
Ditados populares
Para falar a verdade, ainda não sei se estou louvando ou lamentando a eleição do Severino para a presidência da Câmara dos Deputados e para o terceiro cargo mais importante da República.
Para falar a verdade, ainda não sei se estou louvando ou lamentando a eleição do Severino para a presidência da Câmara dos Deputados e para o terceiro cargo mais importante da República.
O coloquial, tão próprio da identidade latina, encontra na matriz haitiana um adensamento inesperado. Nasceu o país de um levante escravo, num quadro de ruptura sem memória ou invocação do passado. E todo prospectivo, por aí mesmo, num grau de simultaneidade agressivíssima com o padrão da época, tanto a guerra de independência de Toussaint L"Ouverture ou de Christophe os projetou no maior fastígio da era napoleônica.As identidades se fazem de logo a partir dessa quase intoxicação com a conquista do poder e o direito a ombrear-se com o imperador, em Paris, de irmão a irmão, nas cartas, cujo intimismo leva ao espanto e à rejeição do corso. É toda a toalete, o garbo, as insígnias e cocardas e, sobretudo, o chapéu da grand armée que imanta de logo o imaginário dos homens de Cap Haitien, de Gonaives e de Port au Prince. Muito, subseqüentemente, da irritação de Napoleão com Toussaint nasceria da insolência dessa primeira assimilação.
Têm aparecido nos jornais, com certa freqüência, excelentes notícias sobre como algumas cidades brasileiras vêm minorando de forma notável seus problemas de segurança e violência, através de medidas singelas e de fácil execução. Tão marcante parece o êxito dessas providências que possivelmente serão propostas para outras cidades. Ou impostas, o que se pratica muito aqui, pois que vivemos numa ditadura, apenas do tipo “com direito a chiar” - se bem que estejam querendo tirá-lo, mas acho que vão deixá-lo de enfeite, aqui e ali, até porque cai sempre bem para mostrar às visitas e nas inspeções e classificações a que estão sempre nos submetendo.
O TÍTULO DESTA COLUNA É TAMBÉM o título de um hexagrama do I Ching, o livro chinês das mutações humanas: a comunidade com os homens sempre traz boa fortuna. A seguir, algumas histórias a respeito.
A solução do assassinato e do terror está se impondo como caminho para resolver problemas políticos. É um atraso na história da humanidade. O homem primitivo não conhecia outra fórmula senão a violência: o uso do tacape. Hobbes, aquele que refletiu sobre a lei natural, diz que o Estado existe por causa do medo da morte violenta.
Norberto Bobbio, falecido em janeiro do corrente ano, concedeu a um de seus discípulos, Raffaele Luine, memorável entrevista que vem esclarecer uma série de questões relativas à fé, aos poderes da razão, à heterodoxia e à religiosidade.Bem poucos têm escrito sobre a religiosidade, apresentada pelo grande pensador piemontês como o estado de espírito em que o ser humano se sente "imerso do mistério", na agonia insaciável da procura da verdade, sem saber dizer sim ou não às perguntas que emergem do íntimo de seu ser.
Nem é uma derrota como outras, em diversas circunstâncias, já esquecidas. A derrota do PT, para a qual o presidente do partido, José Genoino, procura um bode expiatório, tem o significado de que a estrela de Lula começa a empalidecer.
Sentei-me no computador na ilusão de tratar das surpresas econômicas que estão sendo anunciadas neste fim de ano: o crescimento inesperado mas bem-vindo do PIB em 5%, os dois milhões de novos empregos e outras conquistas que o leitor está cheio de ouvir.
A editora Record e a escritora Heloísa Seixas realizaram um dos meus sonhos: ver em livro alguns dos trabalhos publicados na revista "Manchete", durante cinco anos, de 1972 a 1977, sob o título, instigante é certo, mas errado, "As obras-primas que poucos leram".
