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Artigos

 
  • Deus sabe das coisas

    Aqui na ilha, o problema da corrupção nunca foi muito grave. Os maledicentes, despeitados e invejosos, que não engolem a verdade patente de que Itaparica é a rainha do Recôncavo Baiano, tentam tirar-lhe mais esse galardão, alegando que nunca furtaram dinheiro público aqui porque aqui nunca houve dinheiro público para furtar e muito menos privado. Esquecem-se eles até mesmo dos inúmeros períodos faustosos de nossa história, dos quais o mais recente talvez tenha sido o dos petroleiros, no tempo em que produzíamos petróleo. Os petroleiros eram ricos milionários e me lembro de Zenóbio Merdinha (assim alcunhado por causa de um episódio de infância, que melhor estaria se olvidado, até porque Zenóbio sempre foi um cidadão exemplar) mandando botar luz fluorescente na casa toda, inclusive na fachada, a ponto de ter sido veiculada a notícia de que a Marinha ia usá-la como farol. E muitas mais dessas fases esplendorosas eu poderia enumerar, se não corresse o risco de abusar do leitor.

  • O vermelho e o negro

    A última rodada do Brasileirão empolgou os torcedores, que viveram um clima parecido com o de uma final de Copa do Mundo. Mesmo os mais desinteressados em futebol torceram de alguma forma. Foi realmente uma festa, com o Maracanã lotado com uma das maiores torcidas dos últimos tempos.

  • República e democracia

    O ideal republicano entre nós sempre foi indissociável da democracia. Nabuco de Araújo, que tanto e tantas vezes serviu à Monarquia, 20 anos antes da Proclamação da República, denunciava da tribuna parlamentar: “Vede este sorites fatal, este sorites que acaba com a existência do sistema representativo: o poder moderador pode chamar quem quiser para organizar ministérios; esta pessoa faz a eleição; porque há de fazê-la; esta eleição faz a maioria. Eis aí está o sistema representativo do nosso país”.

  • A agulha como símbolo

    Como o Sant’Ana tem comentado, o ano está terminando sob o signo dessa estranha e perturbadora história das agulhas. Primeiro foi o menino da Bahia, e depois o menino do Maranhão, e mais adiante uma gaúcha de 42 anos que tem 12 agulhas no corpo, resultado da brutalidade de um ex-companheiro. Mais: quando se entra em sites médicos, verifica-se que casos semelhantes não são raros. Encontramos o relato de uma mulher chinesa em cujo corpo foram descobertas – por acaso, durante um exame radiológico – várias agulhas. Resultado, supõe-se, da frustração dos avós com o nascimento da menina: na China, como se sabe, casais podem, em geral, ter um filho só, e torcem para que seja do sexo masculino. No Hospital Geral de Teerã, foi recentemente operada uma mulher de 36 anos que tinha uma agulha no coração; de novo, resultado de violência marital. Os autores deste último artigo encontraram na literatura quase 200 casos de lesões cardíacas causadas por agulhas; e isto, obviamente, é apenas o topo do iceberg.

  • O Brasil dos Brics

    A recepção a Ahmadinejad em Brasília ou nosso apoio defunto a Zelaya são riscos da nova e larga mirada internacional que o governo Lula deixará como legado do Brasil potência. Não se precisa insistir sobre o contraste hoje com a América Latina, de cuja moldura saímos, de vez, no peso da população, do PNB e, sobretudo, de um modelo de desenvolvimento sustentado, com nítida desconcentração da riqueza. Nesse destaque das velhas fatalidades geográficas, o Brasil passa a nação dos BRICS, que se livraram da velha canga de um mundo dividido entre centros e periferias neste século XXI. Nosso dinamismo vai à comparação com a China e a Índia. Centramo-nos no mercado interno, na crescente mobilidade coletiva em que o consumo das classes menos favorecidas respondeu tão profundamente pelo escape aos vaticínios e apocalipses do que seria a crise de 2008.

  • Corrupção acima de todas as suspeitas

    Este fim de ano permitiu que se chegasse ao extremo da corrupção política, no que o escândalo Arruda se soma ao affair Sarney e ao velho mensalão. Deparamos com o sistema e o contrassistema, no que o provedor de dinheiro põe à sua mercê, sem volta, o beneficiário. O pagador filma, desde saída, a quem corrompe, e o torna cúmplice forçado de toda a operação, a qualquer tempo de uma denúncia. Pouco importa a desfaçatez das tomadas dos pacotes, nas cuecas, nas meias ou nas bolsas.Ou a naturalidade dos recebimentos em que este montante de paga entrou nos lobbies dos contratos públicos, e não se fale mais nisso. No caso antológico do govemador do Distrito Federal, é o próprio cappo quem reparte as notas, para toda a malha hierárquica dos facilitadores, no maior à-vontade burocrático. Não são atravessadores, a sugerir propinas esquivas, mas agentes em Palácio a dia, hora e pacote de cédulas novas e contadas, de pagamento em espécie, com o timbre dos espaços públicos e a sofreguidão da coleta.

