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Discurso de recepção

Discurso de recepção por José Veríssimo

RESPOSTA DO SR. JOSÉ VERÍSSIMO

Sr. João Ribeiro:

Elegendo-vos, não cuidou a Academia fazer-vos favor tão grande que por ele se apagasse em vós o pessimismo. E se não o houvésseis definido como “aquela parte da alma, que é a substância dolorosa e covarde do nosso ser”, talvez eu lastimasse a vossa eleição. No sentido comum, o pessimismo é talvez a fonte de todo o progresso, se não de todo bem. É a expressão de um descontentamento que procura melhor. Cultivemo-lo, pois, como a flor de um fruto substancial. E se fosse, como dizeis, a Academia teria o pesar de vos haver privado de um dos encantos do vosso espírito.

Mas, por bem nosso, essa feição conservais inteira. O vosso belo discurso o mostra, e nós esperamos que o nosso comércio não há de alterá-la. No que chamastes o vosso pessimismo há uma porção de coisas que a Academia Brasileira – sem embargo do nome malsinado – aprecia e espera apreciar sempre. Com o espírito de paradoxo e de oposição, que realça o vosso talento e lhe dá um feitio especial e vosso, casa-se bem em vós, não sei se não diga a amargura, o anelo, o desejo estético de civilizações, de arte, de comodidade e de gozo, que só efemeramente pudestes contemplar, sem talvez haverdes podido penetrá-las e vivê-las. É esta mesma descorrelação – que, ai de nós! não é um privilégio vosso – entre as vossas ambições, os vossos sentimentos e o nosso meio, que afeiçoou o vosso espírito, dando-lhe os traços que nos seduziram em vós.

Deixando a vossa terra natal por esta Meca dos nortistas, já acaso os trazíeis. Ela não fez senão acentuá-los. Com o desejo de aprender e a ambição de glória literária que só esta capital, lá imaginamos, pode dar, trazíeis também a ilusão de uma grande cidade, culta, civilizada e bela. A falácia da ilusão aumentou o contraste, e serviu admiravelmente ao desenvolvimento das qualidades originais de vosso espírito. A “Corte” não vos deslumbrou suficientemente, a vós, pobre matuto de uma província ignorada, para absorver-vos e acomodar-vos a seu jeito. Do agreste rebelde dos vossos sertões ficou-vos alguma coisa com que defendestes até hoje a vossa originalidade. E essa, crede-o bem, a Academia não quisera contribuir para tirar-vos ou sequer diminuí-la.

Na vossa bagagem de estudante pobre, como é, aliás, comum na dos peregrinos como vós, vinham também alguns versos, que pretendíeis intitular Idílios modernos. Não é vulgar que os títulos dos livros de versos signifiquem alguma coisa. O do vosso, aliás com ele nunca publicado, desmentia essa regra. Havia de fato neles, com o lirismo próprio das conversas de amor, uma nota da nova poesia, com a sua exagerada, e, permiti-me dizer, viciosa preocupação dominadora da forma, e os seus ideais humanos, científicos, sociais, históricos. São bem indicativos dos dois sentimentos os versos do “Esboço” e da “Criação”.

Apresentou-vos ao Rio de Janeiro um vosso comprovinciano já ilustre e nosso confrade estimado. Não sois vós sem dúvida o único que lhe deve esta benevolência, convosco de todo o ponto merecida. Os vossos versos de Dias de sol e da Avena e cítara puseram-vos em contato com os poetas vossos êmulos e com o mundo literário fluminense. Isto acontecia por 1883 e 1884, vós havíeis aqui aportado em 1881, na bela idade de vinte anos. Dez anos antes surgira um movimento literário que, tendo talvez origem no Norte, aqui se concentrou e se desenvolveu produzindo uma nova geração de poetas, de escritores, de cientistas, como outra se não vira desde o nosso Romantismo. Estava-se já no fim dele, à vossa chegada. Uma grande preocupação social, a emancipação dos escravos, dominava com justo motivo todos os espíritos. As letras e a poesia, por honra sua, puseram-se ao serviço de uma causa da qual se pode falar com prazer na Academia. Alguns dos que a venceram são nossos confrades.

