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Artigos

  • De livros e bibliotecas

    O Globo (Rio de Janeiro), em 10/10/2004

    NA SEMANA PASSADA, COMENTEI sobre meus livros sublinhados. Na verdade, não tenho muitos livros: há alguns anos, fiz certas escolhas na vida, guiado pela idéia de procurar ter um máximo de qualidade, com o mínimo de coisas. Não quer dizer que tenha optado por uma vida monástica; muito pelo contrário, quando não somos obrigados a possuir uma infinidade de objetos, temos uma liberdade imensa. Alguns de meus amigos (e amigas) reclamam que, por causa do excesso de roupas, perdem horas de suas vidas tentando escolher o que vestir. Como resumi meu guarda-roupa a um “preto básico”, não preciso enfrentar este problema.

  • Déficit político

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 10/10/2004

    Mais uma eleição com tudo o que ela, em si mesma, contém de significativo. E isso deve ser levado em consideração. Não se pode dizer que venha a constituir substancial avanço qualitativo da vida democrática. De modo nenhum. O que se observa, sem muito esforço, é antes a impugnação do trabalho político em favor dos respectivos arranjos eleitorais. A prometida reforma política continua sendo adiada, os partidos de aluguel prosperam, os baixos níveis de legitimidade nunca se alteram. Uma unanimidade contudo se mantém de pé, nacional e internacionalmente: somos medalha de ouro na olimpíada da desigualdade social. Sem levar muito em conta que jamais haverá redistribuição de renda sem distribuição equânime do poder político.

  • Ainda as greves selvagens

    O Estado de São Paulo (São Paulo), em 09/10/2004

    No seio da c o m i s - são incumbida, em 1986, de elaborar um anteprojeto de Constituição, em virtude de iniciativa do presidente José Sarney, houve longos debates sobre a permissão do direito de greve nos serviços considerados essenciais à coletividade, tanto na esfera pública quanto na privada.

  • A moça e a viagem

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 09/10/2004

    Não faz tanto tempo assim. A moça me telefonou, convidou-me para almoçar numa cantina do Leme, disse que o assunto era urgente e importante. Como morava perto, fui ao almoço e me surpreendi: a moça existia mesmo, estava bem vestida e era muito, muito bonita.

  • Quem é o pai da criança

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 08/10/2004

    Os jornais noticiam a morte do cientista Maurice Wilkins, um dos envolvidos na descoberta do DNA e Prêmio Nobel de Medicina de 1962.

  • Direito da direita

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 07/10/2004

    A polarização entre o PT e o PSDB, indicada pelas eleições do último domingo, desmente o princípio básico da democracia, ou seja, que o poder emana do povo. A expressão da vontade popular, que elege seus dirigentes mais próximos, deveria estabelecer a cadeia do mando público a partir dos vereadores e prefeitos, uma vez que, antes de habitar um país ou um Estado, todos habitamos uma cidade.

  • A admiração do tirano

    Diário Comércio (São Paulo), em 06/10/2004

    Uma fração, a meu ver pequena, da juventude de nossos dias, pretende ver nos governos fortes, ou ditatoriais, a solução para as crises políticas, os parlamentos integrados por membros corruptos, por clientes fisiológicos dos aplicadores de propinismo, em benefício de negócios escusos e outras finalidades inconfessáveis. Esse desejo, que é de um número não apurado por pesquisas, está se acentuando, refletindo no prestígio de Lula, que já manifestou sua propensão para os governos fortes, quando elogiou o presidente do Gabão, não se sabe se por piada ou seriamente.

  • A natureza e o trabalho

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 06/10/2004

    O primeiro brado verdadeiramente ecológico lançado no Brasil não aconteceu por acaso. Devemo-lo ao maior estudioso de problemas brasileiros que, tampouco por acaso, tem livro chamado O problema nacional brasileiro. É dele, Alberto Torres, o ensaio As fontes da vida no Brasil, cuja primeira edição é de 1915. Não pensem os que não o leram tratar-se de referência, em frase ou parágrafo, a uma defesa e conservação da natureza, feita en passant, para ilustrar um argumento qualquer. Não. O trabalho de Alberto Torres é, ao longo de 31 páginas, um estudo sobre as duas fontes da vida no Brasil, respectivamente no corpo e no espírito de seus habitantes: a natureza e o trabalho.

