Em 1965, eu trabalhava no jornal Última Hora, fundado pelo Samuel Wainer, que revolucionou a imprensa, abolindo as primeiras páginas afogadas em textos. O que se via eram fotos e legendas chamando para as matérias. Defendíamos o PTB, Jango, sindicatos. Nosso rival era o Estadão, pura UDN, invejávamos a elegância dos fotógrafos e jornalistas da redação da UH lotada de jovens.
Eu acabara de deixar a pensão onde dividia o quarto com Zé Celso, que cursava Direito e embalava o Teatro Oficina, e me instalara na Praça Roosevelt. Ali era o “fervo”. Vindo de Araraquara, onde o último bar fechava às 22 horas, aqui vivia nas Bocas do Luxo e do Lixo, para compensar. E esses foram os ambientes de meu primeiro livro Depois do Sol. O título foi dado pelo Roberto Freire, o psiquiatra do tesão e da Soma. O fotógrafo de moda e publicidade Apolo Silveira fez a capa, com uma foto sensual de Marilene, bailarina da TV Record, namorada do Solano Ribeiro, que produzia megashows de MPB.
Recusado por 13 editoras, Caio Graco, da Brasiliense, ousou publicar. O livro saiu. Então precisava vender. Apolo teve uma ideia, me disse: “Amanhã, saia do seu prédio na Roosevelt, pegue à direita, entre no terceiro prédio, suba à Standard Propaganda, procure Roberto Duailibi, é um gênio, deve ter sua idade, diga que é meu amigo, mostre o livro, pergunte como vender”.
Tínhamos, Duailibi e eu, diferença de um ano de idade. Ele me mandou voltar em dois dias. Voltei, ele me entregou um pacote de cartazes feitos por ele. Com a frase: “Antes de falar mal do Loyola, leia este livro. Depois fale... se conseguir”. Eu era tímido, mas fui. Os livreiros rechaçaram: “Menino! Pensa que livro é produto como banana, quiabo?”.
Contei ao Duailibi e ao Neil Ferreira, ambos trabalhavam lado a lado na agencia. Saímos, fomos às livrarias do centro. Duailibi interpelava: “Meu senhor! Livro é, sim, produto! Tente! Coloque este cartaz, vai ver o que acontece”.
Puseram, aconteceu. Meia hora depois, entrava o Neil, olhava o cartaz, pedia o livro. O cartaz “funcionou”, o comércio do livro entendeu.
Neil tinha sete anos menos do que eu. Devo a esta gente criativa minha arrancada. Sei que eles me invejaram certa época por ser ficcionista. Eu os invejava por serem publicitários dos mais criativos na mais bela época do gênero neste Brasil. Instante áureo. Alguma coisa nos uniu.
Jamais esqueço o cartaz.