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Artigos

 
  • Machado de Assis e a política

    Pedro II ao partir, sob condições injustas de desprestígio, deixava uma governação de cinqüenta anos de respeito à cultura e de uma certa magnanimidade, mas de pouca atenção ao Nordeste do país. Seu tempo não aponta apenas a maldade da estatística ao revelar que ficara no Brasil uma nobreza de sete marqueses e uma marquesa viúva. Dez condes e dez condessas viúvas. Vinte viscondes e dezoito viscondessas viúvas. Vinte e sete barões e onze baronesas viúvas. Era viúva demais...

  • Distribuição de renda

    Leio que os milionários brasileiros detêm riqueza equivalente a meio PIB. Isso torna presente a velha frase, que circulava no Rio de Janeiro no começo do século passado: a Europa curva-se diante do Brasil...

  • A casa de Cocteau

    Um jornalista me contou a seguinte história curiosa: “Certo dia, fui entrevistar Jean Cocteau. Sua casa era um amontoado de bibelôs, quadros, desenhos de artistas famosos, livros. Uma porção de tudo isso junto por lá. Cocteau guardava todos aqueles objetos, e tinha um profundo amor por cada uma daquelas coisas. No meio da entrevista, fiz a seguinte pergunta: ‘Me diga com sinceridade, Cocteau. Se por acaso esta casa começasse a pegar fogo agora e você só pudesse levar uma coisa com você, o que escolheria?’. Cocteau respondeu no ato: ‘Levaria o fogo’.”

  • O escândalo da hora

    Sento-me diante dos meios de comunicação de massa e tenho os jornais à mão, pondo-me, então, a ver o que há de novo nesta república, que Lopes Trovão já considerava não ser a sua. Procuro os escândalos do dia, para ser mais conciso nas minhas divagações. Quero procurar o escândalo da hora. Fico decepcionado que lá ainda esteja o nome de Renan Calheiros, neutralizado por um ardil de seus confrades do Senado, que o impediram de presidir uma sessão. Viro-me depois para outra notícia e fico sabendo que a Petrobrás foi a maior doadora de dinheiro ao PT na última eleição, incorrendo em pena de crime eleitoral. Não me canso, ainda, desses escândalos, que seriam fatais para qualquer país posto na linha da decência. Vejo que os jornais estão cheios de escândalos e mais escândalos.

  • Combates perdidos

    Muitas vezes, o Guerreiro da Luz sente a espada do inimigo na carne, sente a injustiça do inimigo na vida. Mas ele sabe que o tempo cicatriza as feridas. Quando o combate não é favorável, os Guerreiros da Luz sabem que existe apenas uma coisa que o tempo não pode curar: o ódio. O ódio é um Mestre das Trevas, jamais anda sozinho, adora a companhia de sua noiva, a vingança. Quando o ódio e a vingança sentam à mesa do Guerreiro e começam a aconselhá-lo, o combate está perdido. Porque o Guerreiro esquecerá a verdadeira razão de sua luta.

  • Um reino e a felicidade

    Um velho ermitão foi convidado para ir até a corte do rei mais poderoso daquela época. “Eu invejo um homem santo, que se contenta com tão pouco”, disse o rei para ele. “Eu invejo Vossa Majestade, que se contenta com menos que eu”, respondeu o ermitão. “Como você me diz isto, se todo este país me pertence?”, disse o rei, ofendido. “Justamente”, falou o ermitão. “Tenho a música das esferas celestes, tenho os rios e as montanhas do mundo inteiro, tenho a Lua e o Sol, porque tenho Deus na minha alma. Vossa Majestade tem apenas este reino”.

  • Chá e Futebol

    Nos chás que antecedem as sessões da Academia Brasileira os confrades costumam me assediar sobre temas da corte brasiliense. Fujo deles. Brincam comigo dizendo que é para minorar meus arroubos de pernambucanidade. Esses, não os dispenso. Pernambuco é a minha idéia fixa.

