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Um espectro brasileiro

 

A febre amarela não é originalmente uma doença brasileira. Mas depois que foi introduzida em nosso país encontrou aqui condições quase ideais: as matas com seus mosquitos, as cidades com suas más condições de higiene facilitando a proliferação de focos de insetos. Logo a febre amarela tornava-se epidêmica, com milhares de casos e um número elevado de óbitos, sobretudo na época em que os cuidados hospitalares também eram precários. Ocorreram episódios sombrios, como aquele do navio-escola italiano que veio para o Rio. Quase todos os marinheiros, centenas deles, adoeceram, e a mortalidade foi elevada, em torno de 80%.


O Brasil passou a ser conhecido no mundo inteiro como um reduto da febre amarela. Foi eliminado das rotas navais, não podia exportar o café, principal fonte de divisas, e não tinha como pagar a dívida externa, contraída principalmente com bancos ingleses. A Inglaterra ameaçava inclusive com uma intervenção militar. Quando Oswaldo Cruz assumiu a Diretoria de Saúde, precursora do Ministério da Saúde, sua missão não era só combater febre amarela e outras epidemias, era salvar o Brasil.


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Desta missão ele se saiu muito bem, e deixou-nos inclusive uma lição sobre como agir em circunstâncias parecidas. Ele mostrou que, em primeiro lugar, é preciso conhecer bem o problema. O vírus da febre amarela não tinha sido descoberto, mas o modo de transmissão já tinha sido esclarecido: era a picada do mosquito infectado. Muitos médicos discordavam disso, alegando que era uma enfermidade que se propagava através dos alimentos ou do solo; mas Oswaldo Cruz sabia perfeitamente como avaliar uma pesquisa científica e não se deixou intimidar por figurões da medicina. Era preciso combater o mosquito e ele o fez com método, com determinação, com inteligência. Apesar da oposição, apesar da hostilidade de boa parte da mídia, ele foi em frente e conseguiu reduzir o número de casos, que eram vários milhares, para níveis muito pequenos.


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Ou seja: o Brasil já venceu a febre amarela uma vez, e pode vencê-la de novo. Oswaldo Cruz já não está entre nós, mas a saúde pública brasileira continua a se guiar pelos mesmos princípios. E o progresso nos ajuda: temos agora uma vacina altamente eficaz, e temos uma população motivada. Só precisamos fazer o que tem de ser feito, e neste momento a vacinação é alta prioridade. Como Oswaldo Cruz, chegaremos ao nosso objetivo.


Zero Hora (RS) 17/01/2009

Zero Hora (RS), 17/01/2009