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Artigo

  • A qualidade de vida ataca novamente

    O Globo (Rio de Janeiro), em 25/12/2005

    Claro, eu sabia que não ia durar muito. Há bastante tempo minha qualidade de vida tem sido de baixíssimo nível e, como se sabe, é impossível sobreviver hoje em dia sem cuidar da qualidade de vida. Do contrário, o sujeito morre depois de ler as seções de saúde dos jornais, tamanho é o terrorismo que fazem em relação à qualidade de vida. Devia haver um aviso nessas seções, advertindo que sua leitura contumaz leva a todo tipo de doença imaginável. Eu, apesar das exigências de minha atividade jornalística, procuro evitá-las, mas não adianta porque os efeitos delas se alastram como fogo em mato seco, a começar pela própria família do sofrente.

  • Será saudade?

    O Globo (Rio de Janeiro), em 18/12/2005

    Luta vã, a de tentar mudar de assunto todo domingo, sem conseguir. Ia tratar de um assunto sério, como a minha volta ao calçadão - manhã, naturalmente. Não mudei absolutamente de idéia quanto a andar no calçadão, que continuo achando uma das atividades mais chatas jamais concebidas e nunca, depois de meses de insistência, senti o famoso bem-estar pós-caminhada. Meio danoso para minha auto-estima, porque devo ser alguma espécie de anormal, a quem sempre será negado o inefável barato das endorfinas. Padeço do que um médico poderia xingar de anendorfinia, privado de nascença dessas fantásticas substâncias. E há também as humilhações adicionais, como a do capenguinha que curte com minha cara, me deixando a comer poeira com quatro ou cinco de suas passadas fulminantes. Devia haver alguma norma contra a manobra empregada por ele, um impressionante movimento giratório nos quadris, que lhe transforma as pernas num compasso enorme e, que, em rotatividade turbinada, o põe a quilômetros de mim em poucos segundos.

  • Salvando a pátria

    O Globo (Rio de Janeiro), em 30/10/2005

    Sobrolho franzido, ar tão grave quanto lhe permitem os bermudões e as sandálias velhas, o escritor abandona de supetão o teclado e resolve descer à rua. Está difícil escrever hoje, nesta primavera londrina que o Rio de Janeiro tem vivido, com o céu sempre carregado e o sol foragido. Paradoxalmente, o que aflige o escritor não é o que, pelo menos de acordo com o folclore do ramo, volta e meia se abate sobre os que escrevem com obrigação e prazo, ou seja, a famosa falta de assunto. É justamente o contrário, é o excesso de assuntos. E, na distante juventude, tempo em que se estudava latim, ele aprendeu que quod abundat non nocet - o que abunda não faz mal. (Carece de suporte linguístico a tradução, corrente nessa época, por “quando a bunda não é nossa”.) Portanto, não teria razão de queixa.

  • Queremos ser modernos

    O Globo (Rio de Janeiro), em 23/10/2005

    Não dei sorte, porque ainda peguei a fase em que não dar cachação em menino era considerado “pedagogia moderna” e coisa de frescos (que tinham que ser muito machos para encarar a barra que era ser fresco naquela época). Então, como o velho sempre pendeu, apesar de uns passageiros surtos de esquerdismo, para um certo conservadorismo, caí muito no cachação. Tenho vasta experiência, pessoal ou indireta, com a pedagogia antiga. Encarei muita surra de cinturão e palmatória, mas nunca me ajoelharam em milho, é uma falha em minha formação. Sempre havia alguém que tinha ajoelhado em milho, alguns enquanto rezavam um rosário, outros entoavam frases sonoras sobre suas culpas, muitas das quais tão floridas e elaboradas que o castigado nem as entendia, como por exemplo “estulto estou por falta de estudo e estulto não estarei se isto tudo estudar”. Lido assim, pode até parecer moleza, mas imagine isso encostado num canto de parede, uma mão levantada acima de sua cabeça e você tendo de dizer tudo com clareza dezenas de vezes encarreiradas. Essa não era, graças a Deus, do repertório lá de casa, era de um colega meu. Havia narrativas mitológicas sobre o que faziam às crianças que agiam mal. Fiquei, creio eu, mais ou menos na média para minha turma da época, se bem que meu pai era hors-concours , justiça seja feita.

