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Artigos

  • Enfim, a virada de página

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 18/08/2006

    Começam um a um dos incriminados no processo dos sanguessugas a desistir de voltar às eleições. É como se o excesso de abuso começasse a bater na consciência política, após o escárnio do mensalão. O Congresso já moeu a carne da vergonha até a medula ao absolver os primeiros implicados em manifesto caso de corrupção da República, cosanostra. O País sequer continuou a prestar atenção a um perdão após outro, apesar das manifestações das CPIs, ouvidos moucos e frouxos dos colegas de plenário, tapinha nas costas e chopada com os julgadores de uma hora antes.Do escândalo nas manchetes seguiu-se a vergonha silenciosa diante do País, pela qual a larga maioria do Congresso consagrou, como usos e costumes da política brasileira, o recurso ao caixa 2 e ao uso do dinheiro público para a paga de despesas eleitorais. Não faria verão já, entretanto, a etapa subseqüente da modernização da máfia orçamentária, através da apropriação das verbas federais, a equipamentos públicos e dinheirama, dividida entre o empresário de todas as audácias, e os deputados de todas as emendas e subemendas.No que ainda era o respingo democrático e múltiplo do valerioduto, a esbórnia dos sanguessugas evidenciou já uma burocracia disciplinada da corrupção. No seu trivial, pôde se fartar no baixo clero e, dentro dele, serviu para expor a especial desenvoltura para o crime das neobancadas chegadas ao parlamento. Ou seja, a dos evangélicos, sem a tradição política profissional da traquitana do dinheiro fácil, disfarçado das ambulâncias, franqueadas entre o dízimo dos pobres e a comissão dos novos ricos do Congresso.

  • O outro Brasil pede passagem

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 11/08/2006

    A chegada das opções de voto em Lula a 44%, à entrada de agosto, torna nítida uma maioria de votos que dificilmente se abalará pela televisão, ou por novos escândalos, ou pelo disparo ainda de algum azarão. Heloísa Helena encarregou-se dessa surpresa ao dar voz à radicalidade política, venha do utopismo desabrido, do rigor da detergência partidária, ou do protesto que saiu do voto nulo. É o Lula que ganhará contra o desgosto da classe média e o nariz arrebitado do país rico que não vão agora repetir o seu deslate em votar no operário de todas ditas decepções.

  • A constituinte e a polícia já

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 09/08/2006

    Faltava-nos ainda, no bojo das decepções com a nossa cultura política, o remédio radical a que aspira a ingenuidade da nossa boa consciência cívica. Veio, afinal, em festa, como um bolo de noiva, o remate definitivo. Convoquemos a Assembléia Constituinte, exclusiva, para a reforma partidária. A sugestão portentosa vem à mesa do presidente. Mude-se a Carta toda, ao invés de estacarmos a cada tentativa de modificação.

