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Artigo

  • Seremos todos felizes

    O Estado de São Paulo, em 21/11/2010

    Pelo menos no meu caso, a leitura dos jornais vem provocando uma leve tontura, por vezes não tão leve assim. Estou seguro de que os governantes eleitos não pensam em outra coisa que não o bem-estar da coletividade, pois haverá de ter sido esse ideal o que os moveu a candidatar-se, enfrentando a canseira, o estresse e a despesa de uma campanha, para depois padecer sob a rotina estafante e ingrata da vida pública. Sabemos que, até neste talvez enganosamente sereno domingo, estão ocorrendo reuniões pressurosas em todos os cantos do País, buscando o que fazer para começar desde já a trabalhar pelo bem comum. Também sabemos que os eleitos estão agora mesmo se debruçando com afinco sobre diagnósticos, estudos e planos para a solução dos problemas nacionais, querem trabalhar, querem fazer por nós tudo o que prometeram e mais alguma coisa.

  • A República, filosoficamente

    O Globo, em 14/11/2010

    Há quem sustente que, em janeiro de 1890, Itaparica ainda não tinha certeza de que a República fora proclamada no ano anterior, notadamente o filósofo e tribuno Nabucodonosor Pontes Ferrão, autor de valente discurso intitulado “Onde se encafurna ela, que não aparece?”. Com essa alocução, pronunciada no Largo da Quitanda, em arroubado improviso ornado de lindas ordens inversas, e tida por alguns como apócrifa, mas não obstante ainda venerada como peça de estilo e civismo, o orador, segundo se diz, chegou a convencer grande parte de seus concidadãos de que a República não existia, era uma invencionice de poetas, desocupados e loroteiros.

  • Votando hoje

    O Globo, em 31/10/2010

    Minha primeira lembrança política é de um comício comunista, em noite muito remota, na Praça Pinheiro Machado, em Aracaju. Nossa casa ficava na praça e meu pai resolveu que ia dar uma espiada e me levar com ele. Não lembro oradores, só lembro uma aglomeração de silhuetas agitadas, em frente do palanque armado sobre o coreto. Ficamos pouco tempo, mas me impressionei com o coro dos participantes, repetindo o que para mim soou como “luí-cálu-pré!”, “luí-cálu-pré!”, “luí-cálu-pré!”. Apesar do medo de que ele me remetesse ao dicionário e, a depender da veneta, me mandasse copiar o verbete com boa letra, perguntei o que queria dizer aquilo.

  • A campanha eleitoral na ilha

    O Globo, em 24/10/2010

    Em Itaparica, não se pode dizer que o clima político está muito animado. O itaparicano, como sempre, permanece atento ao panorama nacional, mas os outrora inflamados debates que ocorriam no bar de Espanha deram lugar a considerações de outra ordem. O dr. Serra ficou em terceirão nos dois municípios que compõem a ilha, mas ninguém comenta muito o fato, pois, como observou Xepa, não convém tripudiar, ainda mais que tem segundo turno e nunca se sabe o que pode acontecer, tudo neste mundo é possível. De repente o homem se elege e aí vem tomar satisfações, já basta ele ter levado essa surra no primeiro turno, vamos respeitar a cabeça inchada alheia.

  • Mudando de ramo

    O Globo, em 17/10/2010

    Madrugada meio metida a primavera berlinense, muito clara e ensolarada, mas cortada por um ventinho gélido, desses dos quais se diz fazerem com que descubramos partes do corpo que antes não sabíamos que tínhamos. Descubro algumas e lembro, não sem mágoa, que hoje em dia também percebo ossos de que na juventude não tinha consciência. Mas espano da cabeça pensamentos importunos, estufo o peito na medida do possível e me disponho a começar bem o dia, que afinal, apesar do frio, se anuncia belamente. Não passa muito das 5 e Salvatore ainda deverá estar arrumando sua prestigiosa banca de revistas, de que sou freguês leal.

