parentes alcançados pela Justiça.
Os políticos que tentam desviar a decisão final pelo impeachment da presidente Dilma para o atalho da convocação antecipada de eleições diretas para a presidência da República sabem que a superação da crise institucional que estamos vivendo não passa pela volta ao poder da presidente afastada Dilma Rousseff , tanto que a proposta é que ela se comprometa a convocar as eleições antes mesmo da votação da etapa final no Senado.
Dez anos depois, Passarinho se insurgia: ‘Sinto-me entre revoltado e indignado quando vejo signatários do AI-5 posando hoje de madalenas arrependidas’
Não é trivial a decisão do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, de pedir para colocar na cadeia a cúpula do partido que está no poder.
Tive o privilégio de conhecer bem de perto o ex-ministro Jarbas Gonçalves Passarinho, nascido em Xapuri, no Acre, em 1920. De 1969 a 1972, foi um competente Ministro da Educação e Cultura. Costumava afirmar, bom orador que era, que devia a sua iniciação na área educacional ao meu livro sobre “Administração Escolar”, que fiz chegar às suas mãos pelo amigo comum, professor e general Antônio Figueiredo.
A interinidade está fazendo mal ao novo governo. Os “profissionais” da política, como eram conhecidos os caciques do PMDB, estão errando mais do que se previa. Até mesmo quando acertam deixam margem para questionamentos. É o caso da decisão anunciada ontem pelo próprio presidente interino Michel Temer de suspender as nomeações em estatais e fundos de pensão, até que seja aprovada uma legislação que proíba interferências políticas nas escolhas, que deverão ser eminentemente técnicas.