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Artigos

  • Um protesto contra o Viagra

    Folha de S. Paulo (SP), em 05/01/2009

    O Viagra, remédio para disfunção erétil, é uma das armas usadas pelos agentes da CIA (a agência de inteligência americana) na conquista de aliados no Afeganistão, informa o "Washington Post". Conforme o jornal, entre os favores, além da distribuição do medicamento, estão doações de canivetes e ferramentas, pagamento de cirurgias e tratamentos dentários.

  • O julgamento de 2008

    Folha de S. Paulo (SP), em 31/12/2008

    COMO ERA de esperar, o julgamento do ano de 2008 realizou-se na noite do dia 31 de dezembro e deveria terminar impreterivelmente à meia-noite. Primeiro falou o advogado de acusação."Meritíssimo, como é de seu conhecimento, este tribunal funciona há muitos anos -quase tantos quanto os réus aqui julgados, que não foram poucos. Já tivemos casos sombrios: 1914, que viu o começo da Primeira Guerra; 1929, que deu de presente ao mundo uma tremenda crise.

  • A difícil arte de adivinhar o futuro

    Folha de São Paulo (SP), em 29/12/2008

    ERAM OITO DA NOITE e, depois de ter atendido mais de 20 pessoas, o adivinho, cansado, preparava-se para ir para casa.Quando, porém, abriu a porta da sala, viu-se diante de um desconhecido, um homem alto, grande, forte que ali estava, imóvel no corredor do velho prédio. Por um instante ficaram os dois parados, olhando-se. Finalmente o homem disse:

  • O ano do desafio

    Zero Hora (RS), em 28/12/2008

    Em A Era dos Extremos, o historiador Eric Hobsbawm, que já esteve em Porto Alegre e é uma das melhores cabeça de nosso mundo, diz que o século 20 na realidade começou em 1914, com o início da guerra que marcou o fim do velho liberalismo. Da mesma maneira podemos dizer que o século 21 vai começar em 2009. Até agora ainda vivíamos sob os efeitos da otimista conjuntura que marcou o fim do século 20, a expansão econômica, o desenvolvimento da informática, a emergência de novas potências, nelas incluído o Brasil. Agora estamos em crise, uma crise cujas proporções ainda não conhecemos, mas que certamente terá conseqüências. Por causa dessa crise, já podemos dar um apelido ao ano que se inicia: será o ano do desafio.

  • "Intérprete da condição humana"

    O Estado de S. Paulo (SP), em 28/12/2008

    É difícil falar em Meu Machado tratando-se de um escritor de obra tão vasta, tão variada e tão surpreendente. Meus Machados é melhor. No meu caso, incluem Dom Casmurro, claro, e também contos (Uns Braços, Missa do Galo) e crônicas. Mas há um texto, às vezes classificado como conto, às vezes como novela, que sempre me fascinou - como leitor, como médico, como escritor. Trata-se de O Alienista, publicado originalmente - sob a então habitual forma de folhetim, isto é, em capítulos - no jornal A Estação, entre outubro de 1881 e março de 1882.

  • Evitando a ressaca

    Zero Hora (RS), em 27/12/2008

    A melhor maneira de evitar a ressaca é não beber ou beber com moderação. Quem o diz não é o autor destas linhas, abstêmio por opção, mas sim um exaustivo estudo publicado no British Medical Journal. Os autores examinaram centenas de formas de tratamento supostamente eficazes no controle dos sintomas da bebida, chegando a esta conclusão: nenhum deles resolve o problema. Que, no entanto, tem de ser enfrentado, sobretudo nesta época do ano em que o consumo de álcool aumenta substancialmente – e assim também a ressaca. A palavra, aliás, tem dois sentidos: designa o movimento agitado das ondas (e por isso Machado de Assis falou nos “olhos de ressaca”, de Capitu) e os sintomas que se seguem à ingestão excessiva de álcool.

