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A ousadia de questionar

 

Sempre defendemos a ideia de que o Brasil merece um Prêmio Nobel, seja em que categoria for.  Israel, por exemplo, que só tem 0,2% da população mundial, está hoje com 22% de todos os Prêmios Nobel, além de ter recebido 38% de todos os Oscars de cinema, na categoria de diretor.  É certo que esses resultados são grandemente movidos pelo fato de o pequeno país de 8 milhões de habitantes ser uma espécie de locomotiva quando o tema é tecnologia.

Isso é resultado menos de um discutível poderio genético, mas muito mais do que chamamos de ambiência cultural, como escreveu com muita propriedade o pranteado escritor Amos Oz.  Ao longo de séculos de existência, os judeus transmitiram às novas gerações conteúdos de indiscutível valor, como os que se encontram na Bíblia de que são cultores.

Além do mais, aprenderam a valorizar o questionamento como método de inovação.  Inculcam nos jovens valores de sua elogiada civilização.  Os alunos sempre foram estimulados a questionar, caracterização que passou a ser a de um bom aluno, o que deve acontecer desde cedo, na escola e no lar.  O foco nunca se desviou de uma educação de qualidade.

A propensão a discutir sobrevive, com o encorajamento do estímulo à curiosidade, que se utiliza de modo conveniente do humor na proporção adequada.  Talvez se possa afirmar que o cineasta Woody Allen seja uma expressão viva do que aqui afirmamos, com os seus filmes de tanto sucesso.

Um aspecto essencial nessa realidade é o papel exercido pelas mulheres, na sociedade hebraica.  Poucas culturas terão dado tanto relevo às mulheres, abrindo espaço para a necessária igualdade.  Em termos culturais não existe a deletéria diferença que marca outras sociedades modernas.

Na busca incessante pela inovação, homens e mulheres dão-se as mãos, como é o ideal que aconteça sempre.  É natural que o povo do livro, assim marcado graças à ênfase dada à Bíblia, tenha obsessão pelas palavras, com opiniões democraticamente diferenciadas.  Se é da discussão que nasce a luz, talvez nenhum outro povo tenha valorizado tanto essa característica.

Em discussão recente, quando o tema era o Holocausto, quando foi referida a contribuição judaica ao desenvolvimento científico e tecnológico, sobretudo nos países vítimas mais diretas da bestialidade nazista, levantou-se a tese do enorme prejuízo causado pela morte indiscriminada de cérebros nos campos de extermínio da Europa.  Já imaginaram se isso não tivesse ocorrido, como o mundo teria se beneficiado?

 

Tribuna do Sertão, 02/03/2020