  • Milagres

    Nenhuma religião consegue sobreviver apoiada só em milagres. Os milagres podem ser o começo de tudo, mas a natureza humana logo se acostuma com o sobrenatural e passa a tratá-lo de maneira displicente, como se fosse uma coisa comum. A busca espiritual, esta sim, sobrevive porque existem pessoas muito capazes de se aventurar no desconhecido. Claro que, além de muita coragem, é preciso ter paciência para escutar comentários irônicos daqueles que acham que a razão é capaz de resolver todos os problemas do universo. Certa vez, um produtor que trabalhava na TV BBC procurou o franciscano Agnellus Andrew, exigindo uma prova de existência do Céu e do Inferno. A resposta do padre veio curta e direta: “Basta morrer”.

  • Sobre o velhinho

    Em um lugar que fica entre a França e a Espanha existe uma cadeia de montanhas. E é exatamente nesta cadeia de montanhas que fica uma aldeia chamada Argeles. E é nesta aldeia que existe uma ladeira que leva até o vale. Todas as tardes, um velho sobe e desce a ladeira. Quando fui para Argeles pela primeira vez, não reparei nisso. Já, da segunda vez, vi que um homem sempre cruzava comigo. E, cada vez que eu ia àquela aldeia, reparava mais e mais detalhes nele – a roupa, a boina, a bengala, os óculos. Hoje em dia, sempre que eu me lembro da cidade, também penso naquele velhinho - embora ele não saiba disto. Uma única vez tive a oportunidade de conversar com ele. Querendo fazer uma brincadeira com aquele senhor, perguntei: “Será que Deus vive nestas lindas montanhas que estão todas a nossa volta?”. “Deus vive”, disse o velhinho para mim, “exatamente nos lugares onde deixam Ele entrar”.

  • O mundo espiritual

    Um discípulo comentou com o rabino Bouhnam de Passiskhe: “O mundo material parece sufocar o espiritual”. E Bouhman explicou: “Sua calça tem dois bolsos. Escreva no direito ‘o mundo foi criado só para mim’ e no esquerdo, ‘não sou nada além de cinzas’. Divida seu dinheiro. Quando encontrar uma situação de miséria, lembre-se de que o mundo existe para você usar sua bondade e o dinheiro do bolso direito. Quando quiser adquirir coisas que não fazem falta, lembre-se do que está escrito no bolso esquerdo. Assim, o mundo material nunca sufocará espiritual”.

  • Muçulmanos em chamas

    O terreno de Maomé está pegando fogo. Uma das grandes religiões do mundo enfrenta crises de origem estrangeira e de origem interna. Temos o caso da Guerra do Iraque, criada pelo presidente americano George W. Bush (que procura sair sem perder o brio, o que é difícil).

  • Além do desastre

    RIO DE JANEIRO - À margem do acidente de anteontem com o avião da TAM, cujas causas seguirão a rotina de sempre e demorarão a serem esclarecidas, faço duas considerações de leigo na matéria, mas usuário freqüente do transporte aéreo. Desde já estão abertas duas vertentes que irão tumultuar a apuração do caso.

  • Sangrando e fedendo

    RIO DE JANEIRO - Não foi a imprensa que diagnosticou tão radicalmente a crise atravessada pelo Senado. Foram alguns de seus membros, que estão sofrendo o constrangimento de serem senadores num momento em que dois deles estão sendo acusados não apenas de falta de decoro mas de improbidade.

  • O coaxar das rãs

    RIO DE JANEIRO - Animal urbano, sempre ouvi falar em coaxar de rãs, mas nunca soube exatamente o que era isso. Até que li, num jornal aqui do Rio, uma referência ao "coaxar de rãs" a propósito das críticas que estão sendo feitas, ao Rio em geral e ao carioca, em particular, por conta do Cristo Redentor, que foi considerado uma das sete maravilhas do mundo.