
A Copa e a mídia
Herdei do pai a qualidade de abraçar causas perdidas, canoas furadas. Daí que concordo com três companheiros de ofício.
Herdei do pai a qualidade de abraçar causas perdidas, canoas furadas. Daí que concordo com três companheiros de ofício.
Leio nas folhas que os responsáveis diretos pela seleção nacional, que disputa a Copa das Copas, contrataram uma psicóloga para fazer uma espécie de terapia para que os nossos craques equilibrem suas emoções que geralmente afetam o desempenho deles. No passado, tivemos alguns casos que ficaram famosos.
Se o cronista tivesse todos os pecados e defeitos do mundo (estou mais ou menos próximo a tão honrosa posição), eu deixaria para a final o jogo de hoje, entre Brasil e Alemanha. Semana passada, previ uma final entre a Bósnia e Gana. Não deu. Se fosse ganhar a vida como pitonisa ou profeta, estaria morando em Belo Horizonte, embaixo do viaduto que caiu, sem a participação do Zuñiga, o colombiano que derrubou Neymar.
Quando os ingleses começaram a chutar o crânio dos adversários criando, sem saber, o jogo mais popular do mundo, ninguém me consultou sobre as regras que deveriam ser obedecidas por todos os jogadores. Mais tarde, fizeram uma lista de proibições e direitos que deveriam dar régua e compasso, em níveis internacionais que, com raríssimas exceções, são obedecidas e, de certo modo, explicam a popularidade e a importância do chamado "esporte bretão".
A Copa já está na metade e as eleições estão cada vez mais próximas. Embora haja entusiasmo do povo e da mídia, ainda não houve um grande jogo e o futebol exibido é medíocre.
A última constatação a que cheguei, tardia como todas as descobertas que faço, deveu-se ao esparadrapo. Nada menos do que isso: o esparadrapo.
Antes de cada Copa, os entendidos em futebol citam as seleções que deverão ganhar o título de campeão: Brasil, Alemanha, Itália, Inglaterra, Espanha, Argentina não necessariamente nessa ordem. Nesta Copa das Copas, segundo dona Dilma, parece que as coisas estão mudando.
Em menos de uma semana, pela segunda vez, em meu combalido currículo de cronista, usarei a palavra "pífio" para designar o jogo do Brasil contra a Croácia. Dele, só lembrarei a extraordinária atuação de Oscar e o pênalti sofrido por Fred. A maioria dos torcedores brasileiros decretou que não houve falta, menos o juiz. E eu.
Não entendo a razão da maioria dos candidatos de nos atropelarem com suas comitivas. Por Júpiter! Não sabemos direito quem está com ou contra quem.
O primeiro é primeiro mesmo. É um recado amistoso para dona Dilma, que está falando demais. Lembra dom Hélder Câmara, que dava palpite sobre qualquer assunto que rendesse espaço na mídia: concurso de misses, operação do menisco no joelho de Ademir, enchente no Catumbi, crime na rua Sacopã, a morte de Aída Curi, os ossos de Dana de Teffé, o tricampeonato do Flamengo, a crise dos mísseis em Cuba.
Todo agente segundo Aristóteles age com vistas a um fim. Vamos fazer uma simples comparação: quando descobriram a América, os europeus procuraram lucrar com a descoberta de um mundo até então desconhecido.
Sim, o verão acabou. É bem verdade que ainda faz calor --havia sol lá fora, derramando uma luz crua sobre as águas escuras da lagoa Rodrigo de Freitas. Pela manhã, os barcos de regata que passam em frente à minha varanda são silhuetas esguias, da cor dos violinos, cortando a carne da lagoa. O rastro do barco é de espuma branca, quase cor de prata.
Aprecio tudo o que não sou capaz de ser ou fazer. No circo, fico pasmo diante da equilibrista, do engolidor de espadas, do trapezista e do mágico. Já os palhaços não me emocionam: sou capaz de fazer palhaçadas, algumas melhores do que as do picadeiro. Outras funções da humana faina também me deslumbram na medida em que sou incapaz de fazê-las.
Como qualquer brasileiro, deplorei os acontecimentos tidos e havidos pelo Brasil afora. Mas, honestamente, não me alarmei o suficiente. Acredito que devemos meditar sobre a decantada "índole pacífica do povo brasileiro" e bota pacífico nisso.