Não devíeis voltar à poesia – e, ainda mal! para, ao que parece, abandoná-la sem motivo e ingratamente – senão em 1889, com o vosso pequeno livro de Versos, no qual fizestes, com ciosa escolha, a recolta da vossa produção poética de dez anos. Esses versos não se parecem com nenhuns da época. Não direi se são superiores ou inferiores aos outros. São diferentes, é o que verifico. Mais de um poema deles revelava preocupações filosóficas, o gosto das idealizações históricas, o sentimento da natureza no seu aspecto, por assim dizer, psicológico. Essa poesia não tinha os arrebatamentos, os entusiasmos, os excessos então em moda. Era medida e fria. Não vos tínheis ainda então posta em contato com a Germânia; mas, salvo o sensualismo que é porventura a mesma alma da arte, nada talvez traía nelas o tropical, latino-americano. Tiro ao “Muzeon”, como intitulastes uma série de sonetos – que vieram alguns anos antes dos de Heredia – esta amostra:

Do mar e das espumas tu nasceste,
Ó forma ideal de todas as belezas,
Inda teu corpo, mal vestindo-o, veste
Um colar de marítimas turquesas.

Milhares de anos há que apareceste,
Outros milhares d’almas sempre acesas
No teu amor, lá vão seguindo presas
Da tua garra olímpica e celeste.

Beijo-te a boca e sigo embevecido
Ondas sobre ondas, pelo mar afora,
Louco, arrastado qual os mais têm sido.

Ora te vendo as formas nuas, ora
Toda nua a sentir-te em meu ouvido
Do eterno som dos beijos meus sonora.

A vossa vida fora como a de outros que iguais ambições desenraízam do torrão natal e que devem tirar da própria seiva a vida que precisam viver: o ensino, o jornalismo mais ou menos literário, até que viesse o emprego público como o ideal da existência garantida. O ensino vos levou ao estudo gramatical da nossa língua e este à filologia, porque vós sois, ou fostes ao menos, um dos nossos filólogos.

Por essa época, meados do decênio de oitenta, os estudos da Gramática Portuguesa aqui entraram a revelar a influência da aplicação do darwinismo à Lingüística, feita na Alemanha muitos anos antes. Os nossos filhos viram assustados derrubada como infame toda uma nomenclatura gramatical inteira à qual, mesmo antes de estudarem Gramática, já se haviam habituado. Nós achamo-nos ignorando por completo aquela disciplina, que cheia de denominações biológicas e termos gregos de árdua pronúncia, se nos afigurava coisa absolutamente nova, difícil e impenetrável. Os programas oficiais sancionaram essa ciência de palavras e os gramáticos, para não falharem ao provérbio, discutiram com tanto mais convicção e prazer que não se entendiam, nem eram entendidos. Não creio que a língua haja lucrado com essa moda. Ela, felizmente, como todas as modas, passou, ou pelo menos fez-se modesta e obscura. Ninguém mais crê que a língua seja um organismo e que a nomenclatura biológica e filológica concorra para a gente falar e escrever bem, que é no fim de contas o objeto da Gramática.

Vós tivestes a vossa parte nesse movimento, cuja utilidade não pretendo de todo negar, apesar do que teve de inconsiderado e irreflexivo. De todos nós sois talvez o nome mais popular no Brasil. Oh! eu sei que a popularidade vos repugna, e conheço o vossa pensamento sobre ela. Mas, não há furtar-vos a ela. Um milhão de brasileiros conhecem o vosso nome, tanto o levaram a todos os recantos do país, ao caboclinho do Amazonas, como ao teuto-brasileiro do Rio Grande, ao caipira de Mato Grosso, como ao tabaréu de Pernambuco, as vossas gramáticas. Nós invejamos a vossa glória. Partilhai-a conosco pondo nas novas edições delas – pois continuam a ter novas – a menção: da Academia Brasileira.

