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CPI vai criar um fardo difícil para Bolsonaro

 

O centrão está ligado ao governo e enquanto ele se sustentar, irão sugar tudo o que podem. Esse é o comportamento histórico do grupo. A ponderação do presidente da Câmara, Artur Lira, na entrevista ao Globo, de que enquanto houver crescimento econômico não há clima para impeachment, corresponde a essa visão. Mas no momento em que o crescimento econômico não se confirmar, abandonam Bolsonaro, não é segredo para ninguém. Artur Lira está defendendo seus interesses, quer que o governo permaneça. Acho difícil que ele coloque em votação algum tipo de pedido de impeachment. Mas, no meio da campanha, se Bolsonaro não estiver competitivo, pularão para outra canoa, provavelmente do Lula, onde já estiveram e sabem que terão espaços para explorar fisiologicamente seus estados.
É realmente difícil derrubar um presidente com a economia forte. O próprio Lula se salvou em 2006, depois da denuncia do mensalão, porque a economia estava crescendo. Artur Lira pode ter razão quando diz que nada vai acontecer, porque Bolsonaro não vai ser impedido por causa da CPI, o Tribunal Internacional vai receber a denúncia de que houve uma política que levou à morte de 500 mil pessoas, e só. Mas a CPI vai criar um fato político importante, porque está muito claro o que aconteceu no Brasil. Vai ser um fardo para Bolsonaro, porque já se sabe que ele atrasou a compra das vacinas, não incentivou lockdown e distanciamento social porque acreditava na imunidade de rebanho e que existe um gabinete paralelo que leva informações fora das diretrizes internacionais. As 500 mil mortes não podem deixar de abalar parte dos seus apoiadores. A parte que não é fanática está em dúvida, decepcionada com o que está acontecendo. E tudo desaguará numa campanha muito violenta o ano que vem.
Em seu depoimento à CPI, o deputado Osmar Terra chega ser engraçado. Nega qualquer influência no governo, não conhece ninguém, nunca teve reunião.  Até a imunidade de rebanho que ele defendeu vigorosamente, e tudo indica, levou o presidente a defender, ele renega, mesmo diante de vídeos.

O Globo, 22/06/2021