
Conveniência do porão
Toda vez que estoura um escândalo, real ou não, os interessados se esforçam em desviar a atenção da sociedade, procurando saber quem e por que divulgou a tramóia, pondo o escândalo em plano secundário e até mesmo esquecido.
Toda vez que estoura um escândalo, real ou não, os interessados se esforçam em desviar a atenção da sociedade, procurando saber quem e por que divulgou a tramóia, pondo o escândalo em plano secundário e até mesmo esquecido.
Durante pelo menos duas décadas a máquina Rolleyflex foi a vedete das coberturas jornalísticas. Nos anos 60 e 70, quando as maiores revistas semanais do país eram a Manchete e O Cruzeiro, os fotógrafos empunhavam essa máquina, pesada e precisa, para as suas coberturas históricas. Forneciam as imagens necessárias para as grandes reportagens de David Nasser, Luiz Carlos Barreto, Jean Manzon, Joel Silveira, Murilo Mello Filho, Fernando Pinto etc. Foi com uma delas que Marcelo Escobar e José Avelino perderam a vida, na tentativa de cobrir as misteriosas ações de traficantes, em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. O trem virou, havia muita gente, mas só morreram os dois jornalistas da Manchete. Estranha coincidência.
Foi na palavra e com a palavra que o bicho homem saiu de sua normal animalidade para pensar e analisar o mundo que o circundava. Desde o começo da linguagem falada, a palavra entrou na memória e criou um signo específico para ajudar na preservação de coisas antigas. Na base de tudo estava ela, como ainda está. Quanto mais a quantidade real de palavras possamos ter armazenado, estaremos aprendendo a raciocinar e argumentar com mais clareza.
Devemos aos intelectuais do PT uma louvável contribuição à semântica nacional. Antigamente, quando os governos trocavam favores em troca de adesão, eram indistintamente acusados de fisiológicos. Agora, a fisiologia mudou de nome, tornou-se governabilidade.
Os jornais têm publicado páginas inteiras de publicidade sobre a fusão da Ambev, fusão da Antártica e da Brahma, com a grande cervejaria belga Interbrew, produtora de uma das cervejas mais vendidas no mundo inteiro, a Stella de Artois, que não há turista que a desconheça. Essa fusão é, tipicamente, uma operação gigantesca, no sentido exato da palavra, pois cria, com as três unidas, a maior cervejaria do mundo e, mais ainda, comandada do Brasil, que dispõe de quadros para essa obra complexa.
As datas inaugurais revestidas de grande conteúdo simbólico, geralmente, prestam-se à reflexão e, por que não dizer, a exercícios de futurologia.
Estou, nestes últimos meses, escrevendo um livro, provavelmente a minha despedida dos produtos impressos, sobre um dos maiores males de que sofre o Brasil, a burocracia. Para se ter uma idéia, a maior impressão que me causou a informação de Paulo Maluf, quando no governo e eu, com mais três companheiros, ocupava o lugar de seu assessor especial, com reunião diária de três horas, foi exatamente dessa terrível moléstia, que lhe come as fibras mais fortes de seu organismo.
Vocês pegaram a gripe que anda circulando por aí? Se não pegaram, ponham as mãos para o céu, empanturrem-se de suquinhos e vitamina C e não cheguem a menos de dois metros de ninguém. Maior algozaria não pode haver. Não é uma gripe, é uma peste bubônica mal disfarçada. Ainda estou com medo de morrer, entre calafrios, tosse convulsiva, coriza torrencial e demais manifestações humilhantes dessa doença, certamente das mais antigas que afligem a Humanidade e, para marcar nossa desprezível condição, até hoje invulnerável a qualquer tratamento.
Conta o poeta persa Rumi que Mo‘avia, o primeiro califa da linhagem de Ommiad, estava um dia dormindo em seu palácio, quando foi despertado por um estranho homem.
A reunião do G15, da qual o presidente Luís Inácio Lula da Silva se retirou antes de terminada, é dessas que se realizam periodicamente, desde que foi criada, para debater os assuntos, os problemas, as crises em que, periodicamente, se debate a América Latina. Isto porque a América Latina é dos continentes que mais crises assinala em sua história, com exceção da África, onde de tempos em tempos se matam a machadadas umas tribos contra outras tribos e fica, ao final, tudo por isso mesmo.
Sob as cobertas, os arrepios de frio. Vira-se de bruços contra o colchão e basta ficar quieto e logo começa a sentir calor. Do ângulo em que está, olhando a mesinha de cabeceira, o copo vazio é imenso, coando a luz da tarde. A garrafa de água mineral choca, a colher de remédio dentro da xícara de porcelana azul com frisos dourados.
Os antigos e os poetas épicos falam na roda da fortuna, para marcar tempos bons alternados com os maus. Já a nossa rainha da Inglaterra, Elisabeth II, que os da nossa geração conhecemos mocinha, ao lado do pai, o rei Jorge VI, nas fotografias da Segunda Guerra Mundial, preferiu a expressão latina annus terribilis, quando acossada pelo fogo entrincheirado dos tablóides londrinos revelando histórias escandalosas da família real, tendo à frente os amores de Lady Di e seu marido, o herdeiro do trono, Charles, sem falar nas noras de topless que brilhavam, não de todo pelo que mostravam, e mais pelo que demonstravam.
Esquecemo-nos de que hoje o âmbito da educação no mercado nacional chega aos seus R$ 12 bilhões anuais envolvidos, a responder por 10% da atividade negocial do País. Trata-se de macroatividade que encontrou dinamismos próprios e que tem condição, frente a uma política pública, ao mesmo tempo, de confrontar, à tarefa da educação, o teor ainda muitas vezes mal estimulado da sua atividade negocial. Demoraram esses últimos a aparecer, no que fosse investir no ensino, alinhando-se, à Carta de 88, a educação de toda idéia de constituir uma concessão, exercível por ação delegada do Estado e se mantendo fiel às características de um serviço público.
Não fiquei surpreso ao saber que Lula, segundo as últimas pesquisas, em termos de popularidade continua com bons índices. Aliás, sem nenhuma vocação para profeta, já havia comentado o fenômeno há meses: por pior que estejam o governo e o país, Lula continuará sendo o salvador, imune às contingências naturais da carne política. É um mito criado pela maioria do nosso povo. Negá-lo seria negar o próprio povo.
A presença de Martin Heidegger na filosofia deste século obrigou o homem de nossa época a alterar posições e a repensar diretrizes. Se o existencialismo de Kierkeggard possuía o caráter de uma angústia intensamente exprimida (e talvez por isso mesmo o fosse mais existencialista), faltava-lhe um ''método'' para que suas idéias se enfeixassem num verdadeiro sistema filosófico. Para o pensamento de Kierkeggard não havia necessidade de serem erguidos sistemas. Para Heidegger, no entanto, era necessário, antes dos primeiros passos, o estabelecimento de um ''método'' que pudesse culminar num sistema de pensamento. Daí, inclusive, a necessidade de inventar uma terminologia, de criar palavras próprias, capazes de exprimir o que sabe existir de novo em seu esforço filosofante.