Dia desses uma notícia brilhou, destacando-se de toda as outras. Não era a batalha do Congresso contra o Supremo, nem Lula indo à Lua, nem o vaivém da bolsa, nem o misterioso desaparecimento da Cracolândia da noite para o dia.
Os mais velhos talvez se lembrem da operação mata-mendigo feita por Carlos Lacerda no Rio de Janeiro, início da década de 1960, quando os miseráveis foram atirados no Rio Guandu. Ou os murais erguidos pela Prefeitura de São Paulo para esconder as favelas, em 1968, durante a visita da rainha Elizabeth à cidade para inaugurar o Masp.A notícia dessa semana é outro assunto. Menos tenebrosa, curiosa. Ao lado da foto de um empresário de sorriso amigável estava a notícia de que ele comprou uma granja nos Estados Unidos e é hoje o “Rei dos Ovos” no mundo.
Significa que ele produz (ele, não, as galinhas) 13 bilhões de ovos por ano. Em cálculo rasteiro, um ovo e meio para cada habitante do mundo. Como dividir um ovo? O Homem Que Calculava faria a divisão perfeita. Este livro ainda vende por aí.
Com sua empresa, Ricardo deu status aos ovos, chamados agora de Global Eggs. Sei, isso é assunto para os especialista em economia, aqui no jornal, mas o lado da fantasia é meu.
A figura do rei dos ovos, Ricardo Faria, me fez lembrar de dona Vitória, a verdureira, e seu marido, espanhol. Na minha infância, passavam com a carrocinha às 7 em ponto. Pontual como os apitos dos trens. Verduras fresquíssimas. Traziam o que mamãe e suas amigas diziam ser os melhores ovos, sendo que os mais procurados eram os de galinha-d’angola, aquelas que piam “tô fraco, tô fraco”. Vitória era honesta, nunca mamãe achou um ovo podre. Uma dúzia por semana. Seis eram para as gemadas matinais de ovo batido com açúcar para papai, antes de ele partir para a ferrovia. Vitória, boa gente, no meu aniversário de 8 anos me trouxe um ovo de pata dizendo: “Tomara seja de cisne”. Simples, humilde, mas tinha lido O Patinho feio. O livro que salvou minha vida. Mas esta é outra crônica.