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Artigos

 
  • Tranquilizemo-nos

    O Globo (Rio de Janeiro), em 24/10/2004

    Ninguém vai negar que temos fartas razões para um certo nervosismo, uma certa ansiedade, uma certa vontade de que parem o planeta para descermos. Confusão demais, controvérsia demais, pressão demais, informação demais, medo demais, tudo demais. Outro dia li que nós, brasileiros, como em outros terrenos notáveis, nos destacamos pelo consumo de bolinhas para acalmar e dormir. Dispomos de grande acervo de médicos compreensivos, capazes de dar receitas de ansiolíticos e similares qual candidatos distribuindo santinhos, e existem aqui e ali farmácias mais camaradas, onde o pessoal se recusa a participar da palhaçada e vende a bola que sabe que acabará sendo vendida de qualquer forma. Para não falar nas bolinhas paraguaias, que também são consumidas. Tudo pode ser paraguaio e, no boteco, me garantem que o Viagra paraguaio, bem mais barato, vem tendo circulação cada vez mais intensa, até porque não é só coroa que toma, são praticamente todos os homens, tudo morrendo de medo das mulheres e portando o aterrador e traiçoeiríssimo HMLV (sigla em inglês de Human Male Limpness Virus - peça aí a um amigo para traduzir, se você não entendeu; eu tenho vergonha de falar nessas coisas, só falo se for em inglês, que é chique). Contam-me, aliás, com perdão da digressão, que outro dia, num boteco aqui do Leblon, ouviu-se a revoltada voz de um cavalheiro, gritando lá de dentro do banheiro:

  • Apenas 45 minutos

    O Globo (Rio de Janeiro), em 24/10/2004

    EM TODOS OS SERVIÇOS E OS PRODUTOS que encontramos hoje no mercado há sempre a possibilidade de reclamar, escolher outra marca, ter sua queixa ouvida por algum órgão do governo. Mas existe uma coisa que está acima do bem e do mal: viagem de avião. No momento em que escrevo estas linhas, estou em um céu lindo, sendo bem atendido pelos comissários, fazendo uma viagem de 45 minutos entre Paris e Viena. Hoje, porém, resolvi cronometrar tudo. Saí de casa duas horas antes, porque é um vôo internacional. Precisei ficar, junto com outra centena de passageiros, 32 minutos na fila de checagem de segurança: a mulher encarregada estava conversando, e ai de alguém que ousasse dizer alguma coisa. Em seguida - isso jamais tinha acontecido, preciso reconhecer - os mais de cem passageiros ficaram como sardinha em lata em um ônibus, por 52 minutos, já que o avião tinha chegado tarde e não conseguira uma passarela livre.

  • Crise da justiça e arbitragem

    O Estado de São Paulo (São Paulo), em 23/10/2004

    Após reiterados estudos e debates, nos quais tomaram parte os nossos mais cultos e experientes juristas e advogados, com o pronunciamento sereno objetivo de nossos mais esclarecidos magistrados, creio que já foram determinadas as razões da tão malsinada crise da Justiça.

  • Debatendo os debates

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 23/10/2004

    Mais uma vez, e como sempre, estou na contramão do consenso, um dos quais, em época eleitoral, é a importância do debate na TV entre os candidatos a cargos eletivos. Os marqueteiros e colunistas especializados acreditam que Kerry diante de Bush, ou Marta diante de Serra, consumidos pelos milhões de telespectadores que acumulam a função de eleitores, ganharão ou perderão de acordo com a performance diante das câmaras.

  • Onde a besta morreu

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 22/10/2004

    A semana termina cheia de notícias: os juros, na sua trajetória de gangorra do sobe-e-desce, depois de descerem, agora sobem; a Fórmula 1, que, para o meu gosto, é uma das coisas mais monótonas e chatas do mundo, faz sua última corrida do ano em Interlagos; Schumacher chega de mau humor e, questionado sobre "se gosta do Brasil", responde de cara feia: "Adoro o Brasil, mas prefiro quando posso ficar em paz no quarto". E um prefeito do interior de São Paulo, quando lhe cobram programas de cultura, responde convicto: "A cultura pode esperar, é algo que se pode definir como um pepino"; as eleições municipais chegam na reta final do segundo turno e as batidas cardíacas dos candidatos e aderentes aumentam com a chegada do dia D e com as pesquisas de opinião pública, que neste ano sofreram muitas contestações e mudanças de metodologia.

