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Um protesto contra o Viagra

 

O Viagra, remédio para disfunção erétil, é uma das armas usadas pelos agentes da CIA (a agência de inteligência americana) na conquista de aliados no Afeganistão, informa o "Washington Post". Conforme o jornal, entre os favores, além da distribuição do medicamento, estão doações de canivetes e ferramentas, pagamento de cirurgias e tratamentos dentários.


"Oficiais dizem que esses atrativos são necessários no Afeganistão, um país onde militares e líderes tribais esperam recompensas pela cooperação e onde, para alguns, trocar de lado é tão fácil quanto trocar de roupa. Se os americanos não oferecem incentivos, há quem o faça, incluindo líderes do Taleban, traficantes de drogas ou mesmo agentes do Irã", diz o jornal. Segundo informações, o Viagra tem grande prestígio, por exemplo, entre líderes tribais que têm várias mulheres e querem "voltar à posição de autoridade". Folha Online


"PREZADOS DIRIGENTES da CIA: esta carta, que por razões óbvias é confidencial, está chegando a vocês graças à ajuda de uma pessoa cuja identidade é secreta, alguém que escreve em inglês, que tem bons contatos, e que nos animou a contar o que segue.

Somos as quatro esposas de um patriarca que vocês conhecem pelo codinome de Caolho, porque de fato ele tem um olho só.


Durante muito tempo, Caolho nos tratou bem e não tínhamos motivo de queixa, nem mesmo pelo fato de fazermos parte de um harém, coisa que nesta região é, como os senhores sabem, tradicional: os patriarcas bíblicos tinham várias esposas, e o rei Salomão chegou a ter cerca de mil mulheres, das quais certamente não sabia nem sequer o nome.


Caolho, ao contrário, era gentil, ao menos no começo. Depois foi mudando e tornando-se cada vez mais tirano; tratava-nos mal, ofendia-nos com palavras grosseiras -até que decidimos nos rebelar, e da forma que estava ao nosso alcance.


Não poderíamos, como as ocidentais, simplesmente sair de casa; não teríamos sequer meios para nos sustentar. Como mostrar nossa inconformidade? Uma de nós teve uma ideia que logo se revelou brilhante: exigir do patriarca o cumprimento das obrigações conjugais, mas exigir insistentemente, de forma a esgotar suas energias, a humilhá-lo.


E assim, a cada noite uma de nós introduzia-se na cama dele, pedindo sexo. Deu certo: em poucos dias ele já não tinha forças para nos atender. Consequentemente, foi perdendo a arrogância, e já não ousava sequer nos olhar. Estávamos vencendo a batalha!


De repente, tudo mudou. De repente, ele tornou-se de novo um garanhão. E aí tínhamos de desfilar pelo leito dele, às vezes as quatro ao mesmo tempo. Com o que, e para nosso desgosto, ele logo recuperou a antiga arrogância. Não conseguíamos entender o que se passava, até que uma empregada nos revelou o segredo: o homem estava tomando Viagra. O Viagra que vocês, para obter a cooperação dele, forneciam -para a nossa desgraça. O que pedimos, portanto, é que vocês parem com isso.


Presenteiem-no com canivetes, com ferramentas, com próteses dentárias. Com Viagra, não.

É um pedido, mas é também uma advertência. Vocês não vão querer que nos rebelemos, vão? Vocês não vão querer que nos tornemos guerrilheiras, não é? Então, pensem bem. Cuidado com o Viagra."


Folha de S. Paulo (SP) 05/01/2009

Folha de S. Paulo (SP), 05/01/2009