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Artigos

 
  • Madonna e a Cabala

    Correio Braziliense (DF), em 19/12/2008

    Apesar da crise, um fim-de-ano para ninguém botar defeito: Ronaldo no Corinthians, Roberto Carlos e Rita Lee juntos no palco e, claro, Madonna, uma turnê mais esperada que a de Frank Sinatra, que durante anos prometeu vir ao Brasil (e no final veio mesmo). É a glória dos veteranos, sobretudo a glória de Madonna que, aos 50 anos, não cessa de surpreender os fãs. Isto aconteceu inclusive quando ela aderiu à Cabala, corrente mística judaica que inclui uma peculiar concepção do universo e uma curiosa numerologia, baseada no fato de que, no hebraico antigo, havia uma correspondência entre letras e números. Assim, o número 18 era um número da sorte porque corresponde às letras que formam a palavra “hai”, vida.

  • Sonho de Natal

    Jornal do Brasil (RJ), em 19/12/2008

    O calendário marcado pelos dias gloriosos do ano e a vida cotidiana ajuda os cronistas. Como fugir dos sinos do Natal, que têm os sons das lembranças de todos os natais, tantos quantos a nossa vida? São memórias que vão desde a infância, nas sombras cinzas das lembranças daquele interior perdido nos campos verdes do Maranhão, quando íamos à igreja louvar o nascimento de Deus, seu filho, cujas sandálias João Batista dizia ser indigno de desatar, até a madurez da reza em comum com a família, lendo o Evangelho de São Marcos, que descreve o que aconteceu na manjedoura de Belém.

  • Uma lei inútil

    Jornal do Commercio (RJ), em 18/12/2008

    Lula pediu aos ministros Tarso Genro (Justiça) e Jorge Félix (GSI) que elaborem um substitutivo para a Lei de Segurança Nacional, em vigor desde 1983, no governo do último presidente militar. A intenção é boa, mas me parece ociosa. Não há necessidade de uma lei especial para segurança da nação, a não ser em casos de guerra ou de grave convulsão social.

  • O jardim e a torre

    Jornal do Commercio (RJ), em 16/12/2008

    A marcha da humanidade ao longo da história pode ser interpretada (mas não explicada) por duas metáforas que constam do livro mais importante da cultura ocidental: o Paraíso perdido e a torre de Babel. Todo o resto, guerras, invenções, produções da arte ou do pensamento, tudo é balizado pelos dois episódios lendários do “Gênesis”.

  • Planeta selvagem

    Folha de S. Paulo (SP), em 14/12/2008

    Uma pergunta que já foi feita e até agora não teve resposta que explicasse o mundo: é o homem que faz a história ou é a história que faz o homem? No dia-a-dia miúdo das coisas, tem-se a impressão de que os homens, em determinadas circunstâncias, conduzem o complicado samba-enredo da humanidade, freqüentemente atravessado ora pela bateria, ora pelos puxadores do canto.

  • Machado, cultura e política

    Zero Hora (RS), em 12/12/2008

    O transcurso do centenário da morte de Machado de Assis parece unir o sentimento de toda a nação ao fazer memória da vida e obra do escritor, fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL). Pela densa contribuição ao enriquecimento cultural do país, à vertebração da identidade de nosso povo nas diversas áreas da literatura e das artes, o criador e a criatura, o homem e a instituição, constituem efemérides que não podem deixar de ser festejadas.

  • Um governador das Arábias

    Jornal do Brasil (RJ), em 12/12/2008

    Visitei Chicago quando presidente da República para apoiar uma equipe de físicos brasileiros que participavam da busca do quark, a partícula fundamental do universo. Sempre tive uma curiosidade grande pela física pura, e o mundo das partículas me fascina, nesse intrincado jogo que não entendemos muito, dos elétrons, prótons, bósons e outros mistérios mais. Em Chicago, no Fermilab, desenvolveu-se a desintegração do átomo.

  • Saudades de Tancredo Neves

    Jornal do Commercio (RJ), em 12/12/2008

    Ela está reluzente. Nem parece ter idade avançada. Em meio a um grande alvoroço, idosos, jovens e crianças ocupam os seus lugares, para uma viagem à história de Minas Gerais. Refiro-me à popular Maria Fumaça, locomotiva que puxa meia dúzia de vagões, durante uma hora, no trajeto Tiradentes – São João del Rei. Uma alegria só, misturada a pitadas de nostalgia, sentimento natural dos mais velhos.

  • Marcito

    Jornal do Commercio (RJ), em 11/12/2008

    Quarenta anos atrás, num 11 de dezembro, a Câmara Federal negava a licença para que o governo da época processasse o deputado Márcio Moreira Alves. Em represália, dois dias depois, foi editado o AI-5, que fechou definitivamente o regime. A história é sabida, apesar das versões divergentes sobre detalhes pontuais.

