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De fome, basta!

 

Estarrecedor! Um país que alimenta mais de um bilhão de habitantes no mundo, tem parte dos seus filhos compondo um contingente de mais de 33 milhões de famintos. Um país que é um celeiro mundial do agronegócio tem em todas as suas cinco regiões geográficas índices alarmantes de habitantes com insegurança alimentar. Um país que é um dos maiores produtores de soja, milho, café, carne bovina, suína e de frango, líder das comodities agrícolas permite que a fome alcance índice estratosféricos e em escala ascendente. É muito grave. São pessoas que não tem o que comer.

Vale destacar que são estas mesmas comodities agrícolas e também as comodities metálicas que são responsáveis pelos superávits das nossas balanças de pagamentos.

Comodities que garantem e assumem todos os desaforos que o Brasil atravessa. Desde o inicio deste século XXI. Desde o início da primeira década até os dias atuais, sustentando todos os desmantelos políticos, econômicos e sociais de todos os governos. É a nossa economia agrícola que vem aguentando os mensalões, os petrolões, os Lava jato e todos os devaneios que vivemos até agora e por último, ao chegarmos ao mais que indecente orçamento secreto, depois de todos os pedágios brasilienses com seus diversos apelidos, vulgos, alcunhas, com nomes e sobrenomes. São escândalos inimagináveis. Uma tragedia. Sem precedentes.

O que vivemos, de fato, é uma insegurança alimentar com mais de 33 milhões de pessoas distribuídas por todo Brasil conforme estudos recentes realizados pela Oxfam, instituição credenciada pela ONU - Organização das Nações Unidas que indicam que o Norte lidera com 25, 7% ou 4, 8 milhões de famílias; o Nordeste 21% ou 12 milhões; o Sudeste

13% ou 11, 7 milhões; Centro-Oeste 12, 9% ou 2 milhões e o Sul 9, 9% ou 3 milhões de famílias. A média nacional é de 15% de famiílias. Estas famílias são comandadas por mulheres, 64% e por homens, 46%, . Por negros/pardos, 65% e 43, 8%, por brancos. Quem não leu 'Geografia da Fome' do conterrâneo Josué de Castro não precisa fazê-lo. Convive com este flagelo. Um horror!

Entre 2020/2022 a fome dobrou no Brasil nas famílias com criança até 10 anos de idade. Mais da metade da população brasileira, ou seja, 58, 72% convive com a insegurança alimentar de alguma forma. Seja leve. moderada ou grave segundo o mesmo estudo. São pratos vazios.

O Brasil retrocedeu a década de 1990 após a Covid-19, com o aumento de miséria e de pobreza em todo o território nacional. Neste ano de 2022, de cada 10 domicílios, apenas 4 lares conseguem condições de plena alimentação. A fome só desaparece naquelas famílias quando cada um dos seus mem

bros tem renda mensal igual ou superior a um salário mínimo. Isto é, 41, 3% de nossa população. É bom salientar a insegurança hídrica. Há falta de água além da insegurança alimentar para 12% da população brasileira. Acumulou-se as carências regionais sobretudo no Norte (48, 3%), Sudeste (43, 0%); (41, 8) no Centro Oeste e (41, 2%) no Nordeste.

O que falta no Brasil, é o sentimento da dignidade. A partir da dignidade do emprego. Da educação. Da saúde. Da moradia. Do respeito. Ainda que em outra dimensão, reporto-me âàquele sentimento que a judia Branca Dias retratada por Arnaldo Niskier no seu livro 'O Martírio' quando ela sofre, em momentos extremos da perseguição da Inquisição, e que exclama: 'Há um mínimo de dignidade de queo homem não pode negociar, nem mesmo em troca da liberdade. Nem mesmo em troca do sol'.

Triste Brasil. Não merecíamos! Teriamos de mudar. Renovar.

Folha de Pernambuco , 27/09/2022