Foi sobre a América Latina o meu primeiro livro, lançado pela saudosa Companhia Editora Nacional de Octalles Marcondes. Para surpresa minha, os exemplares impressos pela editora se esgotaram em pouco tempo. Restaram para meu arquivo alguns exemplares, um dos quais, o que sobrou, está em minha biblioteca. Foi uma estréia sobre assunto que há muito me preocupava, que era a América Latina, um imenso território, com numerosas repúblicas, todas mais ou menos em decadência ou com problemas.
Completa 80 anos, nesta semana, Mario Soares, fundador dos tempos de modernidade portuguesa. Da Revolução dos Cravos, à plenitude do mandato presidencial, sua reeleição e do assento definitivamente civil da República, para além das fardas da transição democrática. De Mario Soares, estadista, o reconciliador e o garante da mudança, plantada sem fissuras sobre o país das nostalgias possíveis nesta emancipação de dentro, do sentido verdadeiro da comunidade, sobre o além-mar, que tem, no cidadão-presidente Mario Soares, seu dom do colóquio, sua indignação, sua vigília pelos direitos humanos, a personalidade legitimamente internacional da nossa fala.
Não faz um mês - ou faz um pouco mais - que o presidente da Venezuela, presente há muito nas colunas da mídia nacional, nas ondas de rádio e na tela da tevê, está com nosso Luís Inácio Lula da Silva, que, agora, com o Air Lula, pode percorrer milhares de quilômetros com grande conforto e um aparelho novíssimo. Uma das visitas da semana passada foi ao presidente Chávez, com o qual, segundo a mídia, tratou de negócios.
O Brasil oferece ao estudioso e aos observadores, sobretudo os da mídia, peculiaridades que não preocupam governo, representação política, instituições políticas e administrativas, como ocorre aqui, nesta terra de tantas oportunidades, em grande parte perdidas. Uma dessas peculiaridades é fazer difícil o que é fácil. Ou complicar excessivamente os problemas que devem ser resolvidos num período de tempo limitado. É o caso das indenizações.
Não sei se o prezado leitor acompanhou recente noticiário televisivo pelo qual se anunciava que autoridades de ensino de determinada região dos Estados Unidos, tendo chegado à conclusão de que a deficiência escolar patente nos alunos negros se devia à sua insuficiência de conhecimento do inglês standard - tanto na gramática quanto no léxico -, resolveram ensinar e admitir nas escolas a modalidade de inglês que acredito seja o que lá se conhece, entre especialistas, por black english vernacular. Digo acredito, porque essas notícias culturais passam diante do telespectador como gato por brasas; dá-se preferência a assuntos gerais da política, dos esportes e da vida em sociedade, principalmente fofocas e escândalos do grand monde. Mas o noticiário registrou também o repúdio das pessoas entrevistadas sobre o que pensavam da medida; e a reação maior, com muita justiça, partiu dos pretos, alegando que eram pessoas normais, que queriam aprender o inglês padrão e que tinham os dotes intelectuais e culturais para consegui-lo, do que, aliás, dão prova vários segmentos da sociedade norte-americana, em todos os ramos das artes, das ciências e dos esportes.
No andar da carruagem, só se reforça pela crescente popularidade de Lula o horizonte de um segundo mandato. É diante dos tucanos também fortalecidos que deverá se dar o entrevero. Mas onde estão as barras da diferença para a disputa, se se alega que Lula não saiu do neoliberalismo de FH, e a plataforma a que possa almejar, arrancando dessas areias movediças, é a de realizar o programa social democrático, que ficou na gaveta do antecessor? Não é outra a constatação de Cristovam Buarque, após a conversa ampla e franca com o ex-Presidente, apontando para o mesmo refogado ideológico em que se cozinharão as duas legendas. FH olha para o futuro, como o encontro marcado com este programa, sufocado pelo imperativo de manter-se à tona, no seu mandato, uma viabilidade econômica, triturada pelo castigo da economia global. Neste quadro não há projeto, tudo é conjuntura, como salientou com toda sensibilidade o presidente sociólogo da ''Teoria da Dependência'', e da visão paciente pelos lucros e perdas históricas que permitam, a seu tempo, a um governo o saldo da mudança.