  • Um pedido ao Papai Noel

    Zero Hora (RS), em 21/12/2008

    As crianças vêem o Papai Noel como um velhinho simpático, bonachão, que aparece uma vez por ano trazendo presentes. Um adulto, se acreditasse em Papai Noel, pensaria de outra maneira. Pensaria no Papai Noel como uma figura real, claro, porque adultos de há muito deixaram para trás a imaginação infantil. E isso geraria muitas perguntas. É casado, o Papai Noel? Se é casado, por que a mulher dele nunca aparece? E como será a mulher dele? Uma mulher simpática, bonachona, dadivosa, uma verdadeira Mamãe Noel, ou quem sabe é uma megera, sempre disposta a brigar com o marido e a acusá-lo (“Não me venha com essa história que você passou a noite entregando brinquedos, que eu não acredito”)? E filhos? Será que o Papai Noel tem filhos? E como será que esses filhos o vêem? Será que também o acusam, com frases tipo: “Meu pai se interessa por todos os filhos, menos por nós”?. E a vida cotidiana do Papai Noel, de que maneira transcorre? Diz a lenda que ele tem uma gigantesca fábrica de brinquedos no Pólo Norte. Se isso é verdade, como está enfrentando a crise? Está mantendo a produção, ou vai dar férias coletivas para os empregados? E como será o seu relacionamento com o sindicato da categoria? O que tem a dizer sobre a redução do IPI?

  • Desemprego e doença

    Zero Hora (RS), em 20/12/2008

    Um quarto dos brasileiros afirma que saúde é o principal problema nacional, revela recente pesquisa Datafolha. Em segundo lugar está o desemprego, citado por 18% dos entrevistados, mas chegando a 23% entre os que têm entre 16 e 24 anos. O pior é que os dois problemas podem se combinar. É impressionante a massa de dados mostrando, de maneira inequívoca, que a perda do trabalho regular faz mal, muito mal, à saúde.

  • Madonna e a Cabala

    Correio Braziliense (DF), em 19/12/2008

    Apesar da crise, um fim-de-ano para ninguém botar defeito: Ronaldo no Corinthians, Roberto Carlos e Rita Lee juntos no palco e, claro, Madonna, uma turnê mais esperada que a de Frank Sinatra, que durante anos prometeu vir ao Brasil (e no final veio mesmo). É a glória dos veteranos, sobretudo a glória de Madonna que, aos 50 anos, não cessa de surpreender os fãs. Isto aconteceu inclusive quando ela aderiu à Cabala, corrente mística judaica que inclui uma peculiar concepção do universo e uma curiosa numerologia, baseada no fato de que, no hebraico antigo, havia uma correspondência entre letras e números. Assim, o número 18 era um número da sorte porque corresponde às letras que formam a palavra “hai”, vida.

