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Artigos

 
  • O dilúvio e a pomba

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 01/01/2005

    O ano terminou bem, como se espera das coisas que acabam. Respeito os mortos e feridos pela onda que surgiu das profundezas e devastou ilhas e terras. Se dependesse de mim, não teria havido a tragédia, a do tsunami e as outras que andaram por aí e seguramente vão andar no próximo ano.

  • Ano novo, ano velho

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 31/12/2004

    É sempre o mistério do tempo. Ao ano velho todos ridicularizam. As atenções são concentradas no ano que vem, a adulá-lo com mensagens e gestos que pedem que seja bom e generoso. A justiça nos manda em primeiro lugar agradecer que o ano velho nos tenha preservado a graça da vida. Viver, diziam os latinos, depois a gente confere o resto. E a cada ano que passa, vivemos.

  • Escrevendo o futuro

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 31/12/2004

    Há ingênuos de carteirinha que jogam sobre os ombros do Estado todos os seus sonhos de realização. Isso é coisa para o Governo, aquilo só sai se o Governo der dinheiro, vamos aguardar que o Governo se manifeste - e a vida não é bem assim. Como se afirma em nossa Constituição, as iniciativas pública e particular devem se dar as mãos, para que cada uma cumpra a sua parte, no desejo comum de tirar o País da miséria e do atraso. Potencial temos de sobra.

  • A crise da família

    Diário do Comércio (São Paulo), em 31/12/2004

    Dentre as transformações que marcaram o século passado, um dos mais fortes e mais influentes foi o que abalou a estrutura social da família. Logo no início da década de 30 os costumes entraram em fase de deterioração, mas sem a celeridade que enfrentamos, ou conhecemos, ou deles simplesmente tomamos conhecimento. Mas a realidade não poderia ser escondida atrás de sofismas como o de que somos tomados pelas mudanças e não temos como resistir a elas.

  • Bush bis, sem trégua

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 31/12/2004

    É difícil se encontrar passagem de ano onde os jogos de uma realpolitik fechem de maneira tão clara o futuro lá fora. A ida de Rumsfeld a Bagdá, o aperto de mão, duro, os mesmos semblantes baços, os mesmos ritos, marcam a percussão do mesmo, transposto já ao simulacro. Repete-se o rito pelo secretário da Defesa, após o presidente, o ano passado, como se se baixasse à instância das rotinas, sem ilusões de mudança. Nenhum afrouxamento do petrecho militar no Oriente Médio. Nem alteração do projeto da redemocratização com maiorias sintéticas, por mais que somem os atentados, e se amplie o pessimismo das Nações Unidas quanto à legalização formal do regime, como relevante para a paz efetiva no Iraque. Claro, aí está, quase como mecanismo automático, o do gesto de congraçamento após o 20 de janeiro, que levará Bush a Bruxelas, e às alvíssaras de conversa com a outra ponta do Primeiro Mundo. A queda pertinaz do dólar está muito longe de apresentar, ainda, qualquer risco estrutural da boa entente econômico-financeira dos dois lados do Atlântico.

  • O novo DIP

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 29/12/2004

    Circula no Congresso para discussão e aprovação um projeto do governo que cria o CFJ, Conselho Federal do Jornalismo, e está em debate para ser também encaminhada ao Legislativo uma proposta do MinC de criação da Ancinav - Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual. Como indicam os nomes, o primeiro busca regular a atividade jornalística; a segunda, o cinema e as atividades audiovisuais. Muitos dos dispositivos das duas medidas, sobretudo do projeto, soam familiares a quem está, por dever profissional, atento à história nacional.

  • Lula, meio tempo, lá fora

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 29/12/2004

    A instalação da Cadeira Celso Furtado em Paris, em cooperação entre o Fórum de Reitores do Rio de Janeiro e o Collège de France, permitiu um amplo debate sobre a presente visão no exterior do governo petista, em meio de mandato. Difícil perspectiva mais rica, do que a do cenário da Sorbonne, envolvendo esta massa de estudantes e pesquisadores de todo o mundo, debruçado sobre o que representa - nas antigas periferias - o crescimento do recado de Lula. Não se trata apenas do reconhecimento inédito deste governo que, entrando no seu segundo tempo, mantém essa popularidade inédita de 68% de apoio, e ainda em expansão. Nem da certeza real com que está plantado o chão de estabilidade, para que se adense a proposta, vencido o radicalismo utópico, tanto a alternativa ao mundo neoliberal envolve uma prática, de toda hora para que vingue, sem retórica, e a duras penas, uma esquerda em processo.