  • Juízo Final

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 06/10/2004

    Deveria estar comentando as eleições do domingo passado, conforme pedem alguns leitores. Mas sou retardado, como dizia meu pai. Deu-se que, em remoto tempo, ele foi fazer uns consertos em casa, subiu numa escada dessas que abrem e fecham, a escada perdeu o prumo e, para não cair, ele se segurou precariamente numa saliência da parede e gritou por mim, pedindo socorro.

  • Lêdo Ivo: o ser e o som

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 05/10/2004

    Aceite-se, por base, ser ele o grande poeta brasileiro de nosso tempo. Na linha de outro alagoano, Jorge de Lima, alcançou Lêdo Ivo o ápice do fazer poesia nesta parte do mundo. Ao completar ele agora os 80 anos de sua idade, inaugura a Academia Brasileira de Letras uma exposição em sua honra e sai, pela Topbooks/Braskem, um volume de 1.099 páginas com sua poesia completa.

  • O prato de lentilhas

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 05/10/2004

    "Metade das empresas consultadas no Brasil, em pesquisa do Banco Mundial (Bird), informou haver pago propinas a funcionários de governo e 67,2% avaliaram a corrupção como obstáculo importante à atividade econômica. A confissão do crime por 51% das empresas pode ser a grande novidade, mas outros problemas têm maior destaque na lista das preocupações. Insegurança quanto às políticas, por 75,9%, e condições de crédito, por 71,7%."

  • Sobre história constitucional

    Diário do Comércio (São Paulo), em 05/10/2004

    Dentre as causas das sucessivas e nunca resolvidas crises institucionais de que sofre o Brasil destaco a Constituição. É fácil fazer uma análise, ainda que superficial, das Constituições que tivemos, desde a primeira, republicana, a de 1891. Rui Barbosa - vem nas suas Obras Completas - chamou a si a responsabilidade pela Constituição. Foi grande, um portento intelectual, um semideus para milhões de brasileiros, quem preparou a primeira Constituição. O voto era descoberto. Rui não acreditava, provavelmente, na perfídia humana, nas qualidades negativas de quem disputa um cargo de mandato e quer desfrutar o poder.

  • Salas populares de cinema

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 04/10/2004

    A partir de um registro quase inacreditável, o Governo do Rio de Janeiro tem criado diversas salas populares de cinema. Em seu discurso de inauguração, Rosinha Garotinho repete invariavelmente o dado aterrador: dos 92 municípios do Rio de Janeiro, somente 23 têm um cinema regular. Esse dado está sendo modificado pelas ações da Secretaria de Estado de Cultura, que já criou diversas salas populares, utilizando a modernidade do DVD, em municípios como Belford Roxo, Meriti, Japeri, Carapebus, Mesquita, além de outros dois em Mangueira e Jacarezinho.

  • Bom domingo

    O Globo (Rio de Janeiro), em 03/10/2004

    É hoje. Não sei quanto a vocês, mas já cumpri o dever. Acordo cedo, sou ansioso e, possivelmente, terei aparecido em minha seção até antes dos mesários. E espero que ninguém esteja me lendo na fila, não só porque as filas hoje são raras e rápidas como porque ouvi falar que as autoridades estão muito rigorosas e qualquer observação que eu publique aqui poderá ser levada na conta da nefanda prática de boca-de-urna, que, aliás, como vocês devem ter visto ou verão hoje, foi praticamente abolida. Não quero cometer nenhuma irregularidade eleitoral. Sei que isso não tem importância e que basta pedir desculpas depois, mas assim mesmo é mais seguro não facilitar, porque não sou presidente nem tenho filha delegada, de maneira que me apresso em dizer que não estou pedindo que vocês votem em partido ou candidato nenhum, não estou sugerindo que votem em branco ou anulem o voto e, enfim, não estou dando palpite eleitoral. Isto é especialmente importante para o pessoal das entrelinhas. Eles são danados, peguei muita experiência com a elite deles durante os tempos da censura que não volta mais (figas, batidas na madeira etc.). Eles são capazes de ler “saia” onde está escrito “calça”, contanto que achem uma boa entrelinha. Mas não há nenhuma aqui, garanto a vocês.

  • Os livros sublinhados

    O Globo (Rio de Janeiro), em 03/10/2004

    NEM SEMPRE ESCOLHO OS LIVROS que devo ler. São eles que me escolhem, me chamam da prateleira de uma livraria, e muitas vezes os compro sem saber qual a razão; mas cada um deixa sempre algo importante. Recentemente, abri ao acaso alguns volumes de minha pequena biblioteca e copiei trechos sublinhados.