
A ânsia do inusitado
Pergunta: que setor da moda brasileira está em alta? Os trabalhos dos grandes costureiros, aqueles que aparecem nas passarelas, usados por modelos estilo Gisele Bündchen?
Pergunta: que setor da moda brasileira está em alta? Os trabalhos dos grandes costureiros, aqueles que aparecem nas passarelas, usados por modelos estilo Gisele Bündchen?
Olho para o monitor à minha frente e lembro como, faz tão pouco tempo, eu estaria diante de uma pilha de laudas em branco, ajeitando pelo menos duas delas na máquina de escrever, com uma folha de papel-carbono ensanduichada entre elas. Os erros eram apagados com uma sucessão de xis e as emendas feitas laboriosamente a caneta, resultando disso um texto imundo e desfavoravelmente comparável a um papiro deteriorado. Dicionário era na base do levantamento de peso e da lupa de leitura e descobrir se o nome de um sujeito era com q ou com k às vezes demandava até pesquisa telefônica. E, depois de escrever a matéria, ainda se tinha de enfiá-la num malote e rezar para que chegasse a tempo.
Desde a sua criação, nos idos de 1946, quando o Brasil reencontrou o caminho da democracia, o Sesc tem se dedicado a projetos de cultura e educação que ultrapassam as fronteiras dos seus mentores, empresários de comércio e serviços. Uma conversa com Abram Szajman, em São Paulo, é bem elucidativa desse empenho: “Hoje, estamos convencidos da importância da educação, que é parte integrante da cultura”, diz ele, enquanto desfila a série de projetos da instituição que preside.
Em 1985, quando falei como presidente nas Nações Unidas, tive uma pequena divergência com o Itamaraty. Eu mesmo trabalhara o meu discurso e tinha escrito: "Malsinado o homem que tiver vergonha de pensar na terra sem a companhia de Deus" e "o Brasil é um grande país mestiço que se orgulha de sua identidade". Eles me advertiram que a referência a Deus não era diplomática, uma vez que a ONU era uma instituição laica e tinha países de vários credos ou mesmo ateus ou agnósticos. A outra observação era que eu não podia falar em país mestiço. Não era de bom tom. Recusei as duas observações e mantive meu texto. Sobre ser mestiço, ressaltei que várias das mais altas expressões criadoras da nossa cultura provieram da mescla racial, da mútua fertilização das etnias.
Mais que a surpresa do próprio contemplado, o que espanta é a reação pelo recebimento do Nobel da Paz por Obama. Ao lado do aplauso, amplia-se um equívoco, entre mesquinho e ingênuo, para não se falar no prematuro da outorga do prêmio pelo Presidente americano. A distinção não tem nada de nostálgica, nem de outorga de uma honraria a um militante egrégio da luta pela paz. Mesmo porque esta se altera fundamentalmente hoje por uma nova e radical visão do que seja, após as hegemonias duras, um tempo das diferenças e de sua coexistência, num horizonte democrático aberto.
O nível grotesco da corrupção atingida por Berlusconi, na Itália, não dá trégua ao que de mais grave surge hoje do continente europeu: a paralisação das esquerdas nos sucessivos impasses, que marcaram a sua perda de poder nas últimas eleições do continente. O nível de abuso "Cavalieri" reflete a crescente impaciência destes dias, quando se dá um basta ao supermagnata da mídia, habituado a calar bocas, chegando à arrogância extrema da impunidade, por lei, à conduta sem limite dos poderosos.
Existe o convencimento de que o Brasil é o maior produtor mundial de livros didáticos, consumindo milhares de toneladas de papel, que é o insumo básico dessa indústria. Se fizermos um exercício futurológico, a primeira pergunta que se impõe é a seguinte: com o avanço científico e tecnológico, o que poderá mudar, nessa importante mídia pedagógica? Os livros, no formato tradicional, desaparecerão?
Outubro é um mês de muitas comemorações. Assim, temos o Dia das Crianças, a data da “descoberta” da América (estas aspas lembram o fato de que se tratou de descoberta para os europeus, não para os índios que aqui viviam), o Dia do Médico, e o aniversário da Revolução Russa de 1917.
A Receita Federal decidiu apertar o cerco contra fraudes em deduções do Imposto de Renda (IR) praticadas sobretudo pela classe média. "Para ampliar o limite de dedução com saúde, educação e dependentes, são inseridos filhos fictícios, tornando-se comuns declarações que mencionam filhos gêmeos e trigêmeos", informa relatório de inteligência do fisco ao qual a Folha teve acesso.
Aqui na ilha, depois do advento da televisão e das transmissões por satélite, acompanhamos de perto todos os eventos esportivos em que o Brasil se envolve, mantendo nossa intransigente tradição patriótica. Bem verdade que, de início, ocorreu certa estranheza quanto a alguns esportes a que não estávamos afeitos. Nos primeiros jogos de vôlei aqui exibidos, houve aqueles que comemoravam quando o Brasil metia uma bola na rede, na convicção de que, como no futebol, vôlei é bola na rede. A marcha, para citar apenas um outro exemplo, é desdenhosamente designada por muitos como “o remelexo” e a crença geral é de que o brasileiro não entra nessa modalidade porque pega muito mal aparecer rebolando na televisão para todo mundo ver, inclusive ou principalmente a sogra.
Ninguém tem a verdadeira noção da importância de possuir um cartão de crédito. Ainda mais se for Ouro. É que pessoa alguma se dá ao luxo de ler a documentação que o acompanha. Em primeiro lugar você é distinguido com uma carta personalizada do presidente de um dos maiores bancos do Brasil e às vezes do mundo. Ele diz que está muito feliz de ter sido escolhido por você e lhe agradece com uma dádiva extraordinária: “Para comemorar a sua escolha você acaba de receber o nosso cartão que permite comprar em quase todas as lojas do mundo”. Para concluir manda-lhe mensagem carinhosa: “Parabéns. Poucos podem ter este cartão, especial como você”.
Habilidoso, como sempre, o governador Aécio Neves fez um importante discurso em Diamantina, na solenidade em que foram entregues a diversas personalidades as Medalhas do Mérito JK. Mesmo estimulado pela oração anterior do ex-presidente Itamar Franco, que pediu a volta de Minas ao centro do poder, o neto de Tancredo Neves não “mordeu a isca” – e fez um pronunciamento de estadista muito mais do que de um político.
Mais do que as casas, as ruas de Brasília dão problema. Teotônio Vilela, que era um grande "causeur", sempre me dizia que a cidade fora feita para ninguém receber citação judicial, com endereços que apenas referem números e pontos cardeais, como em Nova York, tentando evitar elitismos e criando o primeiro deles, que é de saber, num tempo em que a maioria da população era candanga, quase analfabeta, destas coisas que marcam a Terra.
Para muitos, o assistencialismo é uma prática diversionista, pois camufla as necessidades reais profundas da nossa sociedade. É sempre difícil ao observador criticar os seus efeitos imediatos. Veja-se o caso do Bolsa Família, de que tanto se orgulha o Governo Lula. Há mais gente se alimentando, sobretudo nos estamentos mais pobres da população – e isso para os pragmáticos é o que interessa. No entanto, isso tudo tem um caráter eminentemente efêmero. Pode acabar com uma penada oficial – e o que restará? Possivelmente, mais gente revoltada, dada a perversidade do sistema implantado nos últimos anos.