  • Os indícios da Sra. Marta

    Diário do Comércio (São Paulo), em 29/12/2004

    Nada teria com o sr. Eduardo Matarazzo Suplicy e sua ex-esposa Marta Suplicy não fossem ambos figuras públicas, ambos políticos, sobretudo ela, que tem mais disposição para essa atividade não raro subalterna que é a política. Mas, os indícios surgem, primeiro como demonstração que a esposa não amava o marido, pois o deixou, deixando o lar, com os três filhos e, depois, casou-se pela segunda vez, com um franco argentino cuja origem é pouco conhecida.

  • O sonho de Nassau

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 28/12/2004

    De repente, não mais que de repente, o Brasil holandês nos entrou pela porta adentro, pelos olhos adentro, pela emoção adentro. A verdade é que, para o brasileiro em geral, essa presença sempre existiu, representada pela figura de Nassau como elemento instigante de nosso imaginário. Ali tem estado ele, há 350 anos, uma parte integrante da história do País, oferecendo idéias e provocando muitas e variadas perguntas.

  • Genocídio racial estatístico

    O Globo (Rio de Janeiro), em 27/12/2004

    Está em andamento no Brasil uma tentativa de genocídio racial perpetrado com a arma da estatística. A campanha é liderada por ativistas do movimento negro, sociólogos, economistas, demógrafos, organizações não-governamentais, órgãos federais de pesquisa. A tática é muito simples. O IBGE decidiu desde 1940 que o Brasil se divide racialmente em pretos, brancos, pardos, amarelos e indígenas. Os genocidas somam pretos e pardos e decretam que todos são negros, afro-descendentes. Pronto. De uma penada, ou de uma somada, excluem do mapa demográfico brasileiro toda a população descendente de indígenas, todos os caboclos e curibocas. Escravizada e vitimada por práticas genocidas nas mãos de portugueses e bandeirantes, a população indígena é objeto de um segundo genocídio, agora estatístico. A não ser pelos trezentos e tantos mil índios, a América desaparece de nossa composição étnica. Restam Europa e África.

  • O testamento de Celso

    O Globo (Rio de Janeiro), em 27/12/2004

    Lula tocou para Celso Furtado horas antes da sua morte, explicando a demissão de Carlos Lessa, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O presidente assumia, por inteiro, o risco do lance, e queria tranqüilizar nosso economista maior quanto à perseverança de rumo.

  • Sábado muda tudo

    O Globo (Rio de Janeiro), em 26/12/2004

    Chegou, ai de mim, ai de vocês, a hora da crônica de fim de ano. Antes, não sei bem como, escapei à de Natal, devo ter aplicado algum golpe. Mas a de fim de ano parece que não tem jeito. Bem que tentei, embora confesse que sem fazer o tremendo esforço de reportagem que talvez alguns, equivocadamente, esperassem de mim. Nós, anciões, nos recusamos a fazer qualquer esforço de reportagem, a não ser os necessários para aparecer no Fantástico aos 93, malhado, de sunga sem camisa, mostrando os troféus ganhos nos Jogos Matusalém da Flórida (notadamente a Copa Santa Mônica, dada ao possuidor do maior número de dentes naturais - no caso quatro, novo recorde sul-americano) e deixando os chifres no quarto do hotel para posar ao lado da bela esposa de 24, que, por sinal está grávida - o que não fazem uma boa qualidade de vida e, principalmente, um personal trainer competente.

  • O pinheiro de St. Martin

    O Globo (Rio de Janeiro), em 26/12/2004

    NA VÉSPERA DE NATAL, O PADRE DA igreja no pequeno vilarejo de St. Martin, nos Pirineus franceses, preparava-se para celebrar a missa, quando começou a sentir um perfume delicioso. Era inverno, há muito as flores tinham desaparecido - mas ali estava aquele aroma agradável, como se a primavera tivesse surgido fora de tempo. Intrigado, ele saiu da igreja para buscar a origem de tal maravilha, e foi dar com um rapaz sentado na frente da porta da escola. Ao seu lado, estava uma espécie de árvore de Natal dourada.

  • União européia

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 24/12/2004

    Tomou posse no mês passado, na presidência da União Européia, órgão executivo do bloco europeu, o ex-primeiro-ministro de Portugal José Manuel Durão Barroso, que assume as relevantes funções no instante em que estão sendo escritos os futuros capítulos da nova história e desenhados os mapas da geografia política e econômica do século 21, com grandes desafios, mas igualmente com imensas esperanças.

  • Rei-dos-homens é um menino

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 24/12/2004

    No Maranhão, a paisagem de minha mocidade era rica de tipos populares. Ainda podia-se desfrutar dos prazeres da província, em que todos se conheciam. Tínhamos o Bota-Pra-Moer, o Paletó e o Rei-dos-Homens.