  • Lula lá, sem o PT

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 04/08/2006

    As variações mínimas entre os dois primeiros candidatos à Presidência parecem se estabilizar, após o susto de Heloísa Helena que, afinal, representa apenas a alternativa aos votos nulos. A alagoana logrou a torna, ainda, às urnas do país do desencanto ou do cinismo sofisticado, em mal que acossa sobretudo as elites extremas, tanto do statu quo quanto da utopia revolucionária. A candidata, aliás, não tem feito concessões à visão de um modelo socialista, de par com a volta clássica às rupturas internacionais e à declaração de guerra à economia global, e ao que continua, do acordo de Washington.Da mesma maneira, a senadora satisfaz o conservadorismo mais atilado na bofetada que inflige ao presidente e a violência da crítica petista. "Só não me mate" é o grito em que o PSOL se quer ver como o castigo do PT confrontando a reeleição de Lula e a prática efetiva da mudança. Por outro lado, o dr. Alckmin não deixa dúvidas quanto ao bem comportado dos seus reformismos, na definição mais complacente do que possa ser um centro, sem causar mossa, nem susto ao cisco de votos do pefelê e do tucanato.Dentro da inércia que parece tomar conta do avanço das preferências eleitorais, reduz-se a dúvida, de ainda uma quinzena, de se chegaríamos a um segundo turno para a vitória do presidente. É claro que o voto de Heloísa Helena se embarrica nas classes A e B, de expressão numericamente reduzida no quadro de massa do eleitorado brasileiro. E o voto que tem não se transfere naturalmente para o PSOL que ameaça sobrar na cláusula de barreira e submergir na condição ainda de partido nanico, com menos de 5% do eleitorado. É o mesmo contraste que define hoje a posição de Lula, cuja avalanche de votos vai à vitória sem ao mesmo tempo consagrar, como em 2002, o PT como partido dominante de um novo situacionismo. A legenda não assumiu a indigitada culpa do mensalão purgando-se ou modificando os seus quadros, ou aceitando uma proposta de refundação. O resultado será cada vez mais a vitória de Lula sem o PT e enfrentando todo um novo mosaico de partidos para o comando do Congresso, no qual avultará, sem dúvida, a importância do PMDB.De toda forma, o segundo mandato põe em questão este fundo de apoio irrestrito ao presidente, e ao seu eleitorado de fé, inabalável. Continua na plataforma dos 33% do País que reiterará o seu voto em Lula. Não se abalou com o mensalão, nem com as cargas do moralismo onde o statu quo tentava quebrar a era inaugurada pela vitória incisiva do petista. Este eleitorado é o de todo aquele Brasil ainda da marginalidade básica que se mantém no umbral do mercado e do acesso ao emprego e à melhoria de renda. O enorme peso dos desmunidos, por sua vez, não se confunde com o proletariado, de onde saiu a primeira matriz sindical do PT. A vitória de 2002 se fez com estes dois eleitorados, a que cumulou um enorme setor da classe média tentada pelo "Lulinha paz e amor", e pela chance de um governo diferente, ainda que não necessariamente mudancista.Todo este setor soçobra, agora, na nova opção eleitoral para a Presidência, sem, de fato, atingir os segmentos de base, responsáveis pela nova vitória de Lula. O que é mais importante, entretanto, é o quanto este Brasil da marginalidade manteve a sua esperança, mesmo se não obtivesse o prêmio esperado da entrada no mercado de trabalho, e na garantia do emprego que lhe permitiria somar-se às classes sociais e aos sindicatos no país. Receberam o toque, entretanto, da mudança decisiva e da ruptura da inércia, pelo acesso aos serviços sociais imediatos e ao ingresso nos benefícios da educação, e, cada vez mais, da saúde. O Bolsa-Família refletiu esta nova realidade e, por ela, o ganho de uma sensação de mudança e de acesso social, independentemente da perspectiva clássica em que se deveriam realizar a primeira esperança do destituído.O apoio a Lula vai, por isso mesmo, independer das taxas pífias de aumento de emprego, vindas ainda do começo do mandato. Mas tal se o entendermos como a garantia de carteira, já que o salário informal se expandiu em condições surpreendentes, e remunera a mão de obra saída de vez do descarte social. Ou mesmo, em larga parte, do biscate como sua melhor fortuna.Não sabemos ainda até onde o extraordinário sucesso do Bolsa-Família, nos seus 11 milhões de contemplados, teve um efeito de irradiação que leva a confiar numa nova etapa de mudança. Ou de se o sucesso já alcançado define o novo e surpreendente estado de satisfação social, capaz de renovar o mandato do presidente. É, talvez, nesta vertente que se assenta a solidez do novo governo. E os caminhos inventivos para atender a esse seu eleitorado particular que lhe dá outros prazos de sucesso e paciência nos resultados. Sobretudo abre para consolidação do "Lula lá" expectativas diversas das predições de colapso, do agouro das oposições ou dos moralismos de capa e espada.

