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A indústria criativa e o Ministério da Cultura

 

Com muito sentimento, criei no Rio de Janeiro o Coral de Cegos Sidney Marzullo. Iniciativa pioneira no país, teve o apoio institucional do Ciee (Centro de Integração Empresa-Es-cola). Lamentei o quanto pude a inexistência de um Ministério da Cultura para nos suprir de recursos financeiros para pagar a alimentação, o transporte e o maestro responsável. Somente a Fundação Cesgranrio, por intermédio do seu presidente, Carlos Alberto Seipa, foi sensível aos nossos apelos -e financiou as atividades iniciais do coral.

Tivemos o ensejo de lamentar essa omissão federal quando da palestra do economista Rubens Cysne, da Fundação Getulio Vargas, no Conselho de Notáveis da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Ele falou, com muita propriedade, sobre 'indústria criativa' e abordou temas relevantes dessa pauta, despertando o entusiasmo de conselheiros como Aspásia Camargo, Bernardo Cabral, Nelson Mello e Souza, Cláudio Chaves, entre outros. Foi dito que estamos vivendo numa era de grande criatividade, mas as atividades culturais estão cerceadas pela ausência de um órgão que coordene esse empenho. É claro que se espera do novo governo o restabelecimento dessa pasta.

Rubens Cysne, que é um consagrado educador, falou das suas atividades em casa e na FGV, valorizando como pode as ações culturais. Colocou os cinco filhos para estudar artes e música e, além do mais, mobilizou alunos de ensino médio e fundamental para um projeto de divulgação artística que entende que a música é a rainha dos eventos culturais. Em sua apreciada palestra na CNC, criticou muito o fato de os gastos do governo com cultura terem decrescido drasticamente. 'Isso precisa ser corrigido', afirmou.

Se antes os profissionais criativos eram vistos como exclusivos de empresas essencialmente criativas, como agências de publicidade ou escritórios de design, hoje eles estão inseridos em todos os segmentos, inclusive escolas, por sua capacidade estratégica de incorporar competitividade a produtos e serviços. A criatividade e a inovação exercem papel transformador no sistema produtivo. Um ato criativo tem potencial de gerar valor de mercado, resultando em produção de riqueza cultural e econômica.

Quando pude dar um aparte, lembrei da criação do Coral de Cegos e da minha dupla passagem pela Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro. Da primeira vez, dirigí por quatro anos o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, dando renovada dinâmica às atividades dos seus corpos estáveis (coro, música e balé). Nesse período, foi criada a Orquestra Jovem do Teatro Municipal. Na segunda oportunidade, pasmem, descobri que metade dos 92 municípios do Rio não tinha sequer uma sala de cinema. Criei o 'Projeto Oscarito' e fizemos um empenho inédito para que o maior número possível de cidades ganhasse pelo menos uma sala -e isso gerou belíssimos resultados a curto e médio prazo. Mas tudo foi consequência da existência de uma estrutura oficial, o que depois foi tristemente desmantelado.

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Se antes os profissionais criativos eram vistos como exclusivos de empresas essencialmente criativas, como agências de publicidade ou escritórios de design, hoje eles estão inseridos em todos os segmentos, inclusive escolas, por sua capacidade estratégica de incorporar competitividade a produtos e serviços.

Jornal Folha de S. Paulo, 22/11/2022