
Indenizações
O deputado José Genoino declarou ter desistido da indenização que havia postulado à Comissão de Anistia. Ficou sabendo que receberia R$ 60 mil, o que é pouco para quem lutou na guerrilha do Araguaia.
O deputado José Genoino declarou ter desistido da indenização que havia postulado à Comissão de Anistia. Ficou sabendo que receberia R$ 60 mil, o que é pouco para quem lutou na guerrilha do Araguaia.
Há 40 anos morria Cecília Meireles. Num famoso verso definiu-se como ''pastora de nuvens'', temperamento propício ao fluido e ao etéreo, viajante perdida do porto de si própria. Daí, portanto, as sucessivas viagens que empreendeu - na tentativa de encontrar no outro, na aventura, a promessa de uma unidade impossível de localizar em si mesma. Dentre os tantos ''outros'' que acolheu em seus versos, destaca-se a cultura do Oriente (em particular, a indiana), que a fez criar um de seus mais belos - e menos conhecidos - livros: os Poemas escritos na Índia. Embora publicados apenas na década de 1960, trazem no subtítulo a menção ao ano de sua escrita: 1953. No ano passado, graças ao notável esforço e competência do ensaísta e tradutor Dilip Loundo, os poemas indianos de Cecília foram impressos em Nova Delhi, em antologia bilíngüe. Informou-me Loundo tratar-se da primeira coletânea de poeta brasileiro editada naquele país.
Há movimentos aparentemente contraditórios, hoje, no trato da língua portuguesa. De um lado, alguns jovens de escolas da Zona Sul divertem-se em seu computadores economizando vogais ou recriando o que se entende por fonética. O não é naum, assim como você se escreve simplesmente vc. Ainda não percebemos aonde querem chegar, mas o movimento está aí.Como uma espécie de reação, embora difusa, cronistas de jornais consagrados promovem um movimento a seu modo. Resolveram atrair de volta à cena vocábulos que dormiam no esquecimento ou frases que pareciam abafadas num confortável arcaísmo. Foi o que ocorreu, por exemplo, com o inspirado Joaquim Ferreira dos Santos (O Globo), na crônica "As doces sirigaitas".
Caíram em cima do Severino porque deu aquilo que os colunistas políticos e assemelhados classificaram de "ultimato" ao presidente da República, a propósito da reforma ministerial que todos queriam, menos o próprio Lula.
Pode parecer simpática a idéia do governo de criar locais especiais e seguros para os dependentes de droga, evitando o risco de seringas contaminadas e outros perigos que cercam a "dependência" - inclusive prestando uma assistência médica adequada.
As eleições municipais após o segundo turno viram-se devoradas por uma transleitura. Muito mais do que a contabilidade emergente do poder local, o que contou foi um primeiro posicionamento do eleitorado, saído da aura única da vitória petista em 2002. Misturam-se um sentimento inconsciente de revanchismo, ao lado de uma visão crítica do começo de performance do governo, procurando um pré-alinhamento para a nova disputa presidencial. Em boa parte, nos sentimentos que tomaram conta da opinião pública dominou de novo o Brasil de salão, seus vaticínios e seu cinismo das pseudo-sabedorias, de que não há nada a esperar de diferente, no governo da promessa de todos os abre-alas da transformação. É um mal-estar de anticlímax, que avulta sobre a incerteza das novas rinhas no Planalto, com o desponte de atores emergentes, acreditando na descida da ladeira do governo. Teria estourado a bolha da magia do PT, no entendimento dos adversários, atingindo o capital único da popularidade do presidente, à margem de qualquer juízo sobre a sua administração.
Lembro-me, ó se me lembro, e quanto, da minha adolescência em Rio Claro, particularmente, na Semana Santa. O respeito pelas comemorações da vida, paixão e morte de Jesus Cristo era total.
A façanha editorial do momento é o lançamento da obra teatral completa de Nelson Rodrigues feita pela Editora Nova Fronteira. Com os textos do trágico brasileiro em mãos, pode-se tentar uma análise do muito que significou e significa para a nossa cultura a presença entre nós de um autor com essa estranha e dilacerante força criadora. Desde que "Vestido de Noiva" subiu à cena em 28 de dezembro de 1943, no Teatro Municipal, tivemos todos a certeza de que o Brasil produzira, afinal, um gênio da literatura teatral.