  • Ganhamos a Copa

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 28/07/2006

    A catástrofe na Alemanha marcou pontos inéditos no sentido do amadurecimento da cultura brasileira. Delineava-se, de saída, o pior presságio sobre o desabar da auto-estima nacional, pelo horror da derrota ante a França, e seu impacto sobre o paísão colado na TV. De repente, não mais que de repente, nos soltamos do fantasma. Não era o Brasil que estava em campo, mas um bando de profissionais mastigando o hino, dispersos em toda série de clubes bilionários da afluência européia. Ou a pedir já o passaporte estrangeiro e ir à lobotomia da lembrança nacional.O Dunga que ora vem à nova seleção é claramente de uma virada de página diante dos facilitários da glória com que buscamos de maneira tão pomposa o hexa. É um Brasil que volta sem empáfia à confiança no que seja o seu futebol e os valores de começo, fora do eterno retorno dos bonzos gordos do Real Madrid ou do Barcelona. O futebol não saiu da tela interna dos brasileiros, e aí está a fiabilidade sadia com que nos debruçamos sobre os campeonatos e o despertar de novos craques.Não se abalou de forma alguma a confiança interna de que continuamos intactos no sentimento de melhores do mundo. E mal nos demos conta dos estoques de guirlandas, fogos, impressos, camisetas, pendões antecipados para a festa-monstro da vitória em Berlim. As guirlandas de rua continuam nas ruas do país. Não se as retira no desencanto, mas aí ficam à chuva e sol na certeza última de que a equipe de Dunga vai à sua verdade em 2010.Não nos demos conta, e é fenômeno estourando após a última Copa, do distanciamento objetivo que as nossas estrelas assumiram, diante do país das peladas de origem, frente aos deslumbres do dinheiro europeu à compra dos nossos astros brasileiros. Nenhuma outra equipe pôde entremostrar 22 dos 23 jogadores, todos craques europeus, e alguns já prazerosamente acenando a nova binacionalidade.

  • Heloísa Helena ganha em Ipanema

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 26/07/2006

    A surpresa da subida eleitoral de Heloisa Helena não engana quanto ao recado desse voto, nem de como repercute o balanço final da escolhas de 1° de outubro. É uma escolha que mobiliza brasileiros de ganho acima de cinco salários mínimos e vai, portanto, atingir já a base das classes médias e dispara nos setores abastados da população. É o voto de protesto, somado ao de desencanto que desmonta parcela do eleitorado bem que, em 2002, deu uma chance a Lula. Seu contingente, que já vai a 10% dos eleitores, e pode até superá-lo, teve a função fundamental de frear o voto nulo no país. Neste aspecto, o crescimento do PSOL reduz a passagem do desânimo ao cinismo, e mantém um coeficiente de cidadania ativa, sôfrega de resultados e punições.