Eu não sei avaliar o merecimento, a perfeição das vossas gramáticas, mas seria impossível desconhecer nelas uma qualidade pedagógica relevante, a clareza. Vós sois o mais claro talvez dos nossos gramáticos, porque achastes o meio de escrever bem e elegantemente fazendo gramáticas.

Pusestes assim à prova uma das vossas qualidades, a clareza, qualidade que é, vós o sabeis, “a probidade do escritor”. Qualquer que seja o nosso juízo do vosso espírito, do vosso pensamento, das vossas idéias, do vosso temperamento literário, não pode haver dúvida sobre esta qualidade do vosso estilo. Ela se revela em todos os vossos escritos, Estudos filológicos, Memória sobre a Instrução Pública, Tese de Concurso, História antiga, Gramáticas, Dicionário gramatical, contos, folhetins, crônicas, artigos de jornais ou de revistas, críticas de arte, impressões de viagem.

Se a nossa eleição vos satisfez como aprouve à vossa cortesia dizer-nos, a Academia não quer outro prêmio que o de não a deixardes sem emprego em obras numerosas e boas, como ela e a nossa literatura esperam de vós. Há em vós, como artista, um insatisfeito. E não me arreceio também de dizer, um inconstante – por tal forma é este defeito, e por causas sabidas – vulgar no nosso mundozi¬nho literário. Eu creio que o poeta dos Versos e o contador de S. Boemundo, que, como um homem da Renascença, é também um erudito e um pintor, deve à literatura brasileira as criações que me parecem um programa na feição artística do seu espírito.

Quem nos dera que a nossa companhia vos fosse efetivamente uma animação para tentá-las.
A poesia que tão cedo abandonastes, não a deixou jamais o escritor a quem sucedeis. Não sei se este não é o sinal dos verdadeiros poetas, a impossibilidade de repudiar a poesia. Luís Guimarães Júnior foi neste sentido um verdadeiro poeta. Ele poderia, talvez, dividir a sua vida, em anos de prosa, e anos de poesia. Estes, os últimos também da sua existência, foram porém mais numerosos, mais ilustres e, pela qualidade da produção ao menos, mais fecundos. A sua prosa, mesmo, inspirou-a a musa ligeira do folhetim alado, leve, literário, artístico, a poesia graciosa do conto alegre, brincalhão, ingênuo. Quando ele publicou, no período literário referido, a sua lírica com o título de Sonetos e rimas, já dera a lume quatro volumes de historietas e contos, mas são os seus versos de uma tão fina e voluptuosa sensibilidade, que o fizeram admirado e querido. E foi certamente o poeta acabrunhado pelo máximo infortúnio que possa sobreviver a um escritor, que os formadores da Academia quiseram glorificar nele quando o foram, longe da pátria, chamar para o seu seio. Não é, porém, esse único livro de versos toda a sua produção poética. E o que ele deixou publicado dispersamente em periódicos diversos ou inéditos, daria, parece, outros volumes. Não há muitos dias, um dos seus últimos poemas publicado num jornal desta cidade nos comovia a todos.

Luís Guimarães Júnior é da geração ilustre de Ferreira de Meneses, Joaquim Nabuco, Visconde de Taunay, Joaquim Serra, Franklin Távora, Castro Alves, Sílvio Romero, Rosendo Muniz. Ele teria talvez um lugar assinalado na Vida da Boêmia de Murger, se São Paulo e o Recife fossem o Quartier Latin. Estava-se ainda então nos restos do Romantismo e do romanesco literário.