  • Negro de óculos

    Zero Hora (RS), em 07/12/2008

    A discussão sobre cotas está de volta (esses dias, na tevê, os ex-ministros da Educação Paulo Renato e Cristovam Buarque debateram a respeito) e, independente das opiniões discordantes – o assunto é mesmo polêmico – tem um mérito: obriga-nos a examinar a questão do racismo na sociedade brasileira. O que me faz lembrar um curioso costume de minha infância, uma espécie de competição entre garotos. Dupla competição, dentro do grupo e também de cada um contra si próprio. O jogo consistia em colecionar mentalmente finais de placas de automóveis. A gente começava pelo zero, depois vinha o um, o dois, o três e assim por diante, até o cem. O notável é que ninguém, a não ser o nosso superego, fiscalizava esta atividade. E, entre nós, mantínhamos uma espécie de lúdico pacto de honra, essas coisas que são raras na vida adulta. Havia, no processo de coletar os números, um curioso detalhe, uma intrigante punição: mesmo que tivéssemos chegado, digamos, ao noventa e nove, teríamos de voltar ao início, ao zero – caso encontrássemos um negro de óculos.***Por que um negro de óculos? Em primeiro lugar, por causa do racismo, por causa do estigma que representava, e representa, a cor negra da pele. Não era esta, contudo, a única razão. Afinal, é praticamente impossível andar por uma cidade brasileira sem encontrar negros. Mas havia o detalhe: negro de óculos.O que era uma coisa rara. E por que era rara? Não é difícil deduzir a razão. Negros quase não usavam óculos. Pobres como eram, e são, não dispunham de dinheiro para isso. Além disso, não teriam, ao menos segundo o raciocínio corrente, motivos para usar óculos. Não freqüentavam escolas; muitos deles eram analfabetos. Ou seja: negro de óculos era exceção.E uma exceção ominosa, suficientemente ameaçadora para ser interpretada como um risco para o nosso jogo dos números. Se os negros começassem a usar óculos, o que aconteceria? Uma subversão completa dos valores então vigentes. Logo estariam freqüentando colégios, quem sabe até universidades. O que seria um espanto, para dizer o mínimo. Na Faculdade de Medicina da UFRGS, que cursei, o número de alunos negros dava para contar nos dedos de uma mão; havia um professor (assistente) negro, mas ele era completa exceção. Atribuía-se a um diretor da faculdade uma frase que dá a medida do preconceito então reinante: “Negro, nesta faculdade, só o telefone”. Naquela época, e isto também é significativo, os telefones – de quem se esperava fossem obedientes servidores, eram obrigatoriamente pretos.***Tem-se afirmado que, com a eleição de Obama (que não usa óculos), chegamos à uma fase pós-racial da História, também anunciada pela diversificação de cores dos telefones.Tomara que seja verdade. Tomara que não tenhamos de voltar para o zero.

  • A perda silenciosa

    Zero Hora (RS), em 06/12/2008

    Existem órgãos cuja presença podemos facilmente constatar. O coração se contrai ritmicamente, os pulmões inspiram e expiram, a bexiga se enche e se esvazia da urina. Os ossos, não. Os ossos estão ali, quietos. Movem-se, claro, mas não espontaneamente: seu movimento é comandado pelos músculos. Os ossos são humildes servidores.

  • O futuro na geladeira

    Folha de S. Paulo (SP), em 01/12/2008

    Um dia ela ainda ingressaria no curso de administração, um dia brindaria a seu futuro; era só questão de esperar.

  • A era do Ego

    Zero Hora (RS), em 30/11/2008

    A historinha tem origem desconhecida, mas vale a pena contar.Um escritor, vaidoso como costumam ser alguns escritores, está conversando com um amigo. Fala non-stop sobre seu tema preferido: ele próprio.Fala, fala, até que de repente dá-se conta de que aquilo não é justo.– Só falamos de mim – diz – vamos falar um pouco de você.E pergunta:– O que você acha da minha obra?

  • O baile e a vida

    Zero Hora (RS), em 16/11/2008

    No fantástico filme de Ettore Scola O Baile, quase meio século da ainda recente história européia é reproduzida no mais improvável dos cenários, um salão de danças em Paris, freqüentado por solteirões e solteironas que dançam, flertam, brigam, reconciliam-se, mas sempre saem sozinhos. Os anos vão passando: os anos da ascensão dos partidos de esquerda, os anos da ocupação nazista, a Libertação, maio de 1968... Detalhe: nenhum dos magníficos atores e atrizes diz sequer uma palavra.

  • A glória do mix

    Zero Hora (RS), em 11/11/2008

    Quero chamar a atenção de vocês para três recentes acontecimentos: o centenário da morte de Machado de Assis, a vitória de Barack Obama e a exposição que, inaugurada no Santander Cultural aqui em Porto Alegre, fala-nos da vida e da obra deste original pensador brasileiro que foi Gilberto Freyre, falecido há exatos 20 anos.