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Artigos

  • Sim, mas quem não é?

    O Globo (Rio de Janeiro), em 21/08/2005

    Vejam vocês, o sujeito pensa que já viu tudo, tendo nascido na primeira metade do século passado, e se tornado foca (involuntário - meu pai não era moleza e me meteu numa redação de jornal sem me consultar e eu que voltasse para casa rejeitado, porque destino mais ameno teria quem embarcasse para a Coréia por volta daquela época) aos 17 anos e militado em tudo que é tipo de coisa em redação de jornal, no tempo em que se berrava e fumava nas redações, só tinha uma mulher ou outra, assim mesmo considerada meio anormal, ou de comportamento sexual aberrante ou vítima de distúrbios mentais, e bastava aprender a pilotar uma Remington para tentar se dar bem.

  • Vocês aí

    O Globo (Rio de Janeiro), em 07/08/2005

    Peço desculpas pela repetição de algo que já escrevi aqui diversas vezes, mas acho necessário, porque persiste minha impressão de que o povo brasileiro esquece uma verdade importante. Entre nós vigora a soberania popular, expressa no belo enunciado “todo poder emana do povo e em seu nome será exercido”. Embora a Constituição seja violentada ou ignorada o tempo todo, a manutenção desse princípio é básica e consagra a verdade de que o dono do país é o povo e que todo servidor público, eleito, concursado ou nomeado por compadrio é empregado do povo e lhe deve serviço e satisfações.

  • Não é por aí

    O Globo (Rio de Janeiro), em 31/07/2005

    Tenho tido a impressão de que, no meio de toda a confusão em andamento no país, há uma tendência a cultivar-se uma certa compaixão pela situação do presidente da República. Ele é visto e descrito como isolado, abandonado e traído e cheguei a ler diversas vezes que nem mesmo quer falar com correligionários e colaboradores históricos, tais como o dr. Genoino e o dr. Dirceu. Não sei se é verdade e o sentimento de compaixão pelo semelhante é dos mais nobres que a natureza humana pode abrigar. Mas, no caso, não compartilho desse sentimento, até mesmo porque o presidente até agora não deu ousadia aos súditos de explicar sua posição no imbróglio, nem parece estar disposto a dar. Quem quiser que especule sobre se ele sabia de todo ou de parte do esquema de corrupção que continua a ser exposto. O jeito com que ele aparece em público é o de quem não está nem aí e tem pouco ou nada a ver com os escândalos que envolvem seu partido e acontecem durante sua gestão.

  • O que é isso, companheiro?

    O Globo (Rio de Janeiro), em 24/07/2005

    Abordando o que vou abordar, corro o risco de desinteressar os leitores. Culpa minha, claro, pois estarei tocando num assunto velho. Já é comum escreverem-se ensaios polissilábicos sobre como a massa de informação que nos bombardeia sobrecarrega a mente e nem temos tempo de pensar direito. E a tecnologia, cada vez mais célere, torna tudo obsoleto de um dia para o outro. Consumimos novidades, não queremos senão novidades, tudo envelhece em poucos dias, às vezes horas. O massacre de ontem hoje não mais interessa e a corrupção denunciada hoje cansa, se repisada amanhã. Tudo, até a notícia, virou uma espécie de mercadoria e o consumidor quer o último lançamento.

  • Agora ficou claro

    O Globo (Rio de Janeiro), em 17/07/2005

    Provavelmente já enchi a paciência de vocês, que, aliás, deviam escolher melhor suas leituras, com minha perplexidade, diria mesmo obtusidade, diante das alegações de que há um esquema da direita (cartas sobre como ninguém mais sabe o que é isso para o editor, por caridade) para alijar do poder o presidente Lula e, simultaneamente, arruinar o projeto de um Brasil socialista, igualitário e democrático, ora em andamento. Pessoalmente, vou dizer de novo, não admito a idéia de “fora, Lula”, que considero irresponsável, inconseqüente, leviana e estúpida. Mas quem me lê sabe o que tenho falado do governo e, acho eu que com menor ênfase, do presidente. Isso me incomodava, porque assim eu fazia parte da conspiração - e a parte do besta, pois nenhum dos conspiradores jamais sequer me deu a ousadia de passar instruções. Não era necessário, era tudo construído num nível que se dispensa de dar maiores satisfações ao baixíssimo clero, como a maioria de nós, inclusive eu.