  • Somos todos uns trouxas

    O Globo (Rio de Janeiro), em 16/10/2005

    Poucas vezes testemunhei tamanha confusão em relação a um problema de interesse geral como nessa história do Sim ou do Não para um artigo do chamado Estatuto do Desarmamento. Concluí, em visão talvez simplória, que não iam desarmar os bandidos, que iam fomentar toda uma economia delinqüente em torno do tráfico ilegal de armas e munições e que tais circunstâncias me justificariam dizer “não” à diabólica pergunta a que vamos ter de responder. Assisti a discussões de pessoas esclarecidas, que não conseguiam avaliar o significado de um “sim” ou “não” na hora do voto. O que o “sim” significava para uns queria dizer o contrário para outros. Vi gente quase sair no tapa por causa disso e eu mesmo me peguei cheio de incertezas bem na hora em que começava a achar que tinha certeza.

  • O desarmamento num boteco do Leblon

    O Globo (Rio de Janeiro), em 09/10/2005

    Como é, já resolveu seu voto no plebiscito?- Já, já. Demorou, cara, foi uma discussão braba lá em casa. Muita opinião divergente, sobre se o SIM queria dizer que a gente não queria a proibição ou o contrário, você não imagina a discussão. Acabamos chegando à conclusão de que é o NÃO mesmo. Todo mundo lá vai de NÃO.

  • Vou votar contra

    O Globo (Rio de Janeiro), em 02/10/2005

    Faz quase dois anos escrevi aqui contra a lei que deverá proibir o comércio de armas no Brasil. Fico meio (serei moderno e vou usar essa palavra; todo mundo usa e preciso ser moderno ou perecer) sacaneado, quando me põem no bolo dos “babacas da mídia”, que só defendem direitos humanos para criminosos e trabalham pela aprovação de leis como essa do desarmamento. Nem sei que babacas são esses, eis que babacas há em toda profissão ou condição social, mas escrevi aqui contra o tal desarmamento. Precisava até de mais espaço do que o muito que já me dão, de forma que não é para poupar trabalho que reproduzo três parágrafos daquele texto. É porque iria os repetir, com outras palavras. Escrevi o que vai grifado abaixo:

  • Os Independentes do Ritmo

    O Globo (Rio de Janeiro), em 27/11/2005

    O nome acima era afetuosamente usado para designar um conjunto musical que fez breve carreira na Salvador de meu tempo, que os anos não trazem mais. Eram os Independentes do Ritmo porque cada um tocava para um lado. Lembrei-me deles agora, depois de assistir a um nobre deputado cujo nome me escapa passar uma eternidade para fazer uma pergunta ao ministro Palloci, se embaralhando todo, ao ponto de esquecer a pergunta. Fiquei aliviado quando o ministro, que não pode ser levado na conta de burro, disse que não tinha entendido, porque eu também não tinha bispado nada. Aí a bola voltou para o deputado, que fez umas embaixadas e lavrou jóias da oratória pátria, tais como “V. Excia. sabia de que”, amaciou a pelota, deu umas duas cabeçadas, aparou na coxa e perguntou algo ainda difícil de entender mas patentemente anódino, cuja resposta não tive paciência de esperar.

  • Elementar, caros leitores

    O Globo (Rio de Janeiro), em 20/11/2005

    Na fala cotidiana, aprendemos a identificar Estado com governo. Para os brasileiros, a confusão é ainda facilitada pelo fato de vivermos, pelo menos nominalmente, numa república federativa, onde os estados-membros são chamados também de estados. Então, quando alguém fala em Estado, a gente pensa em São Paulo, no Rio, no Amazonas, na Bahia e assim por diante.

  • Admirável futebol novo

    O Globo (Rio de Janeiro), em 13/11/2005

    Sou craque do passado, como sabem os persistentes e pacientes leitores desta coluna. Hoje em dia nem as posições dos times têm mais nomes fixos e todo dia aparece uma especialidade como, vamos dizer, “ala volante avançado rotativo”, que ninguém sabe o que é. Comecei na ponta direita, mas minha única jogada era dar um chutão para a frente perto da linha lateral e sair correndo atrás da bola (eu corria bem, esse negócio de o capenguinha me pegar no calçadão é porque ele pega qualquer um), para ver se a alcançava e conseguia centrar. Logo me puseram na posição mais ou menos equivalente à de zagueiro hoje em dia. Eu era beque direito no time de Itaparica contra os veranistas, de inesquecível trio defensivo: Nego Tóia, Delegado e Chico Gordo. Delegado era este ex-atleta que lhes fala.

Notícia

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