  • Correspondência de Machado de Assis: 1870-1889

    Depois do tomo I, saído em 2008, apresentamos aos leitores o tomo II da Correspondência de Machado de Assis. Com exceção de algumas cartas dos anos 60, descobertas recentemente, o novo volume é consagrado aos decênios de 1870 -1879 e 1880 - 1889. Esses dois decênios estão entre os mais significativos da obra de Machado de Assis. Cada um deles é assinalado por um corte e uma abertura.

  • Os jovens e seu estilo de vida

    O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tem feito um trabalho notável na investigação das condições de vida e de saúde de nossa população. Exemplo disso é a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, realizada em colaboração com o Ministério da Saúde. Foram entrevistados cerca de 60 mil jovens matriculados no último ano do Ensino Fundamental, com idade entre 13 e 15 anos.

  • Do próspero

    E assim é que estamos, como afirmam os manifestos comerciais, no limiar de um ano novo. Não sei qual foi o cretino que por primeiro uniu o adjetivo ‘próspero’ ao conceito de ano novo. De qualquer forma, outros cretinos adotaram a expressão e quando um cidadão chega à idade respeitável dos 50 anos, se ainda não é realmente próspero não é por culpa dos outros: desejos e votos foram formulados ao longo desses trinta e tantos anos. E se a prosperidade ainda não veio, não é o caso de se desesperar. O ano novo está aí dando sopa. E dessa vez vamos.

  • Os tempos da vida

    No colégio, uma de nossas principais (e mais difíceis) tarefas era aprender a conjugar os verbos. Conjugar os verbos já não é mais uma condição para passar de ano; mas agora me parece uma coisa muito simbólica. Conjugar verbos é conjugar a vida. Em primeiro lugar, por causa das pessoas verbais. Começamos, e isso é muito significativo, com a primeira pessoa: “eu”. Um resultado indireto do instinto de preservação que existe em cada indivíduo. Lutamos pela vida; lutamos para nos afirmar. Na sociedade em que vivemos, esse instinto gerou um verdadeiro culto do ego, mas, felizmente para nós, a conjugação dos verbos não se esgota na primeira pessoa. Logo em seguida vem o “tu” (viva o Rio Grande, que preserva esse pronome!) e isso muda por completo o panorama de nossas relações. O relacionamento, diz-nos aquele notável filósofo da convivência, e do pacifismo, Martin Buber, acontece entre o Eu e o Tu, e se faz através do encontro, do diálogo, e da responsabilidade mútua: é uma intersubjetividade, não uma subjetividade exclusiva e frenética.

  • Funciona ou é vigarice?

    A expressão “snake oil”, óleo de cobra, é geralmente usada nos Estados Unidos para designar substâncias supostamente medicamentosas que na verdade não passam de ilusão, de fraude. “Snake Oil Science”, “A ciência do óleo de cobra”, foi o título que o pesquisador norte-americano R. Barker Bausell escolheu para dar a um livro recentemente publicado pela importante editora da Universidade de Oxford. O autor examina aquilo que é conhecido como medicina alternativa, uma enorme variedade de procedimentos e de medicamentos que inclui, a propósito, o próprio óleo de cobra, há muito tempo usado na China para tratamento de reumatismo. Vigarice? Mas o óleo de cobra é rico em ácido eicosapentaenoico, que seria uma substância anti-inflamatória. Surge daí a pergunta básica: como podemos saber que um determinado tratamento funciona e não é vigarice?

  • O intelectual como goleiro

    Albert Camus, cujo cinquentenário de falecimento ocorreu ontem, era um grande escritor, autor de O Estrangeiro e de outras notáveis obras, e um intelectual atuante, conhecido pela coragem e pela independência. Nascido na Argélia, Camus formou-se em filosofia, foi por um breve período membro do Partido Comunista, emigrou para a França, participou na resistência contra a ocupação nazista e viveu aquele extraordinário, e tumultuado, período que se seguiu à II Guerra, marcado pela ascensão da esquerda, e, na França, pelo apogeu do existencialismo. Camus era amigo de Jean-Paul Sartre, mas acabaram rompendo. Sartre aderiu ao comunismo, tornou-se maoísta e justificava os excessos cometidos pelo regime com o argumento de que mais vale sujar as mãos do que ficar em cima do muro: não por acaso, é autor de uma peça chamada Les Mains Sales, As Mãos Sujas, que fala exatamente disso, dos dilemas dos intelectuais. Camus defendia a independência destes; na guerra de independência da Argélia, manifestou-se sobretudo contra o terrorismo usado pelos guerrilheiros. Posição controversa, portanto.

  • A situação da mão-de-obra

    Na abertura do 1º Seminário de Qualificação Profissional para um Novo Tempo, promovido pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE/Rio) e o SENAC/Rio, a capacitação da mão-de-obra especializada foi o tema prioritário. Há urgente necessidade de atender à demanda das novas empresas que estão vindo para o Estado do Rio nos próximos anos.