  • Assim não dá

    O Globo (Rio de Janeiro), em 10/07/2005

    É por essas e outras que este país não vai para a frente. Como vocês viram, se me leram na semana passada, fiz um valente esforço de reportagem para desistir de minha participação no complô da direita e das elites para alijar o presidente Lula do poder. Bem verdade que tenho reiterado minha oposição decidida a essa conversa de “fora, Lula”, mas vivem repetindo que, nas entrelinhas, eu quero dizer o contrário e aí resisto aos entrelinhistas com a bravura possível e sempre confirmo minha postura de que ele é o presidente legitimamente eleito e, portanto, a não ser dentro dos limites estritos da ordem jurídi-ca, não pode ser objeto de campanhas desse tipo. Isso, contudo, não impede, por se tratar de atitude completamente diversa, que eu fale mal do governo, também dentro dos limites da ordem jurídica, que consagra um direito com o qual todos nascemos e não é dádiva de ninguém, ou seja, a liberdade de pensar e expressar. Ou então de manifestar a opinião pela qual nos pagam, prática pelo visto consagrada, ao menos consuetudinariamente, na vida pública pátria.

  • Alpiste para os rolinhas

    O Globo (Rio de Janeiro), em 03/07/2005

    Sei que está bastante fora de voga faz algum tempo, mas sou dos que acreditam que, se fizemos uma promessa, devemos procurar cumpri-la. Quem teve o estoicismo, ou que outra razão atraia algum leitor, para ler esta coluna na semana passada deve recordar que prometi descrever o que esperava, com toda a honestidade, ser uma tarde empolgante, jogando alpiste para as rolinhas da Rua Dias Ferreira, aqui no Leblon. Tenho pouquíssima experiência no assunto, mas, depois de décadas numa profissão em que saber observar é indispensável, não vou dizer que sou bom repórter, não sou nem repórter mediano, mas conheço uns dois macetes operosamente aprendidos ao longo do tempo, peruando o trabalho dos craques e fazendo perguntinhas importunas.

  • Já não está mais aqui quem falou

    O Globo (Rio de Janeiro), em 26/06/2005

    Jorge Amado, de quem pelo resto da vida me sentirei órfão, sempre me ensinava alguma coisa, às vezes obliquamente, com uma ironiazinha amistosa e divertida (agora me questiono, desculpem estes parênteses mal colocados, sei que abuso: pensei em escrever “amorosa” e aí usei “amistosa”, mas mandam a honestidade e a vergonha confessar que foi porque não quis me expor a piadinhas que na verdade refletiriam grossura ou má vontade da parte de seu autor e que, por que não dizer, eu estava agindo preconceituosamente, pois posso perfeitamente descrever meu relacionamento com ele como de amor fraterno, que eu tinha por ele e sabia que ele tinha por mim e portanto refaço o que ia fazer): Jorge Amado às vezes me passava ensinamentos com uma ironiazinha amorosa e divertida, volta e meia expressa apenas em gestos, mas quase sempre com histórias que eram meio parábolas. Ou então, sabedor de que meninos como eu e muitos outros o viam como sábio, exemplo de grande artista e a encarnação da generosidade, dava lições mesmo. Tenho-as bem estocadas na cabeça e consigo fazer uso de algumas, porquanto para outras careço da necessária categoria.

  • Quem nasceu ontem?

    O Globo (Rio de Janeiro), em 19/06/2005

    Não sei em que vai dar todo o fuzuê da semana passada. É bem possível que não dê em nada e os punidos por acusações eventualmente provadas venham a ser o boy que comprou as malas do suposto dinheiro do mensalão (tenho que usar “suposto”, “alegado” etc., senão pode dar processo em cima de mim; mas, como é meio chato ficar repetindo esses adjetivos o tempo todo, peço que os subentendam daqui por diante) e talvez os caixas dos bancos que entregaram o dinheiro aos sacadores. E certamente vai sobrar para mim, pois deverei incorporar a condição de preposto do deputado Roberto Jefferson à minha condição de porta-voz de quem quer que achem que no momento estou portavozeando. Mas é isso mesmo, já estamos e já estou acostumado.

  • Fé no Brasil num boteco do Leblon

    O Globo (Rio de Janeiro), em 12/06/2005

    É porque eu não sou desses intelectuais de merda que escrevem nos jornais, sempre choramingando, reclamando e se estarrecendo. Aliás, eu não agüento mais ver neguinho se estarrecendo, não tem nada que se estarrecer, sempre foi assim mesmo. Claro que ninguém roubava por computador antigamente, mas agora é natural é que apareça quem roube por computador, é da vida, realmente eu não agüento mais, vão se estarrecer na Islândia, onde não acontece nada e aí ninguém lá se estarrece.

  • Que elites, cara pálida

    O Globo (Rio de Janeiro), em 05/06/2005

    Hoje eu não ia falar do governo. Tem gente, acho que a maioria, que não acredita, mas a verdade é que não gosto de ficar falando mal do governo, como, aliás, já disse em outras ocasiões. Não só me lembra meu votinho de otário, dado a um partido que acreditava diferente dos demais, como é chato pegar no pé dos homens o tempo todo, ainda mais em nosso querido Brasil, onde nos acostumamos a que tudo tenha por trás armação ou mutreta. Já me acusaram de envolvimento com não sei quantos esquemas, que nem consigo entender direito, tamanha a complicação. O ouro de Moscou, do qual peguei muito para penhorar na Caixa Econômica lá na Bahia (vinha em saquinhos com cifrões impressos, como nas histórias em quadrinhos, se bem me lembro), infelizmente não mais complementa meu modesto orçamento de agente das forças do Mal e das ideologias exóticas. Os dólares manchados de sangue provenientes de Wall Street tampouco têm pintado. Enfim, é uma situação bastante apertada para nós, os que enganam o povo por dinheiro e poder.

  • Que tal uma tolerância zero para nós?

    O Globo (Rio de Janeiro), em 29/05/2005

    Sei que não adianta, mas reitero minha rejeição ao rótulo de “formador de opinião” que a toda hora me pespegam. Não só o acho pretensioso, como não creio que seja verdade. O que acredito que faço com alguma freqüência é dar forma ao que muita gente já vinha pensando, ou veicular o que ela já trazia formadinho na cabeça e não tinha como manifestar. Não sou megalômano, para achar que, depois que dou um palpite - que, aliás, pode ser uma perfeita besteira, pois claro que digo besteiras como todo mundo, embora talvez não tão abundantemente quanto uns e outros, pelo menos em público -, vai aparecer um monte de gente querendo segui-lo. Só se for um palpite que já esteja dormindo ou armazenado na cabeça do pessoal e eu apenas o desperte, ou dê de cara com ele no fundo de uma gaveta que já desistimos de arrumar.

  • Alegria, alegria

    O Globo (Rio de Janeiro), em 22/05/2005

    Pelo menos no dia e na hora em que escrevo, faz um lindo dia outonal, como espero que também neste domingo. Os ares parecem puros, o céu está azul e límpido e a orla da Baía de Guanabara, que fica aqui tão pertinho de onde eu moro, lá permanece em sua formosura esplendorosa e irrespondível. Devemos, portanto, estar felizes. Claro, a bela leitora (não é machismo ou discriminação, são hábitos de antanho, pois diz a lei que sou do tempo dos afonsinhos) e o inteligente leitor (idem) podem ser agnósticos ou ateus, mas também podem fingir por um momento que não são e pensar como de fato o Senhor Bom Deus caprichou ao nos dadivar a nossa terra - e não somente o Rio, é claro, mas tão grande parte de toda ela.

  • O programa Fala Zero

    O Globo (Rio de Janeiro), em 08/05/2005

    Como diversos entre vocês (a palavra “como”, no caso, não é verbo, faço questão de esclarecer), fiquei um pouco surpreendido com a iniciativa do governo em orientar o uso da língua para o politicamente correto. Digo “um pouco” porque espero patadas desse governo com regularidade e os brasileiros estão acostumados a ele meter o bedelho em tudo. Mas, se a surpresa foi pouca, a reação não pode ser, porque, demonstra a História, é assim que começa. Vão tomando um dedinho, a gente deixa, aí tomam a mão, tomam o braço, tomam o tronco e quando a gente (aliás, “gente”, assim como “pessoa”, não devia ser palavra feminina, porque há o risco de ofender homens extremadamente ciosos de sua masculinidade; tentemos empregar, por exemplo, “gento” e “pessôo” ao nos referirmos ao sexo masculino e “genta” ao feminino) se dá conta, já tomaram o corpo todo.