  • Democracia à brasileira

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 07/07/2006

    O vaivém do TSE, no mudar ou não as regras do jogo das eleições, insiste no refogado que o Brasil bem brasileiro que vai às urnas a 2 de outubro. E o que representa esta louvada humildade do magistrado Marco Aurélio frente à palavra dos barões do sistema, do que seja, na sabedoria final, a nossa realpolitik? Quem o poderia fazer mais que o ex-presidente Sarney que assumiu a tarefa do abstrato Conselho da República, ao cuidar das ameaças à democracia e às instituições do país. Mesmo porque é do que se trata, neste contraste do sistema de fato com o nosso Estado de Direito agravado pela crise do mensalão.As instituições, no seu corpo mesmo, são reptadas pela tensão em que o status quo cada vez mais experimenta o divórcio entre a ordem social estabelecida e imediata e o decantado, e sempre reposto à liça, desenvolvimento nacional. Mas, de concessão em concessão, ainda agora, a litania das Comissões de Inquérito asseguraram a mais tranqüila conservação do sistema oligárquico clientelístico, para comandar o processo político do país. De absolvição em absolvição, consagrou-se a continuação do "caixa 2" como mola das eleições e do nosso sistema representativo. Nada, afinal, de abalo ao valerioduto que corre democraticamente - e o continuará - no subsolo dos sucessos políticos e na negociação, pela verba dos governos entrantes, garantida pela operação eleitoral.Alargou-se o fosso confessado entre a pregação das reformas trazidas a crassa nudez das ideologias, e de como continuará no futuro - e através de emenda constitucional - o regime que aí está. Ao freio temporário da verticalização não foi dada, sequer, a alegria de um verão eleitoral, diante do facilitário já consagrado para 2010. Nem logrou o arreganho do presidente do TSE, afinal, assegurar-nos uma prévia de esperança no lance natimorto de como seria um regime de consonância nacional, de alianças sem transigência. O recado incômodo ao futuro cancelou-se pelo bem bom de todas as farras e farranchos desde já, a que se associou o governo frente ao vale-tudo, de como continuarão as eleições após o segundo mandato de Lula. Nem, após esses dias do perdão final, virá a prosperar qualquer final propósito punitivo nas Comissões de Inquérito, para além do escarmento de Dirceu e Jefferson, e o castigo, contra a vontade real dos plenários, dos que, pelas confissões pregressas, puseram a corda ao pescoço para a cassação sem saída e de todo ranger de dentes.De toda forma, e a seguir ao mensalão e ao processo aos sanguessugas, a nova catadupa de suspeições de prevaricação parlamentar pelo Ministério Público já ganham mais um ar de litania na consciência da impunidade que continuará, no à vontade da disputa, das próximas eleições.Que poder, afinal, é este, no centro da praça de Brasília, que merece ser profanado pela invasão do velho peleguismo, renascido dentro dos movimentos sociais, como a última praga em que a militância se profissionaliza para quebrar os vidros do Salão Verde? Serviu o pontapé para mostrar a carranca de radicais jubilados na aposentadoria de todas as facécias, renegadas pelo MST que sabe a que vem e o que tem que fazer. O pior, no banimento da utopia, é a errância a que condena a radicalidade, ou a leva até à malandragem vândala.O presidente Aldo Rebelo, neste jogo dos símbolos e dos portes que se pede aos titulares do poder teve o dom, já, de desenfatizar a tropelia de Bruno Maranhão. O que não pode resgatar é o Congresso como eixo da respeitabilidade do "a que veio" o Brasil trazido na ponta dos movimentos sociais. O susto de um Brasil diferente poderia ter saído do ensaio da verticalização tentado pela primeira decisão do ministro Marco Aurélio. Abortando-a, o TSE, afinal, antecipou, de vez, o Brasil do tudo bem, do "vale tudo" das eleições de 2010.

  • Lula com ou sem a Copa

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 28/06/2006

    Se, por catástrofe, perdermos a Copa, nem por isso uma purga nacional, ou mesmo um ato de masoquismo, fará o país penalizar Lula, como espera ainda a oposição. Um voto em Alckimin não é corretivo histórico simbólico para uma desgraça na Alemanha. Não se confunda anticlímax, com autopunição nacional, ou execução sacrificial pela decepção com o hexa, cada vez mais impossível.

  • Fundamentalismos e nações a perigo

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 16/06/2006

    A cidade de Dili, no Timor, vem de ser sacudida pela mais violenta comoção popular desde a separação da Indonésia. Vencendo Alan García, no Peru, Humala, o derrotado, declara que apenas começa o conflito diante do país que vê inexoravelmente rachado. Evo Morales, por seu lado, não deixa dúvidas de que ser boliviano é antes de tudo reivindicar a sua matriz Aymara, numa nação em que o colonialismo exasperou as condições constitutivas de marginalidade para além da pobreza. Na luta contra o governo constituído do Timor entrou em pauta a resistência das tropas do Exército a serem obrigados a falar português, consoante a nova cidadania trazida com a independência. A massa da população permanece fiel ao idioma indonésio, já que a língua de Camões, ao momento da independência não vinha à boca de mais de 2% da população.

  • A vez e a voz do eleitor

    Jornal O Globo (Rio de Janeiro), em 30/03/2006

    A densidade da crise neste início de ano tem já um resultado definitivo. Os lamentos do nepotismo do Judiciário em face da decisão do Supremo levaram até à greve grotesca da magistratura de Minas Gerais, ao insistir no mais crasso dos abusos do velho sistema: a privatização imemorial das vantagens do exercício do poder. Ficará na crônica do nosso aperfeiçoamento democrático o aferro à provisão dos cargos públicos, pelo exercício mais desinibido do casuísmo, em bem de emprego familiar, frente à norma do novo Conselho Nacional de Justiça.