Apesar do exemplo formidável de Hugo em contrário, não se compreendia que um poeta fosse um indivíduo sóbrio e reportado. Ainda os haverá que assim pensem. Mas passam breves esses belos anos. A vida, mesmo para os poetas, tem exigências duras. A formatura põe um ponto final às jovialidades da mocidade, dispersa os companheiros, separa os amigos. Ela abriu para Luís Guimarães primeiro o jornalismo literário, depois a diplomacia: ele encontrava aí antecessores ilustres, Magalhães, Porto-Alegre, José Maria do Amaral. A sua vida diplomática não foi, certo, muito fecunda em notas, mas os seus versos sobram-nos como compensação.

Luis Guimarães Júnior aliou excelentemente a correção um pouco árida dos parnasianos com o nosso exuberante e voluptuoso lirismo. Foi, como a maior parte dos nossos poetas, um amoroso sentimental, com as finuras e as delicadezas que o cultivo dos salões diplomáticos haveria imposto ao seu temperamento. É um subjetivo, como todo o verdadeiro lírico. Possui muito em relevo as qualidades à nossa poesia inerentes, herdadas da portuguesa umas, afeiçoadas por nós outras: a saudade, a nostalgia, a volúpia, a blandícia, o carinho na lubricidade do amor. E com isto, uma sensibilidade mórbida, mas talvez de superfície, de manifestações intensas, mas fugaces.

Perdoai-me, senhores, a distração: ia esquecendo que não devo dizer senão todo o bem que pensamos do nosso ilustre e querido confrade. Volto a lembrá-lo na sua glória, pedindo-vos recordeis este soneto, que é um dos mais belos do seu livro e testemunho dos meus conceitos; intitula-se “Paulo e Virgínia”:

Fomos um dia, alegres, estouvados,
Ao clarão matinal do sol nascente,
Colher as flores do vergel ridente
E as primeiras amoras dos cercados.

Venturosos, risonhos namorados,
Cada qual mais feliz e mais contente,
Esquecemos a terra inteiramente:
Doidos de amor, de gozo embriagados.

Seus cabelos – enquanto ela corria,
Voavam, loiros como a luz, dispersos!
Eu a chamava e ela me fugia.

Por fim voltamos em prazer imersos:
E das venturas todas desse dia...
Resta a saudade que inspirou meus versos.

Para entender estes versos, para compreender as sensações que deles ressumbram, os sentimentos que delas ficaram, as impressões que deixaram na alma do poeta, não há mister, creio ingenuamente ao menos, termos, como dizeis, senhor, a constituição original desses seres chamados poetas. Basta sermos homens e sermos humanos. E esta nossa capacidade geral de compreensão, podemos estendê-la a todos os versos de Luís Guimarães Júnior. A sua poesia, como toda a grande poesia, desde Homero até Tennyson, é clara, simples, natural.

A poesia – como toda a forma da arte – não é o que dela quer fazer um pensamento sutil, tentador, mas – e sinto estar em desacordo convosco – falso. A arte não é uma invenção pessoal. É o produto de uma emoção individual, sim, mas social e humana. É tão espontânea e natural como a linguagem; uma forma de expressão tão legítima e tão clara como esta. O fim social da linguagem é a expressão, a transmissão, a comunicação de sentimentos. Não é outro o fim da Arte. Ora, ela não realizaria este fim se não fosse entendida senão por uma escolha de espíritos. E, vede a falácia e o perigo de semelhante critério: considerando nisso a sua superioridade, a Arte, o artista, procuraria propositalmente que menor fosse o número dos que o compreendessem, rebuscando nesse afã doentio com a obscuridade da idéia a obscuridade da sua expressão. E já alguns vão, por mal deles e nosso, nessa direção enganosa e errada.