O presidente FHC não levou em consideração a tradição dos três ministérios (no Império e na primeira República dois), ao criar o Ministério da Defesa, unificando as pastas sob a presidência de um ministro da defesa, com o necessário conhecimento de causa dos usos e costumes, da disciplina e do esprit de corps das três armas. Nos artigos que escrevi acentuei o aspecto tradicional dos três ministérios, desde a fase imperial da nossa História, até a criação do Ministério da Aeronáutica, quando se fez imperioso dotar o país de uma arma aérea.
Já li várias vezes que os especialistas do governo têm completa certeza de que a planejada transposição das águas do Rio São Francisco vai funcionar e resolverá praticamente todos os problemas da região. Contudo, oponho modestos argumentos, alguns dos quais já expus em outras ocasiões, mas estou seguro de que muita gente não lembra, até porque nunca os juntei numa peça só, como espero fazer agora, pelo menos aproximadamente. Em primeiro lugar, não apenas eu mas muita gente desconfia um pouco das assertivas e informações do governo. Por exemplo, já de muito se anunciou o espetáculo do crescimento e o único crescimento que a maioria percebe é o dos impostos, juntamente com o das despesas oficiais, com destaque para mordomias e aparentadas. Mas deve ser má vontade nossa. Afinal, crescimento é crescimento e somente o pessoal do contra é que dá importância a pormenor tão irrelevante.
Preciso ir a Copacabana, tomo a direção do túnel velho. Passo pela Real Grandeza, olho as capelas do cemitério São João Batista. Enfadados, alguns homens espiam a rua, dando as costas para seus respectivos defuntos.
GERALMENTE É CONFUNDIDA com a famosa frase de Lampedusa: “Melhor mudar um pouco, de modo que tudo possa continuar a mesma coisa.” E quando pressentimos que chegou a hora de mudar, começamos inconscientemente a repassar um vídeo mostrando todas as nossas derrotas até aquele momento. É claro que, à medida que ficamos mais velhos, nossa cota de momentos difíceis é maior.
Há sinais de degradação da língua portuguesa, hoje confusa e com limites imprecisos entre a norma culta e a linguagem popular, o que a torna mais difícil de apreensão. Ser moderno não é só se vestir como recomendam os filmes, revistas e programas de televisão, mas também falar algo que se parece com o inglês, hoje primeira língua de 500 milhões de pessoas. Não custa insistir na barbaridade que é o batismo profano de pontos comerciais na Barra da Tijuca, com nomes que nada têm a ver com a nossa cultura.
Não é para ficar reclamando outra vez, não, mas a verdade é que, de modo geral, não tenho sentido em torno uma grande disposição para comemorações. Há a notável e exuberante exceção do presidente, que quase sempre se mostra risonho, bem-disposto, com ar festeiro, de bem com o mundo e confiante no futuro. Razões pessoais bem sabemos que ele tem para isso, já que agiríamos do mesmo jeito, se estivéssemos todos com a vida tão garantidinha quanto a dele, além disso ornada por vantagens legal e naturalmente decorrentes da posição a que galgou, sem que sobejos méritos lhe possam ser negados. E tem razões de ordem cívica também porque, embora eu raramente saia, não me inclua no fechado time dos “bem-informados” e seja visto com paciente condescendência por meus colegas que sabem das coisas, já me garantiram que, na sua (dele) opinião, ele está fazendo um excelente governo, tão excelente que há pouco o levou, num justo arroubo de entusiasmo, a proclamar algo que não escutávamos desde os bons tempos: “Ninguém segura este país!” Carecem de fundamento, contudo, os rumores de que o “Ame-o ou deixe-o” vai voltar - até porque dizem que quem pôde já deixou.
CARLOS CASTAÑEDA FOI UM FILÓSOFO que teve grande importância para minha geração - e uma vez por ano faço questão de relembrá-lo nesta coluna. Por razões que não me compete julgar, terminou os seus dias fazendo algumas coisas que sempre condenou; mas todos nós temos nossas contradições, e o que fica na história de qualquer homem é o que ele procurou fazer de melhor. No caso de Castañeda, seus textos, alguns dos quais transcrevo (editados) abaixo, deixaram um legado que não pode ser esquecido: