
Tudo outra vez
Deus - Aqui estamos juntos de novo. Continuo sem entender o que acontece no Brasil.
Deus - Aqui estamos juntos de novo. Continuo sem entender o que acontece no Brasil.
Antigamente, não se atravessava uma rua, não se dobrava uma esquina sem esbarrar com um escoteiro ou com vários. Em geral, eram jovens mais ou menos militarizados, tinham um lema "Sempre alerta" e se comprometiam a fazer uma boa ação todos os dias.
Caí na asneira de ser jornalista antes do tempo, quando era moço, nada conhecia da vida e da profissão, nem a vida e a profissão me conheciam, nem tinham necessidade disso. Só me recuperei bem mais tarde, quando as coisas mudaram no mundo e em mim mesmo. E verdade seja dita, se o mundo e a profissão mudaram para pior, eu mudei para bem pior.
Acontece que o sol exagerou. Ali, na altura do posto quatro, ele surgiu das águas, vermelho e doce apesar de tudo, jogando sua luz dourada sobre a cidade que amanhecia. Súbito, dei com a vista num imenso monstro na ponta do posto seis. Parecia um inseto repelente pousado sobre a pele da terra, um carrapato gigantesco, com duas garras levantadas para o céu coberto pelo ouro do Sol. Não era uma invasão de insetos repugnantes: apenas a silhueta de dois canhões que saiam de sua carapaça côncava e metálica, assinalando o Forte de Copacabana.
Uma borboleta bate as asas na Tailândia. Na mesma hora, um furacão destrói metade da Flórida, derruba o Cristo Redentor do alto do Corcovado e o papa reinante morre de indigestão em Roma. Independentemente da história e da filosofia, os trancos da vida, os abrolhos do destino me fizeram jornalista contra a vontade e sem qualquer habilidade para a função.
Há algum tempo, num descuido de espaço e vontade, assisti a um programa do PC do B. Fiéis ao programa do partido, ao marxismo-leninismo, presos aos slogans superados, que durante anos transmitiam a seus membros, fiquei comovido. Tanto na fidelidade aos ideais antigos, quanto na ingenuidade de uma luta cujas coordenadas se diversificaram a tal ponto que a luta perdeu não apenas o sentido, mas a oportunidade.
Polêmica que nunca acabará: lembro uma briga antiga que empolgou não a plebe rude, mas a plebe erudita. Mais precisamente, o mundo lírico: tradição ou atualização? O pretexto foi a montagem de uma ópera, "Madama Butterfly", no Municipal do Rio. Deve-se atualizar o passado?
O general Figueiredo ao se despedir do povo brasileiro pediu que o esquecessem. Que estava ressentido, estava. Tanto que se negou a transmitir o poder ao seu substituto José Sarney. Sua assessoria de relações públicas exibiu em rede nacional um documentário de quase uma hora, mostrando as grandes realizações do seu governo.
O "Painel do Leitor" publicou, nesta semana, carta em que um cidadão reclama das orações que os católicos foram aconselhados a fazer pedindo chuva. Na opinião do missivista, em vez de pedir chuva, os católicos deveriam fazer uma cruzada para impedir os atentados ecológicos, sobretudo o desmatamento das florestas.
São três horas de trem, saindo de Viena. A paisagem é quase alpina, arrumada, asséptica como um postal. O trem para numa cidade mais ou menos amaldiçoada pela história: Linz. Ela não tem culpa de nada. Apenas foi a cidade que Hitler amava, que considerava a "sua" cidade. Na verdade, o ditador nazista nasceu em outro canto, viveu em Viena, Munique e Berlim.
O nome é feio e o significado é mais feio ainda. No entanto, a palavra está sendo falada e escrita, com perigosa insistência, tanto no jornais como nas tevês, na internet, e repetindo Nelson Rodrigues: nos botecos e velórios.
Antes que o Carnaval relaxe nossas preocupações particulares e coletivas, acredito que devemos meditar sobre as vicissitudes da pátria, que são muitas e cruéis. Deus é testemunha de que não creio na eficácia dessa meditação, pois tudo continuará como antes, não tendo este escriba qualquer poder (ou vontade) de alterar as coisas.
Os escândalos da Petrobras e do mensalão foram gerados no mesmo ventre e quase com os mesmos pais. No segundo caso foi necessária a competência da jornalista Renata Lo Prete, que publicou na Folha a denúncia do ex-deputado Roberto Jefferson sobre a compra de votos no Congresso, com a finalidade de lubrificar a até então maior prova da corrupção instalada no governo petista: a fantástica base aliada.
Na última reunião com seu ministério, em 23 de agosto de 1954, na crise mais dramática da vida nacional, Getúlio Vargas reuniu seus ministros e pediu que cada um manifestasse sua opinião sobre o que deveria fazer para superar a cólera dos militares que exigiam a sua renúncia e até mesmo sua prisão. Atribuíam ao presidente a responsabilidade pelo atentado que matou um oficial da Aeronáutica.
Foi em Portugal. Meu destino era Viena, Munique, Paris e Roma. Um amigo possuía um cheque em escudos (moeda portuguesa) e não pudera receber o equivalente em cruzeiros: a operação era proibida pelo nosso Banco Central.