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Na formatura do curso, só havia Isadora - Solidão ou liberdade?

 

Confesso, esta crônica veio quase “pronta” no Estadão, na terça-feira passada. A reportagem me pediu: dê seus toques. Dei. A notícia que viralizou foi sobre Isadora Resende, de 21 anos, que se formou em Inovação, Ciência e Tecnologia, no câmpus da UFLA, Universidade Federal de Lavras, em São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais. Por que tanto interesse? Pelo insólito. Não houve nenhum outro candidato. Isadora foi única, algo inédito. Aprovada. Imagino-a agora sozinha nas aulas. O professor faz a chamada:

– Isadora Resende.

– Presente.

Confesso, esta crônica veio quase “pronta” no Estadão, na terça-feira passada. A reportagem me pediu: dê seus toques. Dei. A notícia que viralizou foi sobre Isadora Resende, de 21 anos, que se formou em Inovação, Ciência e Tecnologia, no câmpus da UFLA, Universidade Federal de Lavras, em São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais. Por que tanto interesse? Pelo insólito. Não houve nenhum outro candidato. Isadora foi única, algo inédito. Aprovada. Imagino-a agora sozinha nas aulas. O professor faz a chamada:

– Isadora Resende.

– Presente.

E a aula começa, o mestre dá a matéria, ela anota. Ninguém ao lado para um olhar cúmplice, uma troca de comentários ou espanto diante das informações a jorrar. Uma troca de olhar matreiro diante de uma afirmação que parece insólita. Ou seja, com quem dividir um olhar crítico: este professor está louco? Ou: como ele sabe a matéria! Ou uma frase irônica, de cumplicidade entre colegas Um sorriso maroto diante de um fato inusitado. Ou uma gargalhada solitária depois de uma anedota. O professor falando por horas, dias, semanas, meses, três anos. Sem jamais ter de chamar a atenção da classe: silêncio! Ninguém ao lado de Isadora para apoiar, sustentar, fofocar, rir.

Ninguém para passar um bilhete, um pedido de ajuda. Ah! Que desolação a de Isadora diante de cada professor. Algo semelhante a estar em uma cela solitária. Ou a sensação agradável de ter um mestre apenas para ela. Um professor “particular” com quem ela podia descarregar todas as dúvidas. Qual a sensação dela ao não disputar o primeiro lugar nem se lamentar por ser a última. Ela era o próprio parâmetro. Solidão ou liberdade? Nunca poder dizer: “Passei em primeiro lugar”. E o mestre, no caso de precisar reprová-la, não teria de admitir que tinha fracassado em sua missão de ensinar? Precisaria fazer autoanálise ou se submeter a uma terapia: sou um mestre ou o quê? Ou a faculdade abrindo sindicância por sua incapacidade de ensinar, o caso chegando ao Ministério da Educação.

Tendo Isadora sido aprovada, como foi, anulem essas questões. Ela recebeu o diploma sozinha, fez o discurso, jogou o capelo para o alto, fez o juramento, tendo por plateia familiares, amigos e curiosos. Ao menos Isadora teve alguém com quem dançar a valsa, ou um ritmo adequado aos tempos atuais? Valsa mesmo, eu adoraria vê-la girar ao som da Grande Valsa, de Verdi, orquestrada por Nino Rota, aquela do filme O Leopardo, de Visconti.

Estadão, 01/06/2025