  • Jogo roubado

    Há muitos anos, lá em Itaparica, todos os presentes a uma seleta mesa no bar de Espanha mostraram grande surpresa e mesmo incredulidade, quando, convidado a participar de um joguinho de biriba, Zé de Honorina se recusou e fez uma revelação de impacto.

  • Zecamunista fecha com Dilma

    Sou do tempo do furo de reportagem e, embora há muito tempo afastado das redações, ainda vibro com a oportunidade de dar uma notícia em primeira mão, o que agora faço através do título acima, ao qual não resisti adicionar um ponto de exclamação. É a pura verdade. De volta a Itaparica, depois de sua temporada de inverno, em consagradoras rodadas de pôquer com magnatas até de Santo Antônio de Jesus, Zecamunista apareceu inesperadamente no bar de Espanha, durante o happy hour das 10 da manhã, e anunciou a abertura do Comitê Eleitoral Tamos com Ela.

  • Previsões previsíveis

    Na campanha eleitoral que, a despeito das aparências, transcorre no momento, tenho sentido falta de previsões de pais de santo, videntes, astrólogos e outros que enxergam o futuro.

  • Como seria bom

    Há muitos e muitos anos, ir à Suécia era o sonho de jovens brasileiros que sobre ela só sabiam que revistas pornográficas lá eram produzidas e vendidas livremente e que as suecas tiravam a roupa assim que avistavam negros e morenos de modo geral, caso da grande maioria de nós. Até já estive na Suécia, ainda mais ou menos nessa época, e receio ter de recordar que meu bronzeado baiano não fez nenhum sucesso. Mas a imagem antiga, diluída em fantasias juvenis, permanecia na memória. De uns tempos para cá, contudo, isso vem sendo substituído por um certo calafrio, quando me bato com uma notícia vinda de lá.

  • Desta vez é despedida mesmo

    Não sou político, mas devo estar aprendendo com o exemplo, porque prometi um par de vezes aposentar definitivamente meu caderninho de implicâncias com a linguagem, até porque não quero ocupar este espaço com mais uma coluna sobre o bom uso de nossa língua, para o que, diga-se a tempo, não sou muito qualificado. Tem bastante gente fazendo isso nos jornais, com competência. Mas não cumpri — aliás, não estou cumprindo agora — as promessas. Peço a indulgência geral e prometo, agora solenemente, que tão cedo não torno a outra. Bem verdade que os políticos também fazem promessas solenes, mas espero não imitá-los no hábito de esquecê-las.

  • Dentadura, sapato ou emprego

    A grande festa da democracia já está rolando, embora a animação não pareça das mais intensas. Pelo menos para mim, nos cada vez mais escassos momentos em que consigo assistir ao horário eleitoral sem dormir, lembra esses circuitos de Fórmula Um onde as ultrapassagens são quase impossíveis e a corrida se define logo depois das primeiras três ou quatro voltas. Espero não violar nenhuma lei eleitoral, ao endossar a opinião de praticamente todo mundo com quem converso, ou seja, o dr. Serra já perdeu, anda com jeito de perdedor e às vezes a campanha dele dá a mesma impressão que a de um time de futebol em campo apenas para cumprir tabela. Observando-a em andamento, a gente às vezes precisa até de um pequeno esforço, para recordar que se trata de um candidato da oposição.

  • O problema da agonia teórica

    Normalmente, a banca de Salvatore não está muito movimentada, na hora em que chego para pegar os jornais e, logo depois, o pão na padaria. São mais ou menos cinco e meia e o dia parece amanhecer de mau humor, um friozinho penetrante emperrando juntas e fazendo Salvatore imprecar em calabrês. Na calçada da padaria, um grupo de moças e rapazes, provavelmente saído de uma festa, toma o café da manhã em algazarra, sob os olhares invejosos dos coroas. Claro que também invejoso, percebo que um casal me acena, aceno de volta, sorrio para o grupo. Que beleza, só se tem 20 anos uma vez, penso, antecipando uma volta à casa imerso em filosofias de velho. Mas sacudo a cabeça para espantar bobagens e entro na banca, onde uma sacola já me espera, com os jornais de sempre.