
Medas e persas
RIO DE JANEIRO - Durante anos, freqüentei cinemas e cinematecas. Não havia vídeos ou DVDs, que hoje posso comprar ou alugar. Ao contrário da lenda de Maomé e da montanha, se eu não fosse à montanha, a montanha não viria a mim.
RIO DE JANEIRO - Durante anos, freqüentei cinemas e cinematecas. Não havia vídeos ou DVDs, que hoje posso comprar ou alugar. Ao contrário da lenda de Maomé e da montanha, se eu não fosse à montanha, a montanha não viria a mim.
RIO DE JANEIRO - No meu tempo, dizia Machado de Assis, já havia velhos, mas poucos. Parodiando o mestre, direi que, no meu tempo, já existiam chatos, mas relativamente poucos. E não eram tão espalhafatosos e onipresentes. Quando Cristo expulsou Satanás de um endemoniado, perguntou-lhe o nome. Satanás respondeu: "Meu nome é Legião". Os chatos de agora são também uma legião, a internet ampliou-os em número, freqüência e virulência.
A crise dos Estados Unidos está longe de acabar e segundo os analistas do mercado já ameaça, de perto, o maior banco americano, que obrigou os EUA e o Japão a depositarem 14 bilhões de dólares para salvar o sistema bancário do país.
Aí estão os dados unânimes do desempenho do governo, no ineditismo do sucesso de Lula e no vigor crescente do segundo mandato. Não há que repetir o êxito, já cansativo, do controle da inflação, nem do crescimento do dito "pibão", nem da distribuição de renda, nem da política de acesso social dos 11 milhões de famílias, nem do avanço único das exportações, ou da entrada efetiva no mercado de emprego, ou da ampliação da produção agrícola no antigo latifúndio brasileiro.
RIO DE JANEIRO - Era uma Quinta-Feira Santa na velha catedral do Rio, hoje desativada. Como seminarista, estava no coro da capela principal, ao lado dos cônegos e monsenhores, que formavam uma espécie de conselho administrativo da arquidiocese.
Neste ano, meu artigo da Semana Santa corresponde aos 400 anos do nascimento do Padre Antonio Vieira, a quem Fernando Pessoa chamou de imperador da língua portuguesa. Vieira sobreviveu quatro séculos e continuará vivo porque não foi somente o pregador, o divulgador da fé, o evangelizador dos índios e o inconformado com todos os tipos de escravidão humana. Foi um humanista e um grande escritor. E, como escritor, vive na eternidade de grande pensador.
A moda, agora, é realizar seminários sobre Gestão da Qualidade. Em todos os níveis, especialmente o superior. Com gente daqui e de fora. Nada contra essa epidemia, mas sinceramente há questões básicas que precisam ser antes atacadas. Como é o caso do nefando corporativismo, que atrasa a educação brasileira.
Os dois carpinteiros ficariam assombrados se conhecessem o destino daquela encomenda
O Ministro Fernando Haddad mostrou ao Congresso a sua determinação, na retomada da reforma universitária como uma dimensão crítica da mudança do país. Nenhum projeto foi levado tão a fundo, como exemplo da nova cultura política, na exposição ao debate do ensino de terceiro grau, e nas emendas resultantes do texto agora em apreciação no Legislativo.
O comparecimento às urnas das eleições espanholas e francesas fortalece a mobilização indiscutível da sociedade civil, pela democracia profunda do nosso tempo. No caso francês, um pleito ainda caracteristicamente municipal mostra que não quer deixar o futuro à simples rotina dos jogos feitos de todo o sempre. Nas cinco mil e seiscentas circunscrições apareceram candidatos independentes, e a necessidade de um segundo turno mostra a mobilização do voto em larga parcela desta ida às urnas.
Os sistemas eleitoral, partidário e de governo são esferas de ação independentes. A experiência empírica comprova, não só em nosso caso, mas nos de outros países que adotam o sistema proporcional, as conseqüências que o professor Maurice Duverger procurou demonstrar no seu livro pioneiro Os partidos políticos: esse sistema favorece a proliferação do espectro partidário, enquanto o sistema majoritário privilegia a sua contenção.
Na semana passada, segundo queixas de alguns, escrevi com melancolia, ou mesmo amargor, sobre a velhice. Tudo pela busca do melhor para o freguês: fiz o sacrifício de reler o que escrevi, mas não achei nem melancolia nem amargor. Deve ser a idade. E, de qualquer forma, tenho visto manchetes animadoras, como esta que aqui repousa em minha mesa, embora já antiga para jornal. Informa, com letras às quais só faltam umas estrelinhas cintilantes para lhes realçar o brilho orgulhoso, que os governantes (espero estar usando um termo aceitável por eles; se não estiver, por favor mandem me dizer qual devo empregar, que mudo instantaneamente) do Complexo do Alemão, território carioca de jurisdição controvertida, permitiram a visita do governador Pezão e autorizaram a realização de obras públicas no local. Enquanto meus olhos certamente também brilhavam, li ainda que fizeram a gentileza de remover uma das barreiras destinadas a impedir o tráfego de veículos com cujos passageiros os ditos governantes mantenham divergências de natureza comercial.
O Kzuka (KZK) da semana passada fez uma matéria sobre Ramona, a personagem vivida por Marcela Barrozo na novela Duas Caras, uma guria que, diz o texto, dedica-se aos estudos muito mais que seus colegas de classe. Comentário da jornalista Júlia Dócolas: "Foi-se o tempo em que ser estudioso era ser nerd. Os primeiros da turma ganharam espaço e hoje ditam moda". Coincidentemente, a Veja da semana retrasada também trazia uma matéria sobre o assunto, comentando um livro recém-lançado nos Estados Unidos, escrito pelo psicólogo David Anderegg e que se intitula Nerds: Who They Are and Why We Need More of Them (Nerds: Quem São e Por que Precisamos Mais Deles). Aliás, nessa última matéria eu descobri, afinal, o que significa a palavra nerd. É uma alusão aos jovens cientistas que trabalhavam no Northern Electric do Canadá, importante laboratório tecnológico, mais precisamente na divisão de pesquisa e desenvolvimento (research and development). Northern Electric Research and Development: daí veio a sigla.
A moda, agora, é realizar seminários sobre Gestão da Qualidade. Nada contra essa epidemia, mas há questões básicas que precisam ser antes atacadas. Como é o caso do nefando corporativismo, que atrasa a educação brasileira.
Finalizando o período da exposição de minha coleção africana no Sesc Madureira, "África - Arte do tempo", lançaremos o livro "No Brasil ainda tem gente da minha cor?, de Zora Seljan, no dia 28 de março. Sua primeira edição foi realizada pela Prefeitura da Cidade de Salvador, Bahia, e lançada em julho de 1978, em comemoração aos "90 anos da Abolição" e aos festejos da "Independência da Bahia".