
Antes da civilização do medo
Diante da fatalidade de um novo quadriênio Bush toda uma inteligência mundial começa a desenhar cenários para o mundo da hegemonia, e cada vez menos, do multiculturalismo, como resguardo da diferença diante de uma "civilização do medo". Aceleraram-se desde o 11 de setembro as tentativas de alentar ainda o que seria quase, numa respiração boca a boca, o intento dos diálogos culturais. E, significativamente, foi o outro lado que pressentiu, de imediato, a ameaça de um universo unitário, a partir do apelo feito por Khatami, à conversa permanente e aprofundada entre os mundos partidos pela desconfiança radical, transformada em terrorismo.Mais se passa em câmera lenta o abalo das torres, mais a agressão do Al-Qaeda revela uma dramática purgação histórica de um inconsciente social gigantesco, que começa a perceber a expropriação da alma coletiva que veio de par com os benefícios do dito progresso. E quando o Presidente do Irã foi ao recado in extremis, dava-se conta de como o seu país chegara a convulsão exemplar, em que se confrontaram o regime dos Xás e do Ayatolá Khomeyni pelo corte da consciência oposta ao que as vantagens civilizatórias acarretavam como terraplanagem identitária nas demais culturas.