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Partidos buscam saídas

 

Faltando duas semanas para a definição das federações partidárias, e também para a troca de legenda sem sofrer punições da legislação eleitoral, a movimentação nos bastidores está intensa, indicando não apenas a dificuldade de compromissos mais permanentes entre legendas, como coligações que podem interferir no resultado eleitoral.

Para acertar uma federação, é preciso que os partidos nela envolvidos concordem em permanecer fiéis ao mesmo programa nos próximos quatro anos. PSOL e Rede já se acertaram, o que não foi difícil, pois a Rede precisa de um apoio para superar as cláusulas de barreira, e o PSOL é o partido que mais se assemelha a ele. Nasceu de uma dissidência petista, assim como a Rede, mas não rejeita totalmente o PT.

Outro grupo de partidos está se unindo, tentando despertar a terceira via. Em termos de máquina partidária, essa seria uma união ideal de coligação, não de federação, entre União Brasil, MDB e PSDB, que teria uma verba para financiar a campanha estimada em R$ 2 bilhões e representantes em todos os estados brasileiros. São legendas muito fortes, muito grandes para se fechar numa federação, mas uma coligação com vista à chapa para presidente da República teria substancial tempo de televisão, fundo partidário e capilaridade nacional.

Mesmo com a debandada de deputados bolsonaristas, que saíram do PSL (partido que se fundiu com o DEM para formar o União Brasil), o novo partido continua tendo a maior bancada, agora ombreando com o PL, partido que acolheu Bolsonaro. Acho, no entanto, difícil que eles abram mão de candidaturas próprias. O governador de São Paulo, João Doria, vem se saindo mal nas pesquisas de opinião e, por essa própria debilidade, não é capaz de convencer aliados sobre o potencial de votos que julga ter. Além do mais, o PSDB perdeu sua unidade interna e hoje é um partido que vive mais do passado que do presente, assim como o MDB, um partido que tem uma boa candidata, a senadora Simone Tebet, mas que ainda não foi testada nas pesquisas de forma mais efetiva. O União Brasil é o maior partido, mas não tem candidato. Luciano Bivar, seu presidente, nunca teve voto, já foi candidato a presidente e terminou nas últimas colocações. Se os três partidos se unissem e formassem uma chapa, seriam mais competitivos do que seus candidatos separadamente serão. Seria uma alternativa importante para quebrar a polarização, mas é difícil que aconteça.

Talvez o União Brasil não apresente candidato e gaste seu dinheiro para formar uma bancada forte. Talvez pudessem ficar o PSDB com Doria e o MDB com Simone Tebet. Tebet como cabeça de chave seria novidade, mas Doria tem a máquina de São Paulo, o estado mais rico do Brasil. Mas nem sempre dinheiro e máquina partidária são suficientes para eleger um candidato. Em 2018, Bolsonaro não tinha dinheiro nem TV e ganhou a eleição.

A federação entre PT e PSB não sairá, mas a coligação para a Presidência com Lula está confirmada, e aí entra Geraldo Alckmin para vice-presidente. Apesar de Alckmin não ter nada de socialista, é o que faz mais sentido dentro do espectro dos partidos que apoiam o PT. Não creio que ele leve votos do PSDB para Lula — que já não iriam normalmente contra Bolsonaro. Acho até mais simbólico que real.

Dá uma certa sensação de que Lula impõe às alas mais radicais do PT um sentido de equilíbrio, de atuação pelo centro democrático e de compreensão. Não creio que Alckmin terá alguma relevância dentro do governo — talvez ganhe o Ministério da Agricultura, que é importante. Mas não terá autonomia. Se começar a fazer muita coisa contra a média do partido, será atacado e bombardeado.

Palocci, que era um grande líder do partido, teve de lutar muito para manter seus assessores vindos do PSDB. Alckmin terá uma vida difícil dentro do PT — muita gente está contra. Mas é uma jogada política interessante para ele, porque garante uma Vice-Presidência no caso de vitória de Lula, o que parece mais provável, e a manutenção de um nível político elevado —embora mais na aparência que na prática. Escolheu a estabilidade, não quis arriscar. Certamente como governador de São Paulo teria mais poder político do que sendo vice, mas é mais garantido estar no centro do poder.

O Globo, 15/03/2022