Façamos, pois – e não podendo fazê-la, admiremo-la – somente a Arte humana, a Arte de homens para homens, não a Arte de artistas para artistas, de estetas para estetas, arte egoísta e má, mas a Arte do mesmo profano vulgo compreendida. A arte não é, não pode ser, um brinco e um divertimento, um simples passatempo de desocupados. Ela mereceria o desprezo dos que tais artistas chamam o burguês, se não fosse senão isso. Produto das faculdades emotivas da humanidade, é um órgão dos seus sentimentos, uma expressão da sua vida. O mais individual dos artistas ainda é um resultado das reações sociais. Toda a história da Arte, toda a história do espírito humano, o sabeis melhor do que eu, vós que sois mestre de História, contesta e desmente essa teoria tão contrária ao vosso claro espírito. Os grandes artistas de todos os tempos, os grandes poetas da humanidade, só são obscuros para os comentadores. Nós o vulgo os compreendemos à primeira leitura, apesar das diferenças dos tempos e dos meios. É que eles souberam, a muitos séculos de nós, sentir as emoções que ainda hoje experimentamos e – o que nós não sabemos fazer – souberam exprimi-las excelentemente dando-nos a nós a funda consciência dos nossos próprios sentimentos, e emprestando-nos a sua língua divina para exprimi-los. Eles são, sem nenhuma anfibologia de oráculos, os intérpretes de nós mesmos, os idealizadores do passado, os mestres do sentimento, os vaticinadores do futuro. E não me arreceio de dizer, uma Arte que só os iniciados penetrassem, seria como uma Indústria secreta só por uma minoria de iniciados exercível. O seu desaparecimento não prejudicaria o mundo.

Imaginais vós um mundo sem Arte, um mundo sem poesia? Se não, ela é mais alguma coisa que a preocupação de versejadores inúteis. Mas vos sabeis e entendeis como eu que ela faz parte da nossa atmosfera espiritual e que sem ela sufocaríamos. Acabais de dizê-lo, a literatura tem uma grande significação humana e civil. Dela excluireis, por acaso, a poesia? Não; por isso pudestes falar tão bem de Luís Guimarães Júnior, poeta simples, natural e fácil, que forneceu à nossa nostalgia, à nossa saudade, ao nosso amor paterno, à nossa afeição conjugal, ao nosso amor da mulher e da vida, a tradução inteligente e sentida dos seus versos.

Tendes talvez razão em dizer que, como ele, tão cedo não teremos outro. Os que lhe são comparáveis, são seus contemporâneos e aprenderam a dizer as mesmas coisas que ele e pela mesma forma. São o produto da mesma sociedade, que hoje vos parece conturbada pela invasão de novas gentes. Reconhecendo-o, previno-vos, não estais inteiramente naquela teoria de uma espécie de arte hierática e misteriosa, só dos iniciados compreensível, que parecíeis aceitar. Não cuideis que eu vá chamar-vos incoerente. Penso compreender todas as gradações da vossa idéia e procuro conciliá-las. As teorias estéticas são por sua mesma natureza se não vagas, cheias de matizes.

É certo, e não o lastimo, a nossa sociedade entra em um novo período, ou, como dizeis, em um novo clima incapaz de recompor a flora antiga. Fará outra, consolemo-nos; e nas palmeiras dessa cantará de novo o sabiá do poeta. Será talvez tão melodiosa como a primeira? Haverá também quem a ouça e quem a repita. É possível mesmo que ela seja mais bela ou que a achem mais bela. Outras gentes terão ajuntado à nossa melodia nativa a sua harmonia racional; às nossas emoções inconsideradas, a sua reflexão ponderada; à nossa voluptuosidade desenvolta a sua sensualidade composta; ao nosso sentimento a sua razão. O perigo, se perigo é, seria que então não nos pudessem ler mais a nós. Quem nos diz que em um país ameaçado – e ainda bem – dessa invasão pacífica e proveitosa – as academias não poderiam recuperar essa razão de ser que muitos lhe negam? Caberia então à Academia Brasileira, que com tanta satisfação vos recebe hoje, salvaguardar a língua em que cantou Luís Guimarães Júnior. Vós, gramático e artista, nos ajudaríeis nisso. E então veríamos se há numa nacionalidade algum órgão mais essencial que a literatura, que é a expressão, superior às contingências da política e da história, da própria nacionalidade.