  • Padre Vieira e os direitos humanos

    O Estado de S. Paulo (SP), em 09/12/2008

    “Os erros dos homens não provêm apenas da ignorância, mas principalmente da paixão. A paixão é a que erra, a paixão a que os engana, a paixão a que lhes perturba e troca as espécies para que vejam umas coisas por outras. Os olhos vêm pelo coração e assim como quem vê por vidros de diversas cores, todas as coisas lhe parecem daquela cor assim as vistas se tingem dos mesmos humores, de que estão bem ou mal, afetos os corações.” Essas são palavras do padre Antônio Vieira no Sermão da Quinta Quarta-Feira da Quaresma de 1669. Pascal, um século depois, repetiria o mesmo pensamento com exemplar concisão: “O coração tem razões que a própria razão desconhece.”

  • A plebe rude

    Jornal do Commercio (RJ), em 09/12/2008

    De certa forma, e uns pelos outros, quase todos os cronistas e colunistas em atividade na mídia nacional comentaram a recente fala do presidente da República, que usou uma expressão classificada de "chula". Resisti até agora, mas quem há de?

  • Machado e Marcantonio

    , em 08/12/2008

    O Brasil está a concluir os registros do centenário da morte de Machado de Assis. Muitos livros editados, muitos artigos publicados, conferências por toda parte, enfoques inusitados ou repetidos, dúvidas realimentadas, tudo como sugerido na obra de um verdadeiro gênio nascido aqui.

  • Cidadão carioca

    Diário de Pernambuco (PE), em 07/12/2008

    Disse na Câmara de Vereadores do Rio, que não desejava minha fala fosse mais do mesmo. Entre os diferentes títulos de cidadania honorária que recebi, por conta de generosas decisões em várias terras, aquele do Rio de Janeiro consignava um caráter muito especial. Por isso, o meu dizer não foi mais palavra sobre o mesmo tema.

  • Azeites e virgens

    Folha de S. Paulo (SP), em 07/12/2008

    No meu tempo, ainda existiam virgens, mas poucas. Pode parecer paródia de uma célebre frase de Machado de Assis, mas é minha mesmo, nascida de uma vulgar meditação sobre o rótulo de diversos vidros e latas de azeite. Não bastando serem virgens, os azeites de agora são “extra virgens”. Um “plus” a mais na imaculada confecção dos azeites.

  • Negro de óculos

    Zero Hora (RS), em 07/12/2008

    A discussão sobre cotas está de volta (esses dias, na tevê, os ex-ministros da Educação Paulo Renato e Cristovam Buarque debateram a respeito) e, independente das opiniões discordantes – o assunto é mesmo polêmico – tem um mérito: obriga-nos a examinar a questão do racismo na sociedade brasileira. O que me faz lembrar um curioso costume de minha infância, uma espécie de competição entre garotos. Dupla competição, dentro do grupo e também de cada um contra si próprio. O jogo consistia em colecionar mentalmente finais de placas de automóveis. A gente começava pelo zero, depois vinha o um, o dois, o três e assim por diante, até o cem. O notável é que ninguém, a não ser o nosso superego, fiscalizava esta atividade. E, entre nós, mantínhamos uma espécie de lúdico pacto de honra, essas coisas que são raras na vida adulta. Havia, no processo de coletar os números, um curioso detalhe, uma intrigante punição: mesmo que tivéssemos chegado, digamos, ao noventa e nove, teríamos de voltar ao início, ao zero – caso encontrássemos um negro de óculos.***Por que um negro de óculos? Em primeiro lugar, por causa do racismo, por causa do estigma que representava, e representa, a cor negra da pele. Não era esta, contudo, a única razão. Afinal, é praticamente impossível andar por uma cidade brasileira sem encontrar negros. Mas havia o detalhe: negro de óculos.O que era uma coisa rara. E por que era rara? Não é difícil deduzir a razão. Negros quase não usavam óculos. Pobres como eram, e são, não dispunham de dinheiro para isso. Além disso, não teriam, ao menos segundo o raciocínio corrente, motivos para usar óculos. Não freqüentavam escolas; muitos deles eram analfabetos. Ou seja: negro de óculos era exceção.E uma exceção ominosa, suficientemente ameaçadora para ser interpretada como um risco para o nosso jogo dos números. Se os negros começassem a usar óculos, o que aconteceria? Uma subversão completa dos valores então vigentes. Logo estariam freqüentando colégios, quem sabe até universidades. O que seria um espanto, para dizer o mínimo. Na Faculdade de Medicina da UFRGS, que cursei, o número de alunos negros dava para contar nos dedos de uma mão; havia um professor (assistente) negro, mas ele era completa exceção. Atribuía-se a um diretor da faculdade uma frase que dá a medida do preconceito então reinante: “Negro, nesta faculdade, só o telefone”. Naquela época, e isto também é significativo, os telefones – de quem se esperava fossem obedientes servidores, eram obrigatoriamente pretos.***Tem-se afirmado que, com a eleição de Obama (que não usa óculos), chegamos à uma fase pós-racial da História, também anunciada pela diversificação de cores dos telefones.Tomara que seja verdade. Tomara que não tenhamos de voltar para o zero.