  • A verdaderia tentação de Bush

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 24/03/2006

    Rumsfeld se soma agora a Bush em dar o recado, por entre as entrelinhas, sobre a paz mundial. Os Estados Unidos, diz, vão resistir à tentação de sair de vez do Iraque. O caminho do bom senso político seria o de retirar-se por força da alegada "síndrome do Vietnã", repetida hoje no governo Bush.

  • A greve nepotista

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 22/03/2006

    Minas Gerais não merecia ser o cenário do espetáculo mais constrangedor de resistência do terceiro poder à abolição do nepotismo, confirmado pelo Supremo Tribunal Federal e pela consciência cívica do país. Não precisava o Tribunal de Belo Horizonte passar da caricatura ao grotesco, na greve contra a Resolução 7 do Conselho de Justiça, que já hoje passa à história do avanço das instituições brasileiras. A próxima Conferência Internacional de Gotemburgo, dedicada aos modelos políticos do nosso tempo, já anotou esta conquista, como índice do amadurecimento irrevogável de nosso Estado de Direito. Trata-se do avanço desse controle externo, entre os poderes como garantia, exatamente de evitar-se o seu endurecimento como corporação. Ou fazer do serviço público a cosanostra, e em proveito por empregos e benefícios.

  • Velhos rastilhos, novos gatilhos

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 17/03/2006

    A reunião recém terminada em Doha, da Aliança para as Civilizações, com a presença de Kofi Annan, evidenciou o nível em que a hegemonia mundial pode, nestes dias, repetir o quadro do pós-setembro de 2001. O Governo Bush não deixa nenhuma reserva quanto ao estar pronto a todas as soluções, caso não se componha a dita ameaça nuclear, vinda na escalada de confronto com o Irã.

  • Um fundamentalismo sem profetas

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 10/03/2006

    O que mais porta de espanto esse começo de 2006? A violência das reações às charges contra Maomé no jornal de Copenhague, fogos às embaixadas e pisoteio da bandeira vermelha e branca, a se somar ao ultraje de sempre do pendão americano? Ou o espanto do Ocidente com esta reação, pondo pela primeira vez em risco os nervos das melhores democracias, a viabilidade de coexistência com este Islão? A dúvida nasce do próprio país de Hamlet, horrorizado entre o impacto das caricaturas, e a defesa do mais enraizado dos direitos da dita civilização ocidental, ou seja, a livre expressão do pensamento e da liberdade de imprensa.Confrangidos, os dinamarqueses lamentam a catástrofe mas não pedem desculpas. Até onde começa, vindo da cepa do mundo mais desenvolvido, o novo fundamentalismo de resistência e afirmação das liberdades? E mesmo ponha em risco a atual realpolitik de convivência como mundo rachado após a queda das torres? Na verdade, choca a bulha, a bem dessa mesma consciência, entre o acatamento do exercício à liberdade de crítica, e o respeito às religiões.

  • Réquiem para o moralismo política

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 08/03/2006

    A pesquisa da virada eleitoral de Lula nestes dias mostra mais que um abalo sazonal das esperanças da oposição voltados aos cálculos da desgraça do governo, de meados de 2005. Os novos números cravam um punhal na crença da derrota de Lula, vivida na antecipação das pajelanças do ganho tucano-pefelista no último Natal. Os percentuais não são só contundentes. Viram-se como irrespondíveis, por mais que a melhor bateria da competência oposicionista procurasse desfazer os novos prognósticos como delírio de verão. Estão aí e forçam uma reorganização das hostes anti-Lula com o ônus imprevisível de que devem, de novo, virar o jogo. E brota, de repente, um gosto antecipado de vitória no Planalto que mantém, de toda forma, a argúcia de conter a euforia, e vir de corpo inteiro ao cravo da eleição.