
"Mata! Mas não esquarteja"
O nosso arraial político está surpreendido (ou irritado) com o acordo municipal celebrado entre dois pesos-pesados de larga quilometragem no cenário nacional: Lula e Paulo Maluf.
O nosso arraial político está surpreendido (ou irritado) com o acordo municipal celebrado entre dois pesos-pesados de larga quilometragem no cenário nacional: Lula e Paulo Maluf.
Diante do documento final da Rio+20, que parece sem ambições maiores que a de alcançar um consenso entre os participantes, sem importar a profundidade dos compromissos assumidos, já começam vários movimentos para tentar avançar além dele, em acordos paralelos que possam suprir sua falta de perspectiva histórica.
Embora dentro das normas constitucionais, a deposição do presidente do Paraguai Fernando Lugo pelo Congresso tem claros indícios de que foi o desfecho de uma disputa política que se desenrola praticamente desde que ele chegou ao poder, cerca de 4 anos atrás. Já houvera antes uma tentativa de impeachment quando surgiram as denúncias de vários filhos do ex-padre católico, dois dos quais ele já reconheceu. Há outros na fila.
A diferença entre o que aconteceu no Paraguai e um golpe parlamentar está em que a Constituição do país não foi alterada em uma vírgula para que o processo de impeachment fosse votado.O fato é que o agora ex-presidente Fernando Lugo já não contava com apoio político, pois o pedido de impeachment, liderado pelo oposicionista Partido Colorado, foi aprovado por 76 votos a favor e um contra, com três abstenções.
Crônica publicada na "Ilustrada" da última sexta-feira, "Mata! Mas não esquarteja" provocou protesto de leitor, que considerou o conselho mais selvagem do que aquele que foi dado por Paulo Maluf há tempos, "Estupra, mas não mata!", conselho que, aliás, está citado explicitamente no meu texto.
Antigamente, desde os bons tempos do Banco Nacional da Habitação, no século passado, falava-se muito no sonho da casa própria, todo mundo tinha o sonho da casa própria. Hoje, quase não se escuta mais a expressão. Imagino que é porque, como verificamos todos os dias em comerciais de televisão e pronunciamentos oficiais, o governo já resolveu o problema da moradia. Os brasileiros (e brasileiras, vivo esquecendo a nova regra; atualmente, falou no macho, tem que falar na fêmea e, portanto, acostumemo-nos: alunos e alunas das escolas públicas, passageiros e passageiras do voo tal, cavalos e éguas do Jockey Club, cachorros e cadelas do Kennel Club, motoristos e motoristas, fisioterapeutos e fisioterapeutas, governantes e governantas, delinquentes e delinquentas, etc.), os brasileiros e brasileiras, dizia eu, agora são mostrados em filmetes radiosos, cheios de dentes, envergando trajes impecáveis e estampando nos rostos a felicidade. Como os demais compatriotas e compatriotos seus, já moram em espaçosas casas próprias, com área de lazer, esgoto tratado, água encanada, transporte acessível, assistência médica e tudo mais que os governos fazem pelo bem público, com os quatro ou cinco meses de nossos salários que na marra afanam. Abate-se o porcentual normal de ladroagem, de desperdício e de propaganda e o que sobra, embora por vezes não muito, é rigorosamente aplicado em investimentos e serviços públicos.
Publicada em 19/06/2012
O Acadêmico e poeta Antonio Carlos Secchin foi o responsável pela coordenação, e a última conferência debateu o tema “Saldo e legado da Semana de Arte Moderna”.