  • Bush, resignação e furor cívico

    Jornal do Commercio (RJ), em 22/10/2004

    O "New York Times", a quinze dias do pleito, declarando-se em apoio frontal a Kerry, mostra ao mesmo tempo o ineditismo de um pronunciamento de franqueza-limite em favor do candidato, e a consciência da gravidade da opção que defrontam os americanos a 2 de novembro próximo. Não é mais, inclusive, o imperativo de uma oposição comum e generalizada ao atual ocupante da Casa Branca que alimenta a candidatura Kerry. A partir dos debates - e o "Times" não esconde até a grata surpresa - impôs-se a intrínseca qualidade do democrata, e a sua capacidade de equacionar fórmulas e programas para o imediato futuro americano.A dominância das sugestões internas, por outro lado, em nenhum momento retirou Kerry da contundente oposição a Bush na catástrofe iraquiana, sem fugir ao realismo de uma permanência ainda dos Estados Unidos no fulcro da conflagração, acarretada pela cruzada bushiana.

  • Homem de caráter

    Diário do Comércio (São Paulo), em 21/10/2004

    Não conheci, pessoalmente, Fernando Sabino, que faleceu no início da semana. Conheci sua obra, e aqui a elogio, os romances, os contos e as crônicas, toda a obra de alto valor literário. Vi-o uma vez numa das redes de televisão. Ele e a filha, cantora. Ele deu uma entrevista ao locutor e a filha cantou músicas brasileiras. Mas se não o conheci, dele tenho notícias, todas elogiosas ao ser humano amigo dos amigos, bondoso sem afetação, e pleno de humor, que encantava seus inúmeros amigos.

  • Vale de lágrimas

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 21/10/2004

    O almirante Faria Lima foi o último governador biônico do então Estado da Guanabara. Durante o seu governo, houve a fusão com o Estado do Rio, a maior truculência cometida pelo regime militar contra os cariocas e fluminenses.

  • Nazismo com Perón

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 20/10/2004

    Este meu livro Crônica de uma guerra secreta, lançado agora no ocaso de minha vida, tem como pedra angular uma aventura de mocidade que já fez mais de meio século (1944-1946), ao tempo do reino de Perón e Evita Duarte. Trata-se de uma aventura, que conservei até hoje em segredo absoluto, até mesmo de minha mulher e filhos, consistindo em penetrar nos recintos mais vigiados do Archivo General de la Nación e fotografar documentos ultra-secretos, altamente comprometedores, do governo argentino. Isso, vale salientar, muito antes de James Bond nos ter ensinado o caminho.

  • Paixão segundo Sabino

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 20/10/2004

    Boa a repercussão da morte de Fernando Sabino na imprensa. Mais que merecida. Contudo, na maioria das notas publicadas, houve a reincidência de uma crítica profundamente injusta ao fato de Sabino ter escrito um livro cujo personagem principal era a ex-ministra Zélia Cardoso de Melo.

  • Lembrança de Jorge Amado

    Diário do Comércio (São Paulo), em 20/10/2004

    Li, quando foi lançado, um livro interessante sobre Jorge Amado. De autoria de Hana Gooldstein. O Brasil, best selller de Jorge Amado chama a atenção do leitor para o interesse de Jorge Amado em focalizar o Brasil, só o Brasil, em todos os seus livros, que foram numerosos durante a sua gloriosa carreira de escritor e acadêmico. Jorge Amado foi prolífico e criou tipos que ficaram na memória de seus leitores, como Gabriela, os "turcos", pelos quais demonstrava simpatia, e outros.

  • Presença de Fernando

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 19/10/2004

    Que dizer de Fernando Sabino, que nos deixou há poucos dias? Que era um grande escritor? Era, mas não só, porque ele foi também uma das grandes figuras do nosso stablishment cultural, que fala por nós e nos representa. Desde os anos 40 do século XX, quando sua inquietude começava a se transformar em livros, passou a ser um ponto de referência obrigatório em nossa literatura.

  • A crise na VASP

    Diário do Comércio (São Paulo), em 19/10/2004

    Para completar o quadro de crises em que se debate a aviação civil, temos o caso da Vasp, impedida pelo Infraero de decolar, enquanto não efetuar o pagamento do que lhe deve; o pedido de falência da GE e as demissões de pessoal, contra a qual se mobilizou o sindicato da categoria. Evidentemente vai se procurar um entendimento, mas dificilmente a empresa escapará de sanções ou de um colapso, exatamente a empresa que tem as iniciais de São Paulo.

  • Reconsidere, Ministro!

    O Globo (Rio de Janeiro), em 18/10/2004

    Meu caro Gilberto Gil, você agora está ministro e vai bem. Traz uma imagem forte a uma pasta com poucos recursos. Mas foi outro Gil, o excelente músico e letrista instigante, que sempre fez parte da minha vida. É a seus versos que recorro para sair do recolhimento que busco, neste tempo de holofotes, realces e quanto mais purpurina, melhor. É mesmo sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar.

  • O menino triste

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 18/10/2004

    Semana passada, escrevi sobre o marinheiro triste, poema de Manuel Bandeira que é recorrente na minha vida e na vida de muita gente. Hoje falo do menino triste, que é mais ou menos a mesma coisa.