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Guildas bem remuneradas

 
O grupo “Prerrogativas”, formado na maioria por advogados criminalistas, considera-se dono da verdade jurídica, e acha os que pensam de maneira diferente incapazes de defender seus pontos de vista sem interesses escusos, pois são eles os únicos que defendem o Estado de Direito democrático, enquanto os demais são meros golpistas. Incluídos aí até mesmo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como o relator da Lava-Jato no Supremo Edson Fachin.
 
Já o acusaram de estar preparando um “golpe jurídico” caso o plenário do STF decida que o julgamento da 2ª Turma que declarou suspeito o ex-juiz Sérgio Moro não foi válido porque, como Fachin decidiu, havia perdido o objeto com a determinação de considerar Curitiba incompetente para tratar dos processos do ex-presidente Lula não ligados diretamente à Petrobras.

Qualquer decisão do STF que não obedeça aos ditames do grupo “Prerrogativas” estará eivada de suspeição, pois eles querem, não apenas a reserva de mercado dos processos da Lava-Jato, como a reserva de crítica às ações jurídicas. Para eles, só quem tem formação jurídica pode comentar processos e decisões judiciais se for para criticá-los. Para elogia-los, os jornalistas anti Lava-Jato estão liberados e aplaudidos.

Estranhamente, dois desses advogados fizeram comentários públicos no Instagram sugerindo que eu poderia necessitar de um advogado criminalista. Em uma nova nota, publicada em sites jornalísticos de esquerda, voltaram a se referir à possibilidade de que venha a precisar de defesa de um criminalista. A torpeza dessas insinuações mostra bem de quem estamos falando: advogados que ameaçam agir criminalmente contra a liberdade de expressão. Será que usarão a Lei de Segurança Nacional?

Tentando me desqualificar, alegam que não tenho formação jurídica para fazer críticas às pressões que exercem sobre o STF. Esquecem-se que jornalistas, em nenhum lugar do mundo, precisam ser médicos para tratar de questões da Medicina, nem jogar bola para comentar os campeonatos de futebol.

Ainda bem que a maioria dos juristas e advogados está fora dessas guildas que defendem seus próprios interesses, políticos e financeiros, como se estivessem defendendo a democracia. Esses juristas independentes, em diversas posições no mundo jurídico, inclusive nos tribunais superiores, ajudam a basear tecnicamente meus comentários, fundados na credibilidade que firmei na experiência de mais de 50 anos de jornalismo acompanhando julgamentos do Supremo, assim como as atividades no Executivo e no Legislativo